Mercado local segue repercutindo a reoneração parcial da gasolina e do etanol

Haddad afirmou que a decisão é um dos passos para o início do corte da taxa básica de juros

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Por: Patricia Lara

O mercado local segue repercutindo a reoneração parcial da gasolina e do etanol anunciada ontem pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que afirmou que a decisão é um dos passos endereçados pelo Banco Central para o início do corte da taxa básica de juros. As iniciativas vinculadas a um corte de juros geraram desconforto na véspera, enquanto algumas casas já revisam em baixa a projeção de inflação. As mudanças anunciadas ontem devem seguir ecoando na Petrobras, que divulga balanço após o fechamento do mercado hoje em meio a atenções voltadas para sua política de dividendos. No exterior, dados sobre atividade da China acima das expectativas alimentam o otimismo e impulsionaram a cotação do minério de ferro e de moedas de países exportadores de commodities.

No fim do dia de ontem, Haddad informou que a reoneração da gasolina, a partir de hoje, será de R$0,47, com efeito líquido de R$0,34, incluindo a redução de preços promovida ontem pela Petrobras. A reoneração do etanol será de R$0,02. Diesel segue desonerado até o fim do ano, conforme previsto em Medida Provisória assinada no dia 1º de janeiro. A retomada da tributação da gasolina e do etanol será via MP, que incluirá a taxação de 9,2% da exportação de petróleo cru. Com a volta dos tributos e o imposto de exportação, a Fazenda busca garantir arrecadação de R$28,8 bilhões. Mas a conta parece otimista, segundo o consultor Adriano Pires, especialista em energia do Centro Brasileiro de Infraestrutura e Energia (CBIE), citado em matéria da Folha.

As ações da Petrobras e de petroleiras menores, independentes, conhecidas como “junior oils”, despencaram na bolsa ontem, em meio ao anúncio do imposto sobre exportação de petróleo bruto. Para o consultor Pedro Rodrigues, sócio do CBIE, a sinalização de que o imposto será temporário, porém, é positiva, uma vez que uma taxação permanente poderia até afastar investimentos no setor de forma geral.

Hoje, a Petrobras divulga balanço, com atenção sobre os dividendos. Reações a resultados da Suzano e da BRF também devem pautar o rumo da bolsa doméstica.

No exterior, prevalece o otimismo com a China. O índice Caixin dos gerentes de compra do setor manufatureiro, divulgado na madrugada, subiu para 51,6 pontos em fevereiro, o maior patamar desde maio de 2021, ante 49,2 pontos no mês anterior e acima do consenso de 50,2 pontos. Embalado pelo dado, o minério de ferro fechou em alta de 2,42%, a 908,50 iuanes ,o equivalente a US$131,64 por tonelada, na Bolsa chinesa de Dalian. A Bolsa de Hong Kong saltou 4,21%.

Já as bolsas europeias e os futuros de Nova York têm altas moderadas.

No câmbio, o dólar australiano, uma das moedas favorecidas pela valorização de commodities, avança em relação ao dólar americano, que também cede ante a maioria das divisas dos 10 países mais desenvolvidos, o G-10.

O petróleo Brent, porém, retoma queda na cotação mesmo com o dado positivo da China, ainda que siga acima de US$83,00 o barril. A agenda do dia traz a divulgação dos estoques de petróleo nos Estados Unidos, que têm sido monitorados com mais atenção diante da preocupação sobre o impacto de uma alta maior da taxa de juros no país na demanda dos americanos.

Ainda na agenda de hoje, serão divulgados os índices PMI da S&P Global e ISM de Gerentes de Compras Industrial de fevereiro, além de gastos com construção de janeiro, nos EUA.

Outro ponto importante do dia será o índice de preços ao consumidor na Alemanha, após indicadores divulgados ontem mostrarem que a inflação voltou a acelerar em outros países da Zona do Euro, o que alimentou o receio sobre o patamar de aumento da taxa de juros na região.

MERCADOS GLOBAIS

O futuro do petróleo Brent para entrega em maio cedia 0,42%, a US$83,10 o barril.

O Bitcoin era cotado em alta de 1,93% nas últimas 24 horas, a US$23.724,40; o Ethereum subia 1,90% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, recuava 0,11% no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 devem seguir sustentados pelo desconforto dos investidores com a reoneração apenas parcial dos impostos sobre os combustíveis, que pode dificultar a redução do rombo das contas públicas em 2023, ainda que alivie projeções de inflação.

DESTAQUES

Em coletiva ontem, Haddad voltou a criticar o patamar elevado da taxa de juros, argumentando que ela impede o crescimento econômico do país. Mas disse que medidas como as anunciadas pela pasta auxiliarão na melhora das contas públicas e culminarão no início do ciclo de queda dos juros. “As taxas de juros no Brasil estão produzindo muitos malefícios”, afirmou. “Estamos dando uma resposta para o setor produtivo de que o governo vai fazer sua parte, esperando que a autoridade monetária reaja da maneira como previsto nas atas do Banco Central”, declarou. (Mover)

A XP revisou em baixa a estimativa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, de 2023 de 5,7% para 5,5%, considerando a volta apenas parcial da tributação, mas incorporando a queda no preço do combustível pela Petrobras no cenário base de inflação. Anteriormente, a casa considerava a volta da tributação integral. (Mover)

Na véspera, os contratos futuros de juros aceleraram a alta no pós-mercado, reagindo ao anúncio da reoneração apenas parcial dos combustíveis. O dólar futuro também acelerou alta. A reação expressa o desconforto com o discurso adotado pelo ministro, que vinculou a medida a um corte de juros pelo Banco Central, disseram fontes. (Mover)

Como consequência da taxação de exportação de petróleo cru, as ações ordinárias da PRIO e da 3R Petroleum, maiores empresas privadas de óleo e gás da Bolsa brasileira, encerraram ontem na mínima intradiária. (Mover)

O perfil da dívida pública federal trouxe sinais de deterioração no primeiro mês do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda que o endividamento tenha recuado 3,07% em janeiro na comparação mensal para R$5,768 trilhões, segundo dados reportados pelo Tesouro Nacional nessa terça-feira. (Mover)

A Suzano reportou avanços no lucro líquido e no resultado operacional do quarto trimestre de 2022 na comparação com mesmo período de 2021, fechando o ano com um avanço histórico em meio à valorização de preços do papel e da celulose e com efeitos da valorização cambial sobre a dívida. A produtora de celulose também elevou sua projeção de desembolsos operacionais totais até 2027 para R$1.750 por tonelada, contra a projeção anterior de R$1.500 por tonelada, com perspectiva de aumento da inflação e de maiores gastos com atividades florestais. (Mover)

A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, ampliou prejuízo líquido no quarto trimestre e viu seu lucro operacional medido pelo EBITDA ajustado ficar abaixo das expectativas do mercado, refletindo o impacto da hiperinflação na Turquia, o resultado financeiro negativo e uma perda referente a um acordo de leniência com a Justiça brasileira. (Mover)

Alguns dados regionais de inflação da Alemanha já foram divulgados nesta manhã antes do dado nacional. O CPI no estado da Renânia do Norte-Vestfália acelerou para uma alta anual de 8,5% em fevereiro, de 8,3% no mês anterior. A taxa de desemprego de fevereiro no país ficou em 5,5%, em linha com o consenso. (Agências)

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos decidiu suspender a participação das vinícolas Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi em feiras, missões comerciais e eventos promocionais até que as investigações que apuram trabalho escravo em Bento Gonçalves (RS) sejam concluídas. As vinícolas dizem que repudiam violações de direitos humanos e que não tinham conhecimento da situação. (Folha)

AGENDA

Balanços (Brasil) – A Metalúrgica Gerdau e a Gerdau publicarão o resultado do quarto trimestre de 2022 antes da abertura dos mercados brasileiros.

PMI (Brasil) – A S&P Global divulgará o Índice de Gerentes de Compras Industrial de fevereiro. Divulgação:10h00. Anterior: 47,5 pontos. Consenso: 46 pontos.

CPI (Alemanha) – O Escritório Federal de Estatística alemão divulgará o Índice de Preços ao Consumidor de fevereiro. Divulgação: 10h00. Anterior: 1,0%. Consenso: 0,8%.

PMI (EUA) – A S&P Global divulgará o Índice de Gerentes de Compras Industrial de fevereiro. Divulgação: 11h45. Anterior: 46,8 pontos. Consenso: 47,8 pontos.

PMI ISM (EUA) – O Instituto para Gestão da Oferta americano divulgará o Índice de Gerentes de Compras Manufatura de fevereiro. Divulgação: 12h00. Anterior: 47,4 pontos. Consenso: 48 pontos.

Construção (EUA) – A S&P Global publicará a variação de gastos com construção de janeiro. Divulgação: 12h00. Anterior: -0,4%. Consenso: 0,2%.

Estoques de petróleo (EUA) – A Agência de Informações de Energia publicará a variação semanal de estoques de petróleo bruto e derivados. Divulgação: 12h30.

Fluxo Cambial (Brasil) – O Banco Central brasileiro publicará os dados de fluxo cambial semanal. Divulgação: 14h30. Anterior: US$5,19 bilhões.

Balança (Brasil) – O governo federal divulgará a Balança Comercial preliminar de fevereiro. Divulgação: 15h00. Anterior: US$2,717 bilhões. Consenso: US$3,249 bilhões.

Balanços (Brasil) – A PRIO, a Petrobras, a C&A, a Enauta e a Marfrig publicarão os resultados financeiros do quarto trimestre após o fechamento dos mercados brasileiros.