O comunicador e empresário Silvio Santos, que faleceu neste sábado aos 93 anos, chegou se aventurar na bolsa de valores, com uma oferta inicial de ações do Banco PanAmericano em 2007– o prospecto distribuído a investidores citava 12 vezes Senor Abravanel, o verdadeiro nome da lenda da televisão brasileira, e colocava a associação a ele como um ativo importante.
A agência de classificação de risco Fitch Ratings, inclusive, concordava com essa visão. “A Fith considera positivo o comprometimento do acionista controlador, Senor Abravanel (cujo nome artístico é Silvio Santos) com o grupo”, aponta um relatório incluído nos materiais do IPO, que na época levantou R$680 milhões.
Fundado em 1963 e adquirido pelo Grupo Silvio Santos em 1969, como expansão de negócios financeiros do empresário que incluíram os títulos de capitalização, a famosa Tele Sena, o banco PanAmericano foi à bolsa naqueles tempos para buscar recursos para sair do nível de “banco pequeno para ser médio ou médio grande”, como disse um diretor à revista Exame.
Em uma oferta que teve UBS Pactual como coordenador líder, e atuação de Bradesco BBI e Itaú BBA, o PanAmericano fixou o preço das ações em R$10 cada, abaixo do itnervalo sugerido pelos bancos, de entre R$12,50 e R$15.
A operação aconteceu em meio a uma série de listagens de bancos pequenos e médios, como ABC Brasil, Daycoval e outros, mas acabou impactada pela ´crise do subprime´ nos Estados Unidos — evento que ficou conhecido como uma prévia da grande crise posterior, de 2008, com a quebra do Lehman Brothers.
As sinergias com o Grupo Silvio Santos eram exploradas no material de comunicação com investidores — “além de agregar valor institucional ao nosso negócio, propicia valiosas oportunidades, tais como a divulgação de nossos produtos e serviços em todo território nacional através do SBT, que é a segunda maior rede de televisão aberta do Brasil em audiência”.
“Acreditamos que o nome, reputação, credibilidade e história de sucesso do Grupo Silvio Santos contribuem para uma percepção de confiabilidade e qualidade de nossos produtos e serviços, e facilitam, ainda, a captação de recursos e proporcionam um crescimento da base de clientes, contribuindo para o nosso sucesso e o comprometimento de equipe”, apontava o PanAmericano no prospecto.
FRAUDES E ´TRAIÇÃO´
O Banco PanAmericano sobreviveu à crise financeira de 2008, mas quase não sobreviveu a uma fraude descoberta em 2010 pelo Banco Central, e investigada depois pela Polícia Federal. Foi um turbilhão, que levou Silvio Santos a precisar pela primeira vez se envolver de fato de perto nos negócios do banco, para resolver a situação–o que ele fez colocando todo o patrimônio do Grupo Silvio Santos como garantia.
O banco fraudava balanços desde 2006, levando a um rombo de R$2,5 bilhões– sete de 17 executivos acusados pela gestão fraudulenta foram condenados pela Justiça, alguns com prisão, incluindo o diretor Rafael Paladino, que era próximo da família Abravanel e havia cuidado por vinte anos de negócios de Silvios Santos.
Formado em Educação Física e ex-personal trainer, ele é primo de Íris Abravanel, esposa de Silvio, foi convidado pelo empresário e apresentador para ser assessor da área de imóveis do grupo. Depois, crescendo internamente, chegou a ser “mentor” de Patrícia Abravanel, uma das filhas de Silvio, que foi estagiária do PanAmericano, segundo reportagem da Exame.
Anos depois, durante lançamento de um livro, Iris foi questionada sobre o “rombo” no PanAmericano e o primo. “Não cabe perguntar de traição neste dia”, respondeu ela, à Veja São Paulo.
Em meio à crise do PanAmericano, Silvio Santos chegou a se reunir com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O banco foi socorrido pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), com o apresentador colocando todo seu grupo como garantia, incluindo o SBT. O PanAmericano passou a ser adminsitrado por executivos indicados pelo Banco Central e pela Caixa, que pouco antes havia comprado participação na instituição.
Em 2011, Silvio fechou negócio para vender sua parte no banco ao BTG Pactual, de Andre Esteves, que passou a ser sócio da Caixa na operação. A transação livrou o apresentador de ter seus bens em garantia, e a companhia seguiu negócios, passando a operar como Banco Pan.
‘SÓ INVESTIDOR’
Na época da crise, Silvio Santos chegou a dar uma entrevista à Folha de S. Paulo em que se definiu como apenas “investidor” no PanAmericano.
“Palladino? Que Palladino? Nunca fui ao banco. Nem sei onde é o prédio. Quando tenho dinheiro, abro uma empresa no Brasil. Aplico no mercado brasileiro. Mas não sou obrigado a ficar sabendo onde é a empresa. Eu tinha uma fazenda que era a segunda maior do Brasil, a Tamakavi, e nunca fui lá. Nem vi no mapa.
A única coisa com que me preocupo é com a televisão. Eu sou investidor. Se [o negócio] der certo, deu. Se não der certo, não deu. A TV é o meu negócio. Mesmo que não desse certo, é o meu hobby.
Agora, os outros são negócios. Eu não sou obrigado a entender de perfumaria, de banco. Eu não! Isso aí eu boto dinheiro, pago bem os profissionais e eles têm que me dar resultados. E, às vezes, falham. Desta vez, falhou”.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)