Neste texto, nós vamos explorar um pouco acerca dos filtros de Benjamin Graham, um dos pais da análise fundamentalista, para a escolha de empresas. Para um melhor entendimento, separamos o texto nos seguintes tópicos:
- Filosofia de investimentos de Benjamin Graham
- Os filtros para a seleção de uma empresa
- Aplicando os filtros de Graham às empresas brasileiras
- Reflexões para uma boa análise
Boa leitura!
Filosofia de investimento de Benjamin Graham
Primeiramente, Benjamin Graham, é também conhecido como o precursor da estratégia de investimentos conhecida como “buy and hold”, como desdobramento do value investing. Em outras palavras, essas estratégias de investimentos, têm como foco, comprar ações de empresas sólidas, com ótimas perspectivas de geração de fluxos de caixa no futuro e mantê-las em sua carteira de investimentos por um longo período.
Além disso, para o investidor iniciante ou defensivo (que chamamos de conservador) pode seguir dois caminhos:
- Investir em um fundo de índice (ETF), ou mesmo replicar um índice de ações da própria bolsa, como o Ibovespa (BOVA11) ou o Índice de Dividendos (DIVO11); ou
- Aplicar uma bateria de testes (filtros) para se certificar de uma qualidade razoável nos desempenhos passado e presente da empresa, assim como assegurar uma quantidade mínima em termos de lucros e ativos para cada Real pago pela ação.
Quais os 7 filtros de Bejamin Graham para a aquisição de uma ação?
Vejamos abaixo, a metodologia de Graham para filtrar boas empresas e incluí-las em sua carteira de investimentos:
1. Tamanho > US$ 100 milhões:
- a) Mais de US$ 100 milhões de faturamento anual; ou,
- b) Quando concessionária de serviços públicos, mais de US$ 50 milhões.
2. Condição financeira suficientemente forte (veja como interpretar o balanço patrimonial):
- a) Liquidez Corrente ≥ 2 (Ativo circulante deve ter, pelo menos, o dobro do passivo circulante);
- b) Endividamento de longo prazo ≤ capital de giro (ativo circulante – passivo circulante);
- c) Quando concessionária de serviços públicos, a dívida não deve exceder duas vezes o capital social (em valor contábil).
3. Histórico de lucros positivos por, pelo menos, 10 anos.
4. Crescimento de lucros ≥ 1/3 nos últimos 10 anos (usando médias trienais, no início e no fim).
5. Dividendos ininterruptos por, pelo menos, 20 anos.
6.Preço/Lucro ≤ 15 nos últimos 3 anos (lucro médio).
7. Preço/Valor Patrimonial da Ação máximo ≤ 1,5.
- Um P/L < 15 pode justificar um P/VPA > 1,5. Por isso, Graham sugere que o produto da multiplicação P/L x P/VPA ≤ 22,5.
Os filtros de Graham nas empresas brasileiras
Apesar de serem bastante difundidos no Brasil, os filtros de Benjamin Graham foram criados para o mercado dos Estados Unidos, país desenvolvido com cerca de 10x mais a quantidade de empresas que tem na bolsa brasileira.
Nesse sentido, usando esses filtros hoje, da maneira como são formulados, apenas 3 empresas passariam pelos filtros: Döhler (têxtil), Ferbasa (siderurgia e metalurgia) e Grazziotin (consumo e varejo).
Os dados utilizados são de 2019 (não consideram o período da COVID-19).
Entretanto, é importante lembrar que, todo e qualquer filtro, ou indicador pode e deve se ajustar ao interesse do investidor (não entenda como manipulado, mas os valores-padrão e períodos podem ser flexibilizados).
A bolsa brasileira é mais jovem, além disso, é difícil uma empresa ter 10 anos de lucros positivos e ininterruptos. Também são poucas as empresas que pagaram dividendos de forma ininterrupta por 20 anos.
Por isso, fiz uma flexibilização como exemplo para a utilização desses filtros, visando a escolha de empresas sólidas para Buy and Hold:
- Relaxei a Liquidez Corrente (permitindo empresas com LC < 2)
- Reduzi o período de lucros e de dividendos ininterruptos para 5 anos e
- Aumentei os limites do P/L ≤ 20 e do P/VPA ≤ 3.
Dessa forma, cinco outras empresas passaram nos filtros:
- Grendene
- Itaúsa
- M. Dias Branco
- Metal Leve
- Transmissão Paulista
Demonstro abaixo a relação completa, com essas empresas incluídas.
Reflexões para uma boa análise fundamentalista
Em suma, relembro que os filtros de Benjamin Graham compõem um método para encontrar empresas interessantes. Depois disso, cabe ao investidor analisar cada uma e escolher a que mais lhe interessa.
E, antes que alguém pergunte: por que empresas sólidas como Itaú, Bradesco, Vale etc não estão aí?
Simplesmente porque não passaram em algum dos filtros, como PL < 20 ou P/VPA < 3, por exemplo. Mas isso não quer dizer que sejam empresas ruins! O objetivo é que o exemplo sirva para lhes ajudar em suas análises.
Por último, veja mais sobre a filosofia de investimentos de Graham em seus livros: O Investidor Inteligente, Security Analysis e A Interpretação das Demonstrações Financeiras.