Permanente polarização marca discurso de Lula em evento dos 100 primeiros dias de governo

Lula também lembrou da destruição dos prédios da Praça dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro

Agência Brasil
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Por: Stéfanie Rigamonti

Boa parte do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no evento de balanço dos 100 primeiros dias de governo, nesta segunda-feira, foi marcado por ataques à gestão anterior, com o petista ainda mantendo os olhos fixos para o retrovisor.

As fortes críticas deixam patente o permanente clima de polarização no país, que afetam inclusive a popularidade do presidente neste período que costuma ser conhecido como lua de mel entre governo e sociedade. Segundo pesquisa recente do Datafolha, a aprovação de Lula em três meses de gestão foi a menor já registrada para o início de suas passagens pelo Palácio do Planalto. O petista chegou aos 90 dias de mandato com aprovação de 38%, enquanto em 2003 ele tinha 43% e em 2007, 48%.

No início de um longo discurso que durou pouco mais de uma hora no Palácio do Planalto, Lula aproveitou para lembrar de seu primeiro mandato, quando recebeu o comando da Presidência da República “das mãos de um democrata”. O petista se referiu ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como um “companheiro que tinha uma história de luta neste país pela democracia e pelos direitos humanos”.

Os elogios ao FHC se contrapuseram às criticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que, segundo Lula, não tem as “marcas da civilidade” que Fernando Henrique Cardoso tinha.

Lula também lembrou da destruição dos prédios da Praça dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro, para evocar uma unidade institucional. “A sociedade viu depois de muito tempo as instituições brasileiras se juntarem para defender a democracia” declarou.

O presidente classificou o que aconteceu no dia 8 de janeiro como uma tentativa de golpe “feita por um grupo de reacionários, de facistas e de extrema direita, que não queria deixar o poder e que não queria acatar o resultado eleitoral”. Sem citar o nome de Bolsonaro, Lula ainda disse que nunca se gastou tanto usando a máquina pública durante uma campanha eleitoral como fez “esse cidadão, na perspectiva de perpetuar o facismo neste país”.

Depois desse primeiro momento de duras críticas, ao longo de seu discurso, ao citar as ações de cada ministério até aqui, Lula buscou mostrar que o governo esteve o tempo todo comprometido em reverter os erros da gestão anterior.

Ao falar dos compromissos do Brasil com a sustentabilidade, por exemplo, questão essa que tem sido duramente criticada neste início de governo pela falta de cumprimento de promessas, Lula disse que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), teve um trabalho árduo nesses primeiros 100 dias recuperando o que foi negligenciado. E reafirmou compromisso com o desmatamento zero da Amazônia até 2030, ainda que tenha confessado achar difícil alcançar essa meta.

Com os olhos ainda no passado, Lula não apresentou nada de concreto do que será feito nos próximos meses. Apenas indicou os segmentos que devem ser prioritários para receber investimentos públicos: transportes, infraestrutura social, infraestrutura urbana, inclusão digital, saneamento e transição energética. O presidente, contudo, não citou fontes de recursos, não apresentou cronogramas, nem prazos ou metas críveis. Resta agora esperar para ver se o governo engrena e começa a entregar todas as promessas de campanha.