São Paulo, 6/11/2024 – O Brasil tende a ser menos impactado que outros emergentes no caso de eventual imposição de tarifas de importação sobre produtos estrangeiros pelo próximo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dado que a produção local para exportação se baseia majoritariamente em commodities, avaliou o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em entrevista à TC News nesta quarta-feira.
“As medidas propostas pelo Trump, de tarifa na importação, vão tornar mais caro para consumidores americanos produtos importados. Isso terá efeito inflacionário para os EUA. Acho que o Brasil é menos afetado que países asiáticos, que exportam produtos industrializados, na medida que exportações (no Brasil) são mais voltadas para commodities em geral, não só para os EUA”, afirmou Meirelles, durante o programa Tarde TC News.
Questionado sobre a trajetória da política monetária brasileira, Meirelles pontuou que o aperto a ser exercido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) dependerá de variáveis relevantes, como as medidas fiscais em avaliação no governo e o câmbio.
“Vai depender de fatores que atingem a inflação. Será um pacote fiscal efetivo ou não? Outro dado é essa questão da cotação do dólar, vai depender muito de como vai se conduzir no primeiro ano de governo de Donald Trump.”
Meirelles pontuou, no entanto, crer que o Banco Central atuará de forma “técnica” sob comando de Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária da autarquia, que assumirá o posto de presidente da autoridade monetária a partir de janeiro de 2025.
O ex-BC disse ter “expectativa positiva” sobre Galípolo à frente da autarquia. Elogiou, também, a autonomia da instituição, adquirida em 2021, e disse ter uma avaliação de ´saldo positivo´ sobre a gestão de Roberto Campos Neto.
FISCAL
Segundo Meirelles, não há “número mágico” quando se fala na magnitude do corte de gastos a ser implementado pelo governo.
“Não existe valor ideal. Quanto mais, melhor. Já existe aquele valor anunciado de R$25 bilhões lá atrás. O que vier em adição a isso será positivo. Quanto mais, melhor. Temos um pacote que vai depender da negociação com presidente da República, demais ministros.”
Também segundo ele, o controle das despesas é essencial quando se trata da sustentabilidade do arcabouço fiscal, de forma a comportá-las. No futuro, segundo ele, uma reforma administrativa seria o ideal como forma de controle dos gastos da máquina pública, embora essa pauta esteja fora do radar no momento, em sua visão.
Questionado sobre a atuação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Meirelles pontuou que o titular da pasta tem “ido bem” ao fazer o trabalho de levar propostas de estabilização da dívida pública ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“O importante é que medidas corretas sejam adotadas pelo governo.”
*** Entrevista realizada ao vivo pelo programa Tarde TC News, na TC News, TV online dedicada a mercados da TC Investimentos ***