Senador acusa ex-deputado Daniel Silveira de propor gravar ministro Alexandre de Moraes

Depois de dar entrevistas conflitantes, senador avalia se afastar da política

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por: Beatriz Lauerti

O senador Marcos do Val, do Podemos, disse que deve se afastar da política e de seu mandato, motivado por uma sugestão recebida por ele sobre um golpe de Estado, proposta que teria sido realizada pelo ex-deputado Daniel Silveira.

O anúncio foi publicado em suas redes sociais. O senador foi eleito em 2018 para um mandato de 8 anos, que terminaria em 2026.

Marcos do Val afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria presenciado uma conversa na qual Silveira fez a proposta golpista, sugerindo gravar sem autorização alguma conversa que fosse comprometedora para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF Alexandre de Moraes, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O senador pelo estado do Espírito Santo disse que denunciou o ocorrido ao próprio ministro Alexandre de Moraes. Do Val pretende retornar para sua carreira nos Estados Unidos em breve, segundo postagem feita por ele em sua rede social.

O cargo deverá ser assumido pela suplente do parlamentar, Rosana Foerst, caso a renúncia se concretize.

Entretanto, algumas horas depois, Marcos do Val afirmou ao jornal Folha de São Paulo que sua decisão de se afastar ou não da política ainda não está concretizada.

O senador reiterou que não houve tentativa de coerção, apenas uma conversa na qual Silveira fez sugestões para tentar incriminar Moraes por “interferir no processo eleitoral”, de acordo com informações fornecidas por do Val à revista Veja, para que, dessa forma, o ministro fosse preso e a posse de Lula, evitada.

Ainda, em coletiva concedida em seu gabinete, o senador admitiu estar de “cabeça quente” quando comentou o caso inicialmente.

Prisão de Daniel Silveira

Daniel Silveira foi preso na manhã desta quinta-feira, em cumprimento à determinação de Moraes diante da não utilização de tornozeleira eletrônica e do não afastamento das redes sociais pelo ex-parlamentar, disposições obrigatórias por medidas cautelares determinadas anteriormente pelo STF.

Silveira não conseguiu se reeleger nas eleições do ano passado, e com o fim de seu mandato neste ano, perdeu o foro privilegiado, apesar de sua pena ter sido perdoada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que na época ainda estava no cargo.

O ex-deputado foi condenado no ano passado por atacar as instituições nacionais e estimular atos antidemocráticos.

Depoimento de Valdemar Costa Neto

A denúncia feita por Marcos do Val estourou  na data em que o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, deve depor na Polícia Federal sobre a existência de documentos golpistas semelhantes aos encontrados na casa do ex-ministro Anderson Torres. O ex-presidente Jair Bolsonaro já foi vinculado ao partido.

O depoimento de Costa Neto marcado para esta quinta-feira e a busca realizada na casa de Torres fazem parte do desenrolar de um inquérito instaurado pela Polícia Federal para investigar os atos golpistas ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro.

Anderson Torres está preso preventivamente desde 14 de janeiro, por omissão e conivência em relação aos ataques na capital nacional, e também pela posse de um documento que menciona a instituição do Estado de Defesa no TSE por Bolsonaro. O material foi encontrado na casa do ex-ministro pela Polícia Federal, ao executar mandado de busca e apreensão.

Moraes entra em cena

Na sequência das declarações conflitantes de Marcos do Val, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes deu cinco dias para a Polícia Federal ouvir o senador em um inquérito que investiga o ex-presidente Jair Bolsonaro. A investigação tem relação com os ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.

Moraes disse, em despacho, que a acusação de do Val “deve ser esclarecida no contexto mais amplo desta investigação, notadamente no que diz respeito a eventual intenção golpista”, acrescentando que isso pode caracterizar os crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Segundo as denúncias de do Val noticiadas pela revista Veja, Bolsonaro teria solicitado ao senador que gravasse uma conversa com Moraes na intenção de flagrar o ministro em alguma inconfidência para que as falas pudessem ser usadas como motivo para anular as eleições vencidas por Lula e decretar um golpe de Estado.

De acordo com o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede), Marcos do Val será convocado para depor ao Conselho de Ética.

(Colaboração de Patrícia Vilas Boas)