Presidente aumenta pressão sobre Ibama

Lula volta a defender Petrobras na Foz do Amazonas: não vamos fazer loucura ambiental, mas vamos explorar

Lula volta a defender Petrobras na Foz do Amazonas: não vamos fazer loucura ambiental, mas vamos explorar
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São Paulo, 13/02/2025 – O presidente Lula fez o mais contundente discurso em defesa da exploração da Margem Equatorial pela Petrobras nesta quinta-feira, em evento com autoridades no Amapá, voltando pelo segundo dia a cobrar indiretamente do Ibama a liberação de licença ambiental para perfurações na região.

Ao lado de políticos do Amapá, como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e sob olhar de aprovação do chefe da pasta de Minas e Energia, Alexandre Silveira, também apoiador da causa, Lula apontou para o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e disse que ele trabalha pela obtenção das licenças.

“Esse moço aqui (Rui Costa) tem a incumbência de a gente acertar com o Ibama. Que a gente não vai fazer nenhuma loucura. A Petrobras é a empresa que tem mais tecnologia de prospecção do mundo em águas profundas. Não quero estragar um metro de coisas aqui, mas ninguém vai proibir a gente de pesquisar para saber o tamanho da riqueza que temos”, afirmou.

Na véspera, em entrevista a uma rádio, Lula havia dito que é preciso acabar com a “lenga lenga” no processo de autorização à Petrobras, e que o Ibama “é um órgão do governo que às vezes parece contra o governo”.

Ontem, Lula disse que o governo realizará uma reunião nesta semana ou na próxima para discutir o licenciamento com o Ibama. Segundo notícias na imprensa, estaria em avaliação a substituição do presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, visto como próximo da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

“Nós vamos trabalhar muito, e quero que o governador saiba, e os senadores saibam, que a gente não vai fazer nenhuma loucura ambiental, mas temos que estudar. A gente tem que assumir compromisso que vamos ser muito responsáveis, que vai cuidar com carinho, não quer poluir um metro de água, um milímetro de água”, acrescentou Lula no discurso hoje.

“Ninguém tem mais responsabilidade climática do que eu. Eu quero preservar, mas eu não posso deixar uma riqueza que a gente não sabe nem se tem e quanto é, a 2 mil quilômetros de profundidade, enquanto Suriname e Guiana estão ficando ricos às custas do petróleo que está a 50 quilômetros de nós.

COP
Ao falar da Foz do Amazonas, Lula lembrou que alguns criticam a possível liberação da exploração de petróleo na região com o argumento de que a medida seria contraditória com o discurso ambiental do Brasil, que sediará em novembro conferência climática COP-30 em Belém, no Pará.

“Tem gente que fala, ´presidente, vai ter a COP aqui, vai ser muito ruim´ (aprovar a licença perto do evento)”, comentou Lula. “Vê se os Estados Unidos estão preocupados, se a França, Alemanha, Inglaterra estão preocupados. Não, eles exploram o quanto puder”, alfinetou, lembrando, sem citar nomes que empresas desses países têm produzido petróleo em áreas vizinhas similares à costa da Foz do Amazonas.

A inglesa BP tem contrato para comercializar petróleo da Guiana, enquanto a francesa TotalEnergies tem investido no Suriname.

“Então só nós que vamos comer pão com água? Não, a gente também gosta de pão com mortadela, também gosta de coisa boa”, afirmou Lula, em provocação a ambientalistas estrangeiros contrários à exploração.

Mais cedo, ao iniciar a fala em defesa da atuação da Petrobras na costa do Amapá, Lula disse ser “favorável” a que combustíveis fósseis não sejam mais usados no futuro, mas acrescentou que “esse dia ainda está longe”, e defendeu o petróleo como gerador de riqueza para o Estado da região Norte.

DEJÁ VU
Não é o primeiro embate de Lula com a área ambiental. Em seus primeiros mandatos, houve pressão pela liberação de licenças para as hidrelétricas de Jirau e Belo Monte, em episódios que na época culminaram com a saída de Marina Silva da pasta de Meio Ambiente, e depois com o processo de autorização de Belo Monte– com dois presidentes do Ibama sendo substituídos antes do aval para o projeto.

Naquele tempo, Lula teria tido uma reunião “muito dura’ com Marina e a direção do Ibama cobrando solução para os entraves ambientais das hidrelétricas, nas quais teria se queixado particularmente de exigências quanto ao impacto dos projetos sobre bagres. “Agora não pode por causa do bagre, jogaram o bagre no colo do presidente. O que eu tenho com isso?”, teria dito o presidente, segundo relato do jornal O Estado de S. Paulo na época.