Por Marcio Aith
O presidente Lula atacou duramente o bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann, tomando partido no conflito privado decorrente do rombo contábil de R$ 20 bilhões de reais na rede de varejo Americanas. Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles são os acionistas de referência das Americanas. “Aí não é nem pedalada, é motociata. Eu acho que a gente é pequeno, a gente aprende que nada como um dia atrás do outro”, disse Lula. “Esse Lemann era vendido como o suprassumo do empresário bem-sucedido no planeta Terra. Ele era o cara que financiava jovens para estudarem em Harvard para formar um novo governo. Era um cara que falava contra a corrupção todo dia. E depois ele comete uma fraude que pode chegar a R$ 40 bilhões.”, disse ele em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar.
O presidente Lula foi mais longe. Comparou Lemann ao empresário Eike Batista, ex-bilionário e ex-presidiário da Lavajato, e citou o caso das Americanas para dizer que todos reclamam de qualquer suposta fraude no setor público, mas toleram os escândalos privados. “O que eu fico chateado, qualquer palavra que você fale na área social, qualquer palavra que você fale: ‘vou aumentar o salário mínimo em R$ 0,10′, ‘vamos recorrigir o Imposto de Renda’, ‘precisamos melhorar (a vida dos pobres)’, o mercado fica muito nervoso, o mercado fica muito irritado”, afirmou.
A fala de Lula tem muitos significados. O primeiro deles: o presidente toma partido dos bancos na briga entre eles e os três acionistas. Em especial, fica ao lado do BTG (que cresceu sob a sua Presidência) e do Bradesco. Depois, chama Lemann de fraudador antes sequer de haver um processo criminal constituído.
A ira de Lula pode ter uma outra razão: ranço político. Dos 3G, como são conhecidos os três acionistas das Americanas, Beto Sicupira é o que mais se envolveu em programas de apoio a redes públicas de ensino e segurança pública. Raros eram os governadores petistas que pediam a ajuda (que não é financeira). Raros eram os petistas a quem ofereciam ajuda. Entre os governadores que mais aceitaram a ajuda técnica está o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Sicupira frequentava muito o Palácio dos Bandeirantes. Como se sabe, Alckmin é hoje vice-Presidente da República.
Na sexta-feira, a Ambev emitiu uma nota negando as acusações e classificando-as como “falsas, oportunistas e irresponsáveis”. “As acusações da CervBrasil não têm qualquer embasamento. Calculamos todos os nossos créditos tributários com base na lei”, disse a companhia.
“Nossas demonstrações financeiras estão de acordo com as regras jurídicas e contábeis, com ampla transparência sobre os litígios tributários envolvendo a companhia”, completou a empresa de bebidas, justificando que o caso seria de certos litígios tributários em que a companhia diverge da interpretação do Fisco.
(Colaboração Luciano Costa e Beatriz Lauerti)