Por Stéfanie Rigamonti
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a chamar de “bobagem” a lei que garantiu a autonomia do Banco Central, argumentando que a autarquia era independente durante seus mandatos anteriores, e disse que o assunto é irrelevante, tanto que não está na pauta de seu governo. A magnitude da taxa de juros, contudo, será um tema constantemente debatido, afirmou.
Em entrevista ontem à noite à RedeTV!, Lula afirmou que, assim como seu vice-presidente anterior José Alencar cobrava uma diminuição da taxa de juros, agora o petista afirmou que voltará a fazer o mesmo. “O que acontece é que o presidente do Banco Central tem que explicar por que taxa de 13,75% e por que qualquer expectativa de aumentar se não temos inflação de demanda”, questionou.
Lula disse que aumento de juros só se explica com crescimento excessivo do consumo, para que se possa frear as compras e, assim, diminuir os preços. “Mas não é isso que está acontecendo no Brasil. Não é isso. O Brasil precisa voltar a crescer”, declarou.
O presidente afirmou que fará reunião com empresários junto com banqueiros para uma discussão séria sobre a taxa de juros brasileira. Também disse que vai esperar Roberto Campos Neto terminar sua gestão à frente do Banco Central para avaliar os resultados. “Esse cidadão do Banco Central foi eleito por quem? Foi eleito pela Câmara. Portanto, ele tem responsabilidade”.
Questionado pelo entrevistador se, dessa avaliação, pode-se rediscutir a autonomia do BC, Lula disse que até pode ter uma proposta de mudança, mas isso não está na pauta do governo. “Isso é irrelevante para mim. O que está na pauta é a questão da taxa de juros”, reiterou.
META DE INFLAÇÃO
Lula também falou sobre meta de inflação e disse que a atual está fora da realidade do Brasil. “Quando você faz uma meta de inflação de 3,7%, você está exagerando numa promessa de que você tem que arrochar para cumprir”, afirmou.
Em um novo ataque ao presidente do Banco Central, o petista disse que Campos Neto quer uma meta de inflação no padrão europeu, sendo que, para o Brasil uma meta de 4% ou 4,5% “é de bom tamanho se a economia crescer”. “Eles não cumpriram a meta e ficam prejudicando a economia do país”, criticou.
BNDES
O presidente da República voltou a criticar o acordo para devolução ao Tesouro de mais de R$300 bilhões por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, após dívida contraída junto à União entre 2008 e 2018. Lula reclamou que, ao invés de emprestar dinheiro, o BNDES passou os últimos anos apenas devolvendo dívidas.
“Isso é uma inversão de valores. O BNDES é um banco de desenvolvimento social, que foi criado para emprestar dinheiro para o crescimento do Brasil. Pode emprestar tanto para um estado com capacidade de endividamento, como para um grande empresário, mas sobretudo para os pequenos e médios empresários. Ou seja, somos um país capitalista que não tem capital circulando”, afirmou.