Lula ataca BC, critica taxar ´blusinhas´ e reclama de benefícios ´para ricos´

São Paulo, 18/6/2024 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a fazer duras críticas ao chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista à Rádio CBN nesta terça-feira, e falou também contra taxar compras internacionais acima de US$50 e contra desonerações e benefícios fiscais “para os ricos”.

Após reunião com ministros ontem que abordou o orçamento, e às vésperas da decisão de juros do Copom amanhã, Lula comentou que não pretende fazer um ajuste fiscal jogando custos “nas costas do povo” e defendeu que “só temos uma coisa desajustada no Brasil hoje”, que seria o comando do BC.

Após as falas de Lula, os vértices ao longo de toda a curva de juros abriram estressados, pedindo até 12 pontos-base amais de prêmio. O dólar futuro avançava 0,10%, se mantendo acima do patamar dos R$5,40. Na ponta oposta, o Ibovespa futuro recuava 0,20%.

RCN

Lula disse que RCN, como é conhecido o presidente do BC, “tem lado político” e “trabalha para prejudicar o país”, e insinuou que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, estaria “achando maravilhoso” o atual nível da taxa de juros, de 10,5% ao ano.

Para o presidente, RCN estaria “se lançando a um cargo”, conforme notícias de que ele teria aceito ser ministro da Fazenda em eventual presidência de Tarcísio no futuro. “Vamos repetir o Moro?”, questionou, sobre o ex-juiz que aceitou cargo de ministro no governo Bolsonaro.

Questionado pelos jornalistas da CBN, Lula disse que pretende indicar um novo presidente para o Banco Central “que tenha compromisso com o desenvolvimento e que seja imune ao nervosismo do mercado”, e defendeu que a autarquia não pense “só no controle da inflação”, mas também em “meta de crescimento”.

Ele garantiu, no entanto, que em seu mandato teria dado autonomia ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, segundo ele até maior que a liberdade que RCN tem hoje em seu mandato.

TAXAR ´BLUSINHAS`

Em outro momento da entrevista, Lula disse ser contrário à taxação de compras internacionais de até US$50, aprovada no Congresso. “Minha mulher compra, a mulher do Alckmin compra, falei para o Haddad, sua filha compra, sua mulher compra.. acho equivocado taxar pessoas humildes que gastam US$50”, afirmou.

Nesse ponto, Lula defendeu que a indústria que se sente prejudicada com a falta de impostos sobre essas importações “tem que provar que tem prejuízo” para justificar tal medida. Mas ele também afirmou que não vetará o imposto, devido a acordos fechados com o Congresso e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

DESONERAÇÃO

Sobre medidas para compensar desonerações, após o Congresso rejeitar uma Medida Provisória limitando o uso de créditos fiscais, Lula disse que agora o Senado e os empresários que defendem a medida é que precisam oferecer propostas de soluções, com novas saídas para equilibrar o orçamento.

“Tem uma decisão do STF que vai cair a desoneração. Falei para o Haddad, deixa o Senado e os empresários fazerem uma proposta”, afirmou.

PETROBRAS

Lula também defendeu a exploração de petróleo pela Petrobras na Margem Equatorial, na chamada Foz do Amazonas, e lembrou que Guiana e Suriname já exploram seus recursos.

O presidente disse que “em algum momento” chamará o ministério de Meio Ambiente, o órgão ambiental Ibama e a Petrobras e decidirá sobre o tema. “Não vamos jogar fora a oportunidade, pode ter certeza”.

2026

Perguntado sobre as próximas eleições, Lula disse que não quer discutir o tema ainda, e defendeu que “tem muita gente boa para ser candidato”, mas deixou claro que poderá concorrer novamente “se for necessário” para evitar que “trogloditas” voltem ao poder, em referência ao governo anterior, de Jair Bolsonaro.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)