Por: Patricia Lara, Fabricio Julião e Eduardo Puccioni
Os sinais de que há uma inflação de demanda, fruto do mercado de trabalho ainda robusto, e as expectativas inflacionárias desancoradas devem estar entre os argumentos que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, usará para respaldar a sua defesa do nível da taxa básica Selic na audiência amanhã, no Senado.
Diferentemente da habitual plateia de economista e gestores que encontra em eventos realizados na Faria Lima ou em centros financeiros, Campos Neto enfrentará os representantes da classe política na audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), a partir das 9h00. A comissão quer informações sobre a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 13,75%. A audiência requerida pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD) é aberta à participação de qualquer pessoa por meio do portal do e-Cidadania ou pelo Fale com o Senado.
“A audiência é mais para colocar pressão política para tentar convencê-lo a reduzir a Selic. Mas vai ser inócua, dado que o BC está munido por fatores técnicos”, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. “Há inflação de demanda, como os dados de núcleo de inflação e de serviços, sugerem. O mercado de trabalho, embora, desaquecendo na margem, ainda se mostra robusto olhando para os padrões históricos, inclusive com a taxa abaixo do patamar que poderia reduzir as pressões inflacionárias”, completou.
“Há inflação de demanda não só aqui como no mundo inteiro. Vale lembrar que o desemprego no Brasil chegou no fim do ano no nível mais baixos dos últimos anos. E temos que esfriar um pouco a demanda e a economia”, diz o ex-diretor do BC e presidente do conselho da Jive Investments, Luiz Fernando Figueiredo, em entrevista à Mover.
O Brasil terminou 2022 com taxa de desemprego de 7,9%, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no fim de fevereiro. Esse foi o menor patamar anual desde 2014, quando fechou aos 6,6%. Segundo Rostagno, a taxa de desemprego está abaixo do nível de 9%, que poderia ajudar a esfriar a demanda.
“Os juros estão muito altos e a inflação está gradualmente caindo. Mas o importante para o Banco Central é ver as expectativas convergindo para baixo”, completou Figueiredo. Apenas quando as expectativas começarem a cair, o BCvai ter mais liberdade para ter queda de juros” afirmou.
SERVIÇOS
As expectativas inflacionárias estão influenciando mais que a demanda atualmente, disseAlexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama. A inflação hoje está muito relacionada ao setor de serviços, e o serviço está muito ligado às expectativas. “Por isso, acredito que juros possam cair já em junho, no mais tardar em agosto, com as expectativas já ancoradas”, afirmou.
A inflação não é apenas de demanda, mas também tem um componente de demanda. “Isso a gente consegue observar quando avalia a inflação de serviços que ainda está rodando acima de 7% no acumulado de 12 meses. Essa é uma inflação eminentemente de demanda”, afirmou Silvio Campos Neto, economista-chefe da Tendências Consultoria. Há uma incerteza em relação ao arcabouço fiscal e o que de fato será aprovado pelo Congresso. “É natural que o Banco Central mantenha uma postura um pouco mais cautelosa”, afirmou.