Ex-comandante da PM do DF exerce direito de ficar calado na CPMI do golpe

Vieira afirmou que buscou uma transição pacífica até a posse presidencial

Agência Câmara
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Por Bruno Andrade

O coronel Fábio Augusto Vieira, que comandava a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) no dia dos ataques de vândalos às sedes dos três Poderes, disse em depoimento na CPMI dos atos golpistas nesta terça-feira (29) que vai exercer o seu direito de ficar calado.

“Considerando que tais fatos são investigados na Procuradoria Geral da República (PGR) e no STF, e que os fatos empregados na investigação não foram passados para a minha defesa, vou exercer o meu direito de ficar em silêncio até o acesso à íntegra dos documentos da acusação”, afirmou.

O ex-comandante e outros seis oficiais foram presos no começo desse mês agosto por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a Procuradoria-Geral da República, a cúpula da PMDF foi omissa. O coronel já havia sido preso em janeiro, dias após as invasões.

Vieira também disse que após o resultado das eleições, ele manifestou em reuniões com a sua tropa que a Polícia Militar do Distrito Federal é uma polícia de Estado e não de governo.

“Por isso, deveríamos atuar para garantir o resultado proclamado nas urnas, a ordem e sobretudo a democracia em uma transição pacífica até a posse presidencial”, disse Vieira.

Ainda no breve depoimento inicial, o policial tentou aliviar a pressão sobre ele por não ter ordenado uma operação de imediato para contar os supostos Bolsonaristas que atacavam a democracia.

“Ao contrário do que tem sido veiculado, a presença do comandante no terreno não atrai automaticamente o comando da operação em curso, que continua sendo dos comandantes operacionais”, disse Vieira.

Vieira foi questionado pela relatora da CPMI, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), sobre suas atitudes no dia e o planejamento da PF, mas o policial disse que continuaria em silêncio.

O depoimento do militar foi proposto pelos deputados Carlos Sampaio (PSDB-SP),  Delegado Ramagem (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG), Pr. Marco Feliciano (PL-SP) e Duarte Jr. (PSB-MA) e Duda Salabert (PDT-MG), e pelos senadores Eduardo Girão (Novo-CE), Marcos do Val (Podemos-ES) e Izalci Lucas (PSDB-DF).

Para Girão, a PMDF sofreu “um apagão de coordenação e comando” no dia 8 de janeiro. “Como comandante e com acesso diário aos relatórios de inteligência, [o coronel Fábio Augusto] tinha conhecimento que as manifestações eram fatos portadores de preocupação a exigir medidas preventivas efetivas”, argumenta Girão.

Para Marcos do Val, o comando do militar “foi falho”, o que “permitiu que os manifestantes rompessem as linhas de controle estabelecidas e invadissem e depredassem as sedes do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e da Presidência da República”.

Ramagem e Marco Feliciano, no entanto, afirmam que o militar chegou a ser ferido na tentativa de conter pessoalmente os manifestantes.

General Gonçalves Dias será ouvido nesta semana

Nesta quinta-feira (31), a CPMI também ouvirá o ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias. A oitiva está marcada para as 9 horas, também no plenário 2 da ala Nilo Coelho.

O general chefiava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) quando as invasões em Brasília aconteceram. Ele deixou o cargo no dia 19 de abril, após a divulgação de vídeos nos quais ele aparece conversando com invasores do Palácio do Planalto.

A convocação de Gonçalves Dias foi objeto de aproximadamente 100 requerimentos. No início dos trabalhos, a CPMI chegou a rejeitar o depoimento do ex-ministro, mas, em junho, um acordo viabilizou a aprovação dos pedidos.

Entre os signatários dos requerimentos, estão os deputados Rafael Brito (MDB-AL), Delegado Ramagem, Nikolas Ferreira e Marco Feliciano, e os senadores Sergio Moro (União-PR), Magno Malta (PL-ES) e Izalci Lucas.

O depoimento do general G. Dias, como é conhecido, é visto pelos parlamentares de oposição como uma “peça chave” na tentativa de esclarecer “providências adotadas e o desdobramento das investigações conduzidas pelo governo federal”, como explica Moro.

Os parlamentares citam reportagem do jornal Folha de S.Paulo, segundo a qual, o general mandou a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) adulterar os alertas enviados a ele sobre a ameaça de ataques, no relatório entregue ao Congresso Nacional. Atendendo ao general, teriam sido suprimidos 11 alertas enviados a G. Dias sobre as ameaças de invasão.

Além disso, os parlamentares citam os vídeos veiculados pela rede de TV CNN que registram a presença do general no interior do Palácio do Planalto, no dia 8 de janeiro, durante a invasão do prédio.

Em depoimento à CPI da Assembleia Legislativa do DF, que também investiga os ataques antidemocráticos, Gonçalves Dias negou ter sido conivente com os golpistas que invadiram o Palácio do Planalto.

(Com Agência Câmara de Notícias)