“Eu estava desarmado e à paisana”, diz Gonçalves Dias em depoimento na CPMI do golpe

Ex-minsitro presta depoimento meses após vídeo comprometedor

Agência Câmara
Agência Câmara

Por Bruno Andrade

“Eu estava desarmado e à paisana”, disse o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, em depoimento na CPMI que investiga os atos golpistas do dia 8 de janeiro.

O ex-ministro pediu demissão do governo Lula no último dia 19 de abril. A saída aconteceu após imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto mostrarem que o ministro não interviu com a força necessária sobre os manifestantes bolsonaristas. As imagens foram divulgadas de forma exclusiva pela CNN Brasil.

“Concentrei-me em esvaziar o palácio do planalto o mais rápido possível, de preferência sem baixas e sem confrontos sangrentos. Só havia uma forma de fazer isso, de cima para baixo”, afirmou.

Dias contou que quando subiu do segundo para o terceiro andar, numa sala de reuniões próximo ao gabinete presidencial, encontrou três pessoas. Uma senhora, uma mulher jovem e um rapaz.

“A senhora estava assustada, a mulher neutra e o rapaz profundamente alterado. Indiquei a eles e a mais algumas pessoas a escada que leva para o segundo andar. Tivemos algumas altercações, evitei a violência e conduzi todos para o local de acesso à escada que levaria para o segundo andar. Eu havia determinado que as prisões fossem feitas no segundo andar”, explicou.

A imagem mostra Dias indicando a suposta saída para os invasores bolsonaristas.

Outra polêmica que envolveu o militar foi que o general supostamente mandou a direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) adulterar os alertas enviados a ele sobre a ameaça de ataques, no relatório entregue ao Congresso Nacional. Atendendo ao general, teriam sido suprimidos 11 alertas enviados a G. Dias sobre as ameaças de invasão.

A relatora da CPMI, Eliziane Gama (PSD-MA), questionou o militar sobre os alertas. Ele comentou que dias antes do ataque o mesmo havia recebido informações de que o movimento dos acampamentos estava fraco, principalmente, após a “posse presidencial ter sido um sucesso em meio à tensão que a permeava”.

“As informações que recebi da Polícia Militar do Distrito Federal foi de que o movimento estava desmobilizado, fraco e que não apresentava risco”, disse o militar.

Ainda assim, o ex-ministro recomendou à PMDF que montasse a operação escudo sobre o Palácio do Planalto.

“Quando cheguei no Palácio do Planalto e vi que a operação escudo não estava totalmente montada, briguei com meus subordinados com o uso de palavrão”, disse Dias.

A relatora da CPMI, no entanto, não aceitou as falas do militar e mostrou documentos que comprovaram que o ministro e sua equipe receberam ao menos sete alertas. De forma desconfortável,  G. Dias disse que esses “eram apenas alertas e não os relatórios que ele já havia recebido”.

A relatora também questionou se o militar fraudou algum relatório que comprovasse o que aconteceu no dia da invasão. Segundo Eliziane Gama, a fraude seria a retirada do nome de G. Dias para a inclusão da instituição GSI como praticamente de suas próprias atitudes naquele dia. O ex-ministro negou, mas a relatora debateu.

“Segundo mensagens suas de WhatsApp, o senhor pediu para retirar o seu nome do relatório e colocar como GSI”, disse Gama.

“Essa mensagem foi no meu celular pessoal, e eu estava lá como GSI e não como Gonçalves Dias. Então não havia sentido eu ser citado como pessoa física”, afirmou G. Dias.

Por fim, o ex-ministro atacou a imprensa e a culpou por sua saída do governo. Segundo ele, sua renúncia aconteceu “por causa de uma divulgação imprecisa e desconexa dos fatos”.