Obituário

Delfim Netto morre aos 96 anos; economistas homenageiam professor, Lula reitera pedido de desculpas

Agência Brasil
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São Paulo, 12/08/2024 – O economista, professor e ex-ministro Antônio Delfim Netto, uma das figuras mais emblemáticas da política econômica brasileira, faleceu na última noite em São Paulo, aos 96 anos, segundo informações da família, que não deu detalhes sobre a causa do falecimento – ele estava internado no hospital Albert Einstein. Após a notícia, diveros economistas e políticos prestaram homenagens, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reiterou um antigo pedido de desculpas ao antigo rival e depois conselheiro.

Nascido em 1º de maio de 1928, em São Paulo, Delfim Netto construiu carreira notável como economista e político, sendo um dos principais arquitetos do chamado “milagre econômico” brasileiro durante a década de 1970.

Formado pela Universidade de São Paulo (USP) e com doutorado pela Universidade de Yale, ele deixou sua marca na história do país, ocupando o cargo de ministro da Fazenda em dois governos: o de Emílio Garrastazu Médici e o de João Baptista Figueiredo (1967-1974). Ele também foi ministro da Agricultura (1979) e do Planejamento (1979-1985).

“CRESCER O BOLO”

A atuação nos tempos do regime militar rendeu críticas, principalmente pelo fato de Delfim ter assinado o Ato Institucional 5, AI-5, símbolo do endurecimento da ditadura, pelo que o economista disse depois jamais ter se arrependido. As políticas daquele período também foram criticadas pelo viés de “arrocho salarial”, com compressão de salários para combater a inflação, o que rendia ataques da oposição. Ficou famosa uma frase de Delfim segundo a qual era preciso “crescer o bolo, para depois distribuí-lo”.

Em nota divulgada pelo Planalto, o presidente Lula da Silva enviou os sentimentos pela morte do ex-rival, do qual depois se aproximou — o “professor” era frequente conselheiro econômico de Lula em suas gestões, e depois de Dilma Roussef, como também de seu sucessor Michel Temer.

“Durante 30 anos eu fiz críticas ao Delfim Netto. Na minha campanha em 2006, pedi desculpas publicamente porque ele foi um dos maiores defensores do que fizemos em políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei nos meus dois primeiros mandatos. Delfim participou muito da elaboração das políticas econômicas daquele período”, afirmou Lula, em nota. “Quando o adversário político é inteligente, nos faz trabalhar para sermos mais inteligentes e competentes”.

Apesar dessa proximidade com os governos do PT, Delfim não deixou de fazer críticas, e atacou principalmente os episódios que ficaram conhecidos como “contabilidade criativa” – que ele chamava de “alquimia” – e a intervenção de Dilma no setor elétrico para baixar tarifas, em 2012.

HOMENAGENS

O Ministério da Fazenda registrou, em nota, homenagem ao por duas vezes chefe da pasta. “Professor, economista, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento e diplomata, Delfim Netto foi um referencial em diferentes fases da história do país. Por décadas, fomentou debates essenciais sobre a condução da política econômica brasileira”.

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles também comentou o falecimento, na rede social “X”, referindo-se a Delfim como “um dos maiores conhecedores da economia brasileira”. “Enfrentou momentos históricos radicalmente distintos, como o milagre econômico da década de 1970 e a crise da dívida dos anos 1980. Poucos conheceram tão bem o Brasil e o poder. Delfim também foi um exímio frasista: sabia descrever o país pela política e pela economia em frases curtas e mordazes”.

Além da atuação no governo, Delfim também teve uma carreira prolífica como professor da Universidade de São Paulo, consultor e escritor, contribuindo com sua expertise em diversas instituições e publicações.

Ao longo das décadas, o “professor” esteve sempre atualizado nas leituras e no conhecimento das tendências econômicas, que tratava em suas colunas na imprensa. Ele chegou a acumular uma famosa bilioteca com centenas de milhares de livros, que teve parte do acervo doado à Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP) e hoje está disponível para consultas.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)