Por Machado da Costa
No próximo mês, a África do Sul sediará a cúpula mais importante até o momento do Brics, grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Contudo, especula-se sobre a participação do presidente russo, Vladimir Putin, devido à situação envolvendo sua possível prisão por crimes de guerra. O país anfitrião, como signatário do Estatuto de Roma, estaria obrigado a prendê-lo. No entanto, além dessa questão, o evento levanta discussões sobre o papel que o grupo de cooperação desempenhará no cenário global, aponta o fundador da Eurasia Group, Ian bremmer, em carta a clientes.
Essa cúpula é particularmente relevante para o Brasil, uma vez que o o posicionamento do país em relação à expansão do grupo terá impactos significativos nas relações comerciais e diplomáticas com a China, principal parceira comercial. O desenrolar dessa cúpula e as decisões tomadas podem afetar diretamente oportunidades de investimento e as perspectivas de negócios entre Brasil e China.
No documento, Bremmer informa que um dos pontos de interesse da próxima reunião é a possível expansão do Brics, com a China liderando a iniciativa de adicionar outros países emergentes. Enquanto a Rússia age em apoio à agenda do país asiático, a África do Sul também demonstra uma inclinação pró-China. Com o objetivo de aproveitar ao máximo a cúpula que sediará, o país africano convidará cerca de 50 chefes de Estado adicionais de países africanos para um encontro intitulado “Brics e África”.
Porém, diz Bremmer, nem todos os membros do Brics estão de acordo com essa expansão. A Índia, por exemplo, vem adotando uma política externa cada vez mais alinhada contra a China e se opondo a desempenhar um papel secundário em uma organização liderada por ela. O Brasil também se opõe aos planos de expansão, temendo que a China crie um grupo de liderança próprio. “Eles não querem ter um papel menor em uma organização de países em desenvolvimento liderados pela China”, assinala.
Enquanto isso, os Estados Unidos, através de seu assessor de segurança nacional, Jake Sullivan, buscam criar uma “rede” de fóruns para promover seus interesses nacionais, reconhecendo que não há uma “coalizão de democracias” uniforme para contrapor a influência chinesa, conta Bremmer.
Por sua vez, a China está empenhada em fortalecer o Brics e a Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês) para minar a influência americana. Entre as estratégias chinesas, estão a promoção da cooperação em segurança não tradicional, como digital, espaço e cibersegurança, além de iniciativas mais amplas relacionadas ao desenvolvimento, segurança e civilização.
Embora o próximo encontro do Brics esteja cercado de incertezas, especialmente em relação à participação de Putin, é inegável que a discussão sobre a expansão do grupo e a competição entre EUA e China por influência no cenário global estarão no centro das atenções. O futuro do Brics e sua capacidade de desempenhar um papel relevante no mundo atualmente polarizado são questões que serão amplamente debatidas durante a cúpula na África do Sul.
Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 15H48, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.