O ex-presidente Jair Bolsonaro nunca foi um político de fala moderada. Foi na truculência retórica ,com roupagem patriótica, que elegeu-se presidente da República e atraiu seguidores fiéis. Entre falas que ficarão para a história estão a que atacaram gays e cotas, a que disse que a ditadura militar no Brasil deveria ter matado muito mais gente, suas brigas com deputadas de esquerda, com os ateus, a fala em que negou a letalidade da Covid e todas as suas declarações defendendo garimpeiros contra índios.
Muita gente ainda estuda as causas de seu fenômeno popular, mas é possível dizer que Bolsonaro abraçou um eleitorado de direita no país que era órfão, pois sua única opção ao PT era o PSDB, falsamente defensor dos valores morais da direita. Também é possível dizer que houve um avanço da população evangélica no país. Bolsonaro, como candidato à Presidência, os adotou.
O Bolsonarismo foi tão eficiente em obter apoio popular que, mesmo tendo perdido a última disputa presidencial para o PT, disputa hoje com o Lulismo a liderança política do país.
Por isso tudo, em ato que convocou para falar ao país, no domingo (25) em São Paulo, o ex-presidente Bolsonaro correu o risco de desapontar as centenas de milhares de pessoas que foram às ruas defendê-lo. Acuado pela Justiça, que o acusa de ter tentado dar um golpe de Estado, foi obrigado a fazer um discurso moderado, conciliador e pacificador. Acima de tudo, foi um discurso em que implorou às autoridades que concedessem uma anistia aos bolsonaristas que participaram de protestos no dia 8 de janeiro de 2023. E, por tabela, reclamou das penas que o Supremo Tribunal Federal tem dado aos que depredaram os prédios dos três poderes.
“Nós pedimos a todos os 513 deputados e 81 senadores, um projeto de anistia para que seja feita justiça em nosso Brasil. E quem, porventura depredou o patrimônio, que nós não concordamos com isso, que pague. Mas essas penas fogem ao mínimo da razoabilidade”
Bolsonaro também negou ter sequer cogitado um golpe de Estado. “O que é golpe? Golpe é tanque na rua. É arma. É conspiração. É trazer classes políticas pro seu lado, empresariais. É Isso que é golpe. Nada disso foi feito no Brasil. E fora isso, por que ainda continuam me acusando de um golpe?”
Esse discurso moderado de Bolsonaro pode ter agradado uma ou duas autoridades em Brasília. Mas certamente causou dissonância cognitiva entre seus eleitores, que queriam ouvi-lo ao natural, atacando seus inimigos e defendendo seus princípios mais polêmicos.
“Bolsonaro entra numa fase delicada, já que seus futuros discursos terão de ser moderados. E essa moderação o desconectará de seus eleitores”, disse ao FLJ o cientista político Antonio Lavareda. “É assim que lideranças começam a esvaziar.”