Cem dias: Governo ruma à esquerda e deixa Lulinha Paz e Amor para trás

Presidente fortalece estatais e ataca investidor privado

Agência Brasil
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Por Bruno Andrade

O Lulinha paz e amor não existe no terceiro mandato. E o governo ruma para a esquerda com força e velocidade, afirmou Denis Medina economista e professor da FAC-SP ao Faria Lima Journal (FLJ) nesta segunda-feira (10).

“Quem esperava por um Lulinha Paz e Amor se iludiu, e isso está cada vez mais claro. Lula está cada vez mais consolidado e tem grande parte do apoio direto da população “, disse Medina.

Segundo ele, a surpreendente pressa do governo em colocar o Estado à frente da sociedade e a utilização de uma retórica belicosa desfazem de vez a figura do Lula negociador, do Lula pragmático.

“Isso tende a gerar problemas econômicos de forma geral, tivemos nos últimos meses uma reaceleração da inflação justamente por causa do aumento de gastos do governo”, afirmou Meira.

Em fevereiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 0,84%, uma aceleração contra os 0,53% de janeiro. De acordo com Medina, um dos programas que podem gerar inflação nos próximos anos é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Segundo ele, o PAC surte efeito positivo sobre o crescimento econômico nos dois primeiros anos, mas tem um preço alto. No final da linha, gera um descontrole das contas públicas, como aconteceu no governo Dilma.

“O PAC gerou setores privilegiados pelo fato da maioria das obras estarem focadas em poucas empresas. No final das contas, houve um aumento de gastos do governo e as obras ficaram inacabadas – foco, aliás, de forte corrupção”, disse.

Sendo assim, Medina disse que o programa não foi uniforme e gerou um crescimento pífio da economia brasileira. Em 2014, ano que o governo gastou R$ 955 bilhões somente com o PAC, mas o crescimento econômico foi de 0,1% naquele ano.

Lula e as suas estatais privadas

Bons indicadores do que diz Medina surgiram das mensagens contidas no discurso de Lula nesta segunda-feira. Mais cedo, o presidente comentou que usará as empresas estatais, em especial Petrobras (PETR4) e Banco do Brasil (BBSA3), como aceleradores de políticas públicas. E as duas, sob a ótica de Lula, não podem se comportar como empresas privadas.

“A sociedade precisa entender que bancos públicos têm finalidades diferentes dos bancos privados”, afirmou o presidente. “Bancos públicos não podem emprestar dinheiro às mesmas custas que os privados. Bancos públicos têm que entender que dinheiro bom não é dinheiro guardado em cofre. Dinheiro bom é dinheiro gerando obras, desenvolvimento e emprego”, completou.

No final de março, o Lula também comentou que o governo deveria voltar a ser dono da Eletrobras durante os 100 dias de governo.

“O que foi feito na Eletrobras foi um crime de lesa-pátria. Você privatizou uma empresa daquele porte e usou o dinheiro para o quê? É como se você tivesse a sua casa e dissesse que decidiu vender a sua casa para pagar a sua dívida. Você vai ficar com o que na vida? Uma empresa como a Eletrobras é um patrimônio desse País e tem que ter muita responsabilidade”, disse Lula em entrevista ao portal Brasil 247 em 21 de março.

Segundo Medina, a postura reafirma a guinada do governo para esquerda e “pode ser péssima para a sociedade”. “Todo mundo lembra-se dos escândalos com a Petrobras e das tentativas de Dilma de segurar os preços dos combustíveis, uma intervenção nesse nível poderia ser ruim e o governo aparentemente anseia por isso”, disse.

Ele comenta, no entanto, que a possibilidade de Lula conseguir mexer na Petrobras desse modo é pouco provável, mas não impossível. “Lula precisaria do apoio do Congresso para mexer na lei das estatais, que impede indicações de cunho político e fortes interferências na empresa”, disse.

Diante desse cenário, o governo tem enfrentado resistências por um lado e apoio por outro. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que uma reestatização da Eletrobras tem “chance zero”.

Mas sobre a Lei das Estatais, ele comentou que existem trechos que precisam ser revistos. “A Lei de Estatais veio como tantas outras para proteger uma determinada função e é bom que ela permaneça, mas a quarentena de 36 meses exigida é absurda, outros critérios precisam ser observados”, disse Lira.

Por fim, Denis Medina da FAC-SP, comentou que os ataques ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, são a cereja do bolo na constatação da truculência petista. “Ele prometeu que respeitaria as instituições e a democracia, mas quer meter a mão em tudo. No Banco Central, Petrobras, Banco do Brasil, entre outras”, disse.