Por: Simone Kafruni e Machado da Costa
Brasília, 9/10/2023 – No momento em que o Brasil preside o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), o governo brasileiro defendeu como solução a criação de dois Estados – um israelense, outro palestino – diante da guerra em Israel provocada pelo grupo terrorista Hamas, que controla a Faixa de Gaza.
O posicionamento é um reflexo da estratégia de assessores internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de não escolher lados em conflitos armados. Desta forma, o governo brasileiro acredita que poderá promover um diálogo pela paz na Guerra na Ucrânia e, agora, busca exercer algum protagonismo em Israel.
“Um estado Palestino economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, sugeriu o Itamaraty em nota divulgada nesta segunda-feira.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores (MRE), na qualidade de presidente do Conselho de Segurança da ONU o Brasil convocou os membros do órgão ainda no domingo, em caráter de emergência, para discutir os últimos desdobramentos do conflito israelo-palestino. Durante a reunião, o Brasil “sublinhou que as partes devem se abster da violência contra civis e cumprir suas obrigações perante o direito internacional humanitário”. Segundo o Itamaraty, no encontro com membros do conselho, o Brasil “conclamou todos à máxima contenção para evitar uma escalada, com consequências imprevisíveis para a paz e a segurança internacional, e enfatizou ser urgente desbloquear o processo de paz”.
No sábado, o Brasil já tinha emitido uma nota oficial condenando os bombardeios e ataques a Israel a partir da Faixa de Gaza. Na ocasião, o Itamaraty reiterou que não havia justificativa para o uso da violência contra civis. “O governo brasileiro exorta todas as partes a exercerem máxima contenção a fim de evitar a escalada da situação”, diz um trecho da nota de sábado.
A nota emitida nesta segunda-feira, porém, já denota um recuo do governo brasileiro em condenar os ataques terroristas. No começo deste ano, a negativa de Lula em fornecer munição ao exército ucraniano, a pedido da Alemanha, tirou do sério o chanceler alemão, Olaf Scholz, em visita ao Brasil. Nem mesmo ambulâncias blindadas o governo brasileiro aceitou vender ao país comandado por Volodymyr Zelenskyy.
FIM DA LICENÇA
O conflito acabou com a licença médica de Lula, apenas oito dias após a cirurgia que o presidente fez para tratar de um problema no quadril. A primeira agenda oficial foi uma videoconferência para debater o balanço das ações sobre o conflito em Israel. Lula se reuniu virtualmente com os ministros da Defesa, José Múcio, da Secretaria Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo (PT), de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), e da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta (PT).
Antes disso, Lula tinha apenas se manifestado pelas redes sociais, quando afirmou que ficou “chocado com os ataques terroristas realizados contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas”.
“Ao expressar minhas condolências aos familiares das vítimas, reafirmo meu repúdio ao terrorismo em qualquer de suas formas. O Brasil não poupará esforços para evitar a escalada do conflito, inclusive no exercício da Presidência do Conselho de Segurança da ONU. Conclamo a comunidade internacional a trabalhar para que se retomem imediatamente negociações que conduzam a uma solução ao conflito que garanta a existência de um Estado Palestino economicamente viável, convivendo pacificamente com Israel dentro de fronteiras seguras para ambos os lados”, escreveu Lula.
REPATRIAÇÃO
Frente ao agravamento da situação em Israel e na Palestina, o governo passou a planejar a repatriação de brasileiros que se encontram na região. De acordo com o MRE, dois voos da Força Aérea Brasileira partiram de Brasília para buscar, prioritariamente, brasileiros residentes no Brasil sem passagens compradas para sair da região do conflito.
O MRE desaconselha quaisquer deslocamentos não essenciais para a região. “Até o momento, a Embaixada em Tel Aviv colheu, por meio de formulário online, os dados de cerca de 1.700 brasileiros que externaram interesse em sua repatriação, a maioria turistas hospedados em Tel Aviv e Jerusalém.”
O governo também montou uma estrutura para acompanhar a situação dos brasileiros na região, com plantões consulares na Embaixada de Tel Aviv e no Escritório de Representação em Ramala para atender brasileiros em situação de emergência.