Por Reuters
No dia em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deu início à análise da ação que pode torná-lo inelegível, o ex-presidente Jair Bolsonaro classificou o julgamento como “politiqueiro” e disse desconhecer a minuta de um suposto golpe encontrada no celular de seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid.
“Hoje começa o meu julgamento político. Ou melhor, não é político, é politiqueiro. Da mais baixa intenção por parte de alguns. Não estou aqui atacando o TSE, longe disso. Mas a fundamentação é coisa inacreditável: ‘reuniu-se com embaixadores’”, disse Bolsonaro em discurso durante almoço com empresários e políticos em Porto Alegre.
“O outro cara no ano passado se reuniu com a nata do PCC no Complexo do Alemão no Rio de Janeiro e vai se reunir agora com a nata do Foro de São Paulo também”, completou, repetindo uma “fake news” popular entre bolsonaristas, que associa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à facção criminosa.
O ex-presidente desembarcou no final da manhã desta quinta-feira no aeroporto de Porto Alegre, onde foi recebido aos gritos de “mito” por um grupo de apoiadores com camisetas verdes e amarelas e bandeiras do Brasil.
Na capital gaúcha, Bolsonaro participou de um churrasco na Transposul, uma feira de transporte e logística que acontece no centro de eventos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs-RS), e caminhou pelos pavilhões do evento, sempre cercado de eleitores.
Perguntado pela imprensa sobre a minuta com instruções para um suposto golpe de Estado encontrada pela Polícia Federal no celular de Cid, o ex-presidente respondeu que desconhece o material.
“Quando se vai diretamente na palavra golpe, é muita infantilidade, para não falar uma palavra mais agressiva, achar que golpe se dá rascunhando um documento com olho na Constituição. Golpe não tem papel, tem fuzil”, afirmou.
No entanto, o material era intitulado “Forças Armadas como poder moderador” e continha um roteiro com medidas para derrubar poderes legalmente constituídos, segundo investigação da PF tornada pública pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A tese de que as Forças Armadas têm um papel moderador em caso de conflito entre os Poderes surgiu de uma interpretação equivocada de bolsonaristas do artigo 142 da Constituição. O trecho apenas descreve o funcionamento das Forças Armadas e não prevê a possibilidade de que elas interfiram nos Poderes.
O TSE iniciou nesta quinta julgamento para determinar se Bolsonaro ficará impedido de disputar eleições pelos próximos oito anos por ter atacado o sistema eletrônico de votação em reunião com embaixadores em julho do ano passado. A primeira sessão teve a leitura do relatório do caso e manifestações do Ministério Público Eleitoral e dos advogados do PDT, autor da ação, e do ex-presidente. Na próxima terça-feira, os ministros retomam o julgamento.