BC quer ver como Ministério da Fazenda vai incorporar arcabouço em suas projeções

BC diz não haver "relação mecânica" entre arcabouço fiscal e desinflação

Agência Brasil
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Por Gabriel Ponte e Patricia Lara

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira que a autoridade monetária ainda não analisou os termos do arcabouço fiscal apresentado pelo Ministério da Fazenda nesta manhã. Campos reconheceu, entretanto, a preocupação de Haddad com a trajetória da dívida pública e a transparência com a qual o Ministério da Fazenda divulgou o projeto preliminar.

“A gente vai olhar e analisar o que está sendo anunciado. O importante para o BC é como ele incorpora isso em suas projeções. Nós não fazemos fiscal, mas nós incorporamos o fiscal em nossas expectativas”, pontuou Campos Neto em coletiva de imprensa para apresentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Na sequência, o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, repetiu não haver “relação mecânica” entre a apresentação do arcabouço fiscal e uma desinflação na economia local, em linha com ponto já apresentado na ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Questionado sobre as recentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à condução da política monetária, Campos afirmou que o BC é um “órgão técnico” e não deveria se envolver em discussões políticas. “Acho que o que podemos fazer é comunicando, da melhor forma possível, como é feito o nosso trabalho.”

Campos também disse ter um “bom relacionamento” com o Ministério da Fazenda, e que tem “bastante convicção” de que Haddad está “muito bem intencionado”. Campos alertou, entretanto, que o “trabalho técnico” do BC tem um custo elevado no curto prazo, embora não fazê-lo traz um custo “muito maior”.

Na visão de Campos, o processo de política monetária do BC não possui nenhum “componente político”, sendo “puramente técnico”. Questionado sobre trecho do comunicado do Copom de que o BC “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste”, Campos afirmou haver uma “politização” da linguagem técnica da ata do Copom.

“Esse trecho vinha desde antes da eleição, e é um parágrafo que reduz a assimetria quando você não está atingindo a meta. De lá para cá, as expectativas desancoraram ainda mais, então seria muito inusitado, dado que as projeções pioraram, o BC retirar esse parágrafo.”

O presidente do BC também disse que não tem participado das discussões do governo para nomes a serem indicadores para os postos vagos em diretorias da autarquia. Disse que o tópico é “prerrogativa” do Poder Executivo.

Campos alertou, entretanto, que para a diretoria de Política Monetária, o trabalho a ser desempenhado exige “alguma habilidade” em tópicos envolvendo o funcionamento de mercados. “É muito importante que seja uma pessoa que entenda o funcionamento dos mercados, conhecimentos específicos.” Ele também estendeu os comentários à diretoria de Fiscalização.

Ao comentar o mercado de crédito no país, Campos disse não acreditar que há problemas de liquidez, mas está preparado para agir e “tem os instrumentos necessários” para injetar liquidez no sistema.