A agência de risco Fitch Rating mandou recado indireto na tarde desta quinta-feira ao presidente Luiz Inacio Lula da Silva (PT), ao divulgar relatório afirmando que o bom desempenho da economia brasileira nos últimos meses não alivia as incertezas fiscais do país, e projetando risco de estouro da meta do arcabouço fiscal já em 2025.
Em viagem presidencial por Nova York para a Assembleia Geral da ONU nesta semana, Lula disse que marcou uma reunião com agências de rating, pois seria importante que os analistas “saibam da boca do presidente da República o que está acontecendo neste país”.
“Não precisa ouvir só a Faria Lima, não precisa ouvir só os empresários. Ouçam os trabalhadores e o presidente da República”, disse Lula, em mais uma alfinetada no mercado financeiro.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também disse a jornalistas que espera uma nova melhora em breve na nota de risco do país, que teve aumento de classificações recentemente, em ‘BB’ com perspectiva estável, mas segue sem o chamado “grau de investimento” desde 2015.
Embora sem citar os comentários de Lula nem Haddad, a Fitch divulgou relatório hoje em que ressalta que a força da economia brasileira, com PIB crescendo acima do previsto, não se reflete nas contas públicas, e que os desafios fiscais do Brasil persistem e devem se intensificar ao longo do ano de 2025.
Os analistas da agência de risco defenderam que a incerteza fiscal é um ponto de “vulnerabilidade” do Brasil, que limita uma melhora no rating do país.
Por conta da piora do cenário fiscal, a Fitch elevou previsão para o déficit que o governo federal deve entregar em 2025, que passaram de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) para 1,0%, fora das metas do arcabouço fiscal.
OUTROS AVISOS
O recado da Fitch está alinhado a alertas de diversos participantes do mercado sobre o risco fiscal, com aumento das cobranças junto á Fazenda por medidas de corte de gastos e ajustes nas contas públicas.
No início da semana, em entrevista ao Brazil Journal, o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, disse que o mercado está reagindo de forma muito clara à incerteza em relação às regras fiscais. “Só vamos recuperar o grau de investimento quando conseguirmos responder a seguinte pergunta: quando a dívida pública do Brasil (% do PIB) entra em uma clara trajetória de queda? Em que ano?”, questionou ele, acrescentando que o governo parece não perceber a gravidade da situação fiscal.
Além de nomes do mercado, o Tribunal de Contas da União (TCU) alertou na semana passada, antes da divulgação do Relatório de Receitas e Despesas do 4° bimestre, sobre a possibilidade de a meta fiscal não ser atingida já neste ano, devido ao otimismo com receitas.
(LB | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)