Aliados e ministros de Lula elevam o tom de ataques a Campos Neto”; Haddad tenta equilibrar-se

Tebet disse que o comunicado do Copom pegou o governo de surpresa

Agência Brasil
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Por Beatriz Lauerti, Stéfanie Rigamonti, Márcio Aith e Smone Kafruni

Ministros e dirigentes do PT mais próximos a Luiz Inácio Lula da Silva dobraram o tom das críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Os ataques foram feitos após a decisão do Comitê de Política Econômica do Banco Central (Copom) de manter a taxa básica de juros (Selic) no patamar atual de 13,75%.

A decisão deu início a uma orquestra de ataques sincronizados, todos em linha com o que tem dito o presidente sobre a autoridade monetária.

O presidente Lula já havia declarado que essa taxa é imoralmente alta, questionou o conhecimento econômico dele e até sugeriu ao Senado que o retire do cargo – isso porque, legalmente, apenas os senadores podem tomar tal medida.

O que mais provocou os petistas no comunicado do BC foi um aceno a novos aumentos da Selic: “o Copom não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, considerou o comunicado “preocupante”. “A depender das futuras decisões, podemos inclusive comprometer o resultado fiscal e, daqui a pouco, vai dar problema nas empresas”, disse.

Já o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), afirmou que Campos Neto está fazendo um “desserviço” para o país, se referindo à Selic.

A deputada e presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, questionou Campos Neto no Twitter.  “Como empresários podem captar recursos com os maiores juros do mundo? Como investir se o dinheiro aplicado rende 8% reais?”, perguntou.

“Seus juros só beneficiam o rentismo e quem produz. Sua política monetária já foi derrotada”, completou a petista.

A decisão ocorreu na última quarta-feira, em meio a pressões baixistas diante de uma crise de crédito e de uma eventual política monetária em países desenvolvidos menos agressiva, além da desancoragem das expectativas para a inflação no Brasil, o que dificultaria o cumprimento das metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O senador Randolfe Rodrigues (REDE) julgou a decisão como “frustrante, injustificável e incompatível” com os esforços do governo e disse que manter o atual patamar de juros “sacrifica” o povo brasileiro.

Outros parlamentares apoiadores do governo também fizeram críticas, consideraram o resultado uma “covardia” e questionaram a independência do Banco Central, afirmando “vitória do setor financeiro” em detrimento do setor produtivo.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) defendeu que a manutenção dos juros em 13,75% “revela o quanto é ruim para o país um Banco Central que se declara autônomo”.

Além disso, a análise de economistas estrangeiros, como Joseph Stiglitz, vai contra a decisão do Copom, segundo o site oficial do PT.

O portal informou que Stiglitz considerou a taxa de juros “chocante  e uma pena de morte para qualquer economia”, em palestra no seminário organizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nesta semana, no Rio de Janeiro.

Em publicação do site petista sobre a decisão do Copom, o partido considerou que o país está “em atraso” diante da “ameaça de crise sistêmica nos sistemas bancários” e julgou o resultado como “um ato de ataque à economia popular e ao crescimento econômico nacional”.

Na última terça-feira, em entrevista ao site Brasil 247, Lula afirmou que “vai continuar batendo e tentando brigar” para que a taxa de juros seja reduzida.

Além disso, na mesma entrevista o chefe do Executivo lamentou não poder demitir o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sem citá-lo nominalmente.

Comunicado “pegou governo de surpresa”

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), disse a jornalistas nesta quinta-feira que o comunicado do Copom pegou o governo de surpresa – embora a decisão de manutenção da taxa de juros já fosse prevista – e afirmou que agora espera uma ata mais “imparcial e justa”.

“Não houve surpresa em relação à manutenção da taxa em 13,75%. Nós já esperávamos por isso, embora não quiséssemos”, afirmou a ministra. “Mas o comunicado saiu muito mais apertado do que prevíamos. Então, vamos aguardar a ata, que seja uma ata que venha de forma imparcial e justa com o Brasil”, completou.

Segundo Tebet, o comunicado do Copom não levou em conta as medidas adotadas pela equipe econômica para diminuir o déficit fiscal previsto no início da gestão atual. “Os fatos mostram todo o esforço que o governo está fazendo para que possamos conter os gastos públicos, apresentar projetos sociais relevantes, mas com responsabilidade social”, declarou.

Questionada sobre as medidas do governo para cortar gastos, Tebet discordou que o governo não está trabalhando pela redução de despesas. “Todos os gastos que estamos fazendo neste momento são impositivos, aprovados por uma PEC [Proposta de Emenda à Constituição]”, afirmou.

Tebet, contudo, disse em outro momento que, na atual situação de baixo crescimento da economia brasileira e de agravamento do problema da fome, “não é hora de falar, nestes dois primeiros bimestres, de corte de gastos. É hora de falar de qualidade de gastos”.

“O Copom não pode ficar longe da meta da inflação”

Apesar disso, há uma lista de autoridades que acreditam que o BC agiu corretamente e que o governo está errado. Isso porque Haddad descumpriu sua promessa de apresentar o projeto do novo arcabouço fiscal antes da reunião do Copom. Encabeça essa lista o presidente da Câmara, Arthur Lira.

“O Copom não pode ficar longe da meta da inflação”, disse Lira durante entrevista coletiva no Salão Verde, ressaltando uma tecnicidade por trás da decisão do comitê.

“Se está distante da regra e o Copom baixa juros, corre-se o risco de um processo inflacionário, que custa mais caro do que o efeito danoso da taxa de juros”, afirmou.

Lira disse que o momento é delicado e que é necessário um armistício para que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, “possam apresentar e discutir o arcabouço fiscal na volta do presidente Lula da China”, prevista para abril.

A autoridade monetária só terá elementos para analisar o cenário e sinalizar redução de juros quando o arcabouço for aprovado, de acordo com Lira. “O Copom não pode fazer uma análise sobre um texto que sequer foi apresentado”, ressaltou.