O que explica o protagonismo dos países emergentes no cenário global

Brasil é a nação de destaque entre as que estão em desenvolvimento

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Por Oscar Decotelli

A pandemia de COVID-19 desencadeou uma série de consequências no cenário econômico global. Hoje, após mais de três anos desde seu início, a maioria dos países ainda enfrenta dificuldades significativas no controle da perigosa combinação de altas taxas de juros e inflação elevada, herança de um dos maiores e mais rápidos ciclos de flexibilização monetária e fiscal já registrados.

Embora essa sequência de eventos tenha sido amplamente observada na maioria dos países, é incontestável que as nações desenvolvidas e em desenvolvimento, com destaque para a América Latina, exibiram soluções e resultados distintos. 

Enquanto as nações latino-americanas, mais familiarizadas com um ambiente de incerteza macroeconômica, prontamente elevaram suas taxas de juros para antecipar o ciclo e controlar a inflação de forma eficaz e bem-sucedida.

Já os países desenvolvidos, como os Estados Unidos, continuam a enfrentar o desafio persistente de conciliar o índice de preços com as mais elevadas taxas de juros registradas em décadas (atualmente entre 5,25% e 5,50%).

A nação americana se encontra em uma situação ainda mais delicada, na qual mesmo um aumento substancial nas taxas parece não ser suficiente para conter a atividade econômica, e um pequeno movimento por parte do Federal Reserve pode ser a linha tênue entre um soft e um hard landing.

Somado a isso, existem outros fatores que contribuem para a instabilidade do panorama norte-americano – como, por exemplo, o peso dos ativos especulativos (e de tecnologia) na economia. 

Nos últimos anos, as companhias desse setor, cujo valuation tende a estar bastante relacionado com o valor de sua perpetuidade, ganharam cada vez mais notoriedade e relevância nos principais índices de ações nos Estados Unidos. 

Dessa forma, uma vez que taxas de juros consideravelmente mais altas causam uma queda significativa na perpetuidade dessas empresas (e, consequentemente, em seus respectivos valuations), o mercado de ações sofreu um impacto significativo, e, apesar de relativamente recuperado, ainda carrega fortes incertezas. 

Isso, somado à deterioração contínua dos padrões fiscais e de governança ao longo das duas últimas décadas – o que resultou, em maio deste ano, em mais uma preocupante batalha pela elevação do teto da dívida – fez com que a agência de crédito Fitch Ratings rebaixasse a classificação de crédito do país. Esse movimento, que surpreendeu os especialistas, ocorreu logo após a elevação do Brasil no ranking por parte da mesma agência. 

É inquestionável que em períodos de crise e incerteza, o fluxo de capital costuma se direcionar para ativos considerados seguros, geralmente associados aos Estados Unidos. No entanto, avanços no âmbito macroeconômico e melhorias no cenário fiscal fazem com que determinados mercados emergentes atraiam a atenção global.

Assim, estabelecido como uma verdadeira superpotência global no setor agroindustrial e com uma riqueza de recursos naturais única, o Brasil tem assumido um papel de destaque dentro desse grupo nos últimos meses. 

Essa segurança, que de certa forma transcende aquela proporcionada por economias orientadas pela especulação, é constantemente fortalecida pelo progresso gradual do cenário macroeconômico e pelo crescimento exponencial da demanda por ativos fundamentais que compõem o núcleo dos negócios do país, como commodities, metais para transição energética, entre outros. 

Esse cenário, portanto, não apenas abre o leque de oportunidades de investimento no país, mas reforça sua relevância como uma força econômica influente no cenário global.