Por Marcio Aith
São Paulo, 23/01/2023 – De trinta em trinta anos, a direita no Brasil tem o curioso hábito de eleger Presidentes da República excêntricos, que completaram seus mandatos de forma turbulenta. Jânio Quadros proibiu corridas de cavalo nos dias de semana e “vestes indecentes” em concursos de beleza. Proibiu também as rinhas de galo. Verificava diariamente o cumprimento da lei. Jânio foi eleito em janeiro de 1961. Renunciou inesperadamente, pelas portas dos fundos, em 25 de agosto do mesmo ano, alegando “forças ocultas”.
Trinta anos depois, Fernando Collor de Mello inaugurou uma Presidência “viril”. Andava de motos potentes, de Jet Sky, vociferava contra comunistas e esquerdistas, fossem eles ameaças ou não. Teve o mérito de abrir a economia, ainda que de forma anárquica. Produziu dois planos econômicos desastrosos. Foi à debacle por denúncias de corrupção e por não se curvar a um Congresso com interesses e métodos enraizados. Collor tomou posse em 15 de março de 1990, e renunciou em 2 de outubro de 1992, para não enfrentar um impeachment iminente.
Mas sigamos mais 30 anos e encontramos Jair Bolsonaro, saído do obscurantismo do baixo clero do Congresso. Elegeu-se na esteira da Lava Jato, da pauta de costumes de direita – resultado do aumento expressivo de fiéis evangélicos no país – e da comoção causada pela facada que levou durante um comício em Juiz de Fora (MG)T
Tanto Jânio quanto Collor e Bolsonaro foram incapazes de se reeleger. Mas, enquanto os dois primeiros não deixaram sucessores com potencial eleitoral, Bolsonaro elevou ao palco nacional Tarcísio Gomes de Freitas. Eleito governador de São Paulo, é carioca, tem 47 anos de idade, foi militar e consultor legislativo na Câmara dos Deputados.
Foi diretor do DNIT durante o governo Dilma, que chegou a promovê-lo, dando a ele um selo de qualidade. Durante o governo Bolsonaro, revelou ser um ministro da Infraestrutura técnico e isento de influências ideológicas, embora se mantivesse próximo do Presidente.Tarcísio é discreto, equilibrado e conciliador. Um exemplo de sua habilidade política foi driblar a máquina de intrigas bolsonarista que queimou todos os (poucos) bons ministros. Pode-se dizer que Tarcísio seria uma espécie de Mandetta (ex-ministro da Saúde) que deu certo.
A marca da gestão Tarcísio de Freitas à frente do Ministério da Infraestrutura foi a grande capacidade de realização, concluindo obras que estavam paradas havia anos. Isso foi bem explorado politicamente pelo ministro e pelo governo federal. Sob seu comando, a pasta levou a cabo uma série de concessões à iniciativa privada. Pesquisas mostraram que Tarcísio conquistou o espólio do atual vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, pré-candidato ao governo estadual e, até mover-se para a esquerda, era considerado um político de centro-direita, firme contra o crime, e adepto de Concessões e Parcerias-Público-Privadas. Como se sabe, Geraldo abandonou o projeto de governar São Paulo para unir-se à chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.
A decisão de Alckmin não apenas deixou um vácuo enorme entre seus eleitores como abriu um flanco na direita sobre o qual Tarcísio soube desfilar com perfeição – em determinados momentos, parecia uma imitação formidável de Alckmin.Tarcísio governará um Estado complexo, terá de negociar com um governo federal hostil e, mais importante, terá de equilibrar-se entre a moderação, que se exige de um governador de São Paulo, e a cobrança para que adote uma retórica inflamada, em defesa do bolsonarismo. Palpite para o futuro político de Tarcísio: terá fortes chances de chegar à Presidência, em 2026 ou 2030, se fizer uma gestão exitosa e se, paradoxalmente, não chefiar a oposição. Por quê? Porque presidenciáveis fortes, em 90% das vezes, não são chefes oposicionistas. São símbolos da oposição, não chefes.
*O conteúdo da coluna é de responsabilidade de Marcio Aith e não reflete o posicionamento do FLJ