Por: Luciano Costa
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, tem conseguido superar uma desconfiança inicial do mercado, ganhando a confiança de analistas à medida que conduz a maior petroleira da América Latina sem grandes guinadas até o momento. Mas a avaliação sobre o desempenho do ex-senador petista e agora executivo não é tão positiva no Palácio do Planalto e no Congresso, e uma fonte próxima aos assuntos da companhia confirmou ao Faria Lima Journal que tem ouvido falar em uma solução “Bahia” circulando pelos corredores.
A redução nos preços do diesel anunciada ontem pela estatal poderia em tese diminuir o fogo da fervura em que alas do governo federal têm colocado Prates para fritar nos últimos meses, mas especialistas disseram que, até dentro das regras da antiga prática de preços da companhia, o tão vilanizado “PPI”, haveria margem para um corte ainda maior.
O reajuste “conservador”, assim, pode piorar a situação de Prates, ao invés de melhorar. Desde o início do mês há notícias da imprensa de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estaria sendo instado por aliados a colocar o atual chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), ex-governador da Bahia. O cargo também é sempre cobiçado por congressistas de partidos do Centrão.
Mais cedo neste ano, a ala baiana do PT conseguiu emplacar uma vitória na Petrobras com a decisão de suspender a venda do campo Bahia-Terra, que estava em fase avançada de negociação com Eneva e PetroRecôncavo, que já haviam inclusive pago uma antecipação à estatal para negociar os termos finais da transação com exclusividade.
Sob o comando de Prates, que tem formação técnica no setor de óleo e gás, incluindo estudos sobre Economia do Petróleo na França, diferente de diversos dos recentes CEOs, a Petrobras viu as recomendações de bancos e ccorretoras para suas ações saírem de uma recomendação média ´neutra´ para ´compra´, enquanto o preço-alvo das ações PN saiu de média de R$29,67 em junho para R$40,16 agora – aumento de 35%, de acordo com o Consenso TC Mover, elaborado com informações de diversas casas de análises. Os papéis operavam nesta sexta (08/12) a R$34,26, acumulando ganhos de quase 80% no ano.
Para um analista que segue Petrobras e falou ao Faria Lima Journal sob anonimato, é difícil prever qual seria a reação das ações a uma saída de Prates, até porque a ação da estatal é vista como descontada ante pares. Mas certamente a visão na Faria Lima seria negativa, porque a impressão do mercado é de que o executivo “segurou as pontas”, evitando os piores arroubos de petistas e Centrão sobre a companhia.
“O que ia acabar no final do dia derrubando de fato derrubando o papel é o plano de negócios novo que esse cara iria entregar. Se o Prates está saindo, é que ele não entregou alguma coisa. O que é essa coisa? Eu não sei, mas sei que não é bom”, disse o analista.
Nos últimos meses, têm sido frequentes cobranças do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), para que Prates reduza os preços dos combustíveis. Ele chegou a falar publicamente em “puxar a orelha da Petrobras”. Na imprensa, circulam há tempos notícias sobre insatisfação de Lula com o CEO, que foram aliviadas depois com uma reunião entre Lula, Prates e Silveira na qual tentou se colocar panos quentes nas brigas públicas.
As notícias sobre a possível substituição de Prates podem chegar a preocupar alguns analistas, mas ainda não “fizeram preço” — o mercado parece estar dando a chance da dúvida para Lula, após anos de trocas sucessivas de comando na petroleira no governo Bolsonaro — dejá vu? — que no fim não chegaram a gerar mudanças de fatopolíticas de preços dos combustíveis.
As pressões e ameaças sobre Jean Paul Prates, no entanto, não chegam a ser novidade e certamente não surpreendem o atual chefe da Petrobras. Enquanto as rivais BP e Shell tiveram três trocas de CEO desde os anos 90, e Total, Exxon e Chevron tiveram três presidentes cada, a Petrobras viu nesse período 20 diferentes CEOs.
(LC | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)