Por: Jorge Souto
Como comentei em uma de minhas colunas no FLJ, os criptoativos nos trouxeram um novo paradigma: não é mais necessário confiar em intermediários.
Apesar de ser uma evolução importante no modo como as pessoas se relacionam, esse novo modelo, assim como qualquer outro, tem prós e contras. Uma das principais críticas se refere à necessidade dos usuários controlarem suas chaves privadas.
Os sistemas criptográficos utilizam um modelo de criptografia assimétrica. De forma bem simples, um usuário tem uma chave pública que pode ser compartilhada, mas informações e valores contidos nessa chave pública só podem ser acessados utilizando a chave privada. A assimetria vem do fato de ser muito custoso e demorado para descriptografar o endereço público a fim de achar a chave privada que dá acesso às informações.
Uma das implicações desse modelo é que o usuário precisa ter muito cuidado ao guardar suas chaves privadas, já que se alguém mal-intencionado tiver acesso a elas, terá acesso aos seus valores e informações. Essa questão constantemente nos leva a discussões acaloradas no mercado. De um lado temos os proponentes do “not your keys, not your coins” que pregam a soberania e que cada um tem que cuidar de suas chaves privadas. Do outro lado estão aqueles que entendem que para muitos fazer a guarda das suas chaves privadas pode ser um problema e existem mais riscos que benefícios. Como sempre, o ponto ideal jaz entre um e outro.
Essa situação levou os desenvolvedores de cripto a buscarem soluções que melhorem a experiência do usuário, dando opções para facilitar a utilização de carteiras para interagir com as blockchains. Dessas pesquisas foi criado pelos desenvolvedores do Ethereum o padrão ERC-4337 que traz um modelo para a chamada “Account Abstraction”. Esse modelo permite que carteiras sejam criadas como contratos inteligentes, com configurações que tornam mais fácil o acesso para usuários menos técnicos. Essa atualização permite, entre outras coisas, facilitar a utilização de carteiras acessíveis com mais de uma chave privada, recuperação de carteiras, agregação de transações, transações gratuitas – pagas por um terceiro e pré-aprovações de transações.
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Para o mercado cripto receber uma nova onda de usuários é necessário ter uma evolução relevante na experiência dos usuários. Abstrair complexidades é um processo extremamente importante para chegar na adoção em massa. No início da era dos computadores e da internet a experiência dos usuários também era muito pobre e demandava um alto conhecimento técnico para realizar diversas ações.
Atualmente o mercado cripto encontra-se nos estágios iniciais de desenvolvimento. Apesar de já ter evoluído bastante desde a criação do Bitcoin, muito ainda precisa ser feito. O potencial do “Account Abstraction” é imenso e tem potencial de satisfazer ambos os lados pois não elimina a utilização de carteiras padrão, defendida pelos mais puristas.
O momento agora é de aguardar as diferentes blockchains e projetos aplicarem o padrão ERC-4337 e observar na prática os seus benefícios para os usuários. Há chances de isso representar uma nova onda de adoção e, consequentemente, valorizações nos tokens.
*O conteúdo da coluna é de responsabilidade do colunista e não reflete o posicionamento do FLJ
