Semana passada eu falei aqui no FLJ sobre o calote de R$600 milhões que a “gestora cripto” Brascompany deu em seus clientes. Bastante dinheiro né?
Sabendo que R$600 milhões é muito dinheiro, resolvi buscar nas demonstrações contábeis da empresa se eles tinham de fato capacidade de pagar esses R$600 milhões do calote cripto. E, para a surpresa de ninguém, foi constatado que não havia liquidez suficiente e os R$26 milhões que eles diziam ter como “ativos disponíveis”, não chegavam nem a R$0,5 milhão. A análise completa está no final do texto, para os mais curiosos.
Nesta segunda-feira, dia 13/02/2023, inclusive foi divulgado que o Ministério Público da Paraíba converteu o processo inicial, aberto no dia 26/01/2023, em um inquérito – na última sexta-feira, dia 10/02/2023.
O mistério dos dividendos parece ter sido resolvido aqui neste texto, mas, como diria Fred Jones Jr: turma, parece que temos um novo mistério em nossas mãos.
Se você de fato estiver interessado no assunto, recomendo que não perca o final.
A Brascompany tem capacidade financeira para pagar os “aluguéis de bitcoin”?
Na análise da capacidade financeira da Brascompany que eu publiquei no dia 09/02/2023 (link no final do texto), fui enfático ao afirmar que era “extremamente improvável que os clientes da Brascompany recebam seu dinheiro de volta”.
Isso porque, nesses casos, geralmente o dinheiro é torrado com ostentação e depois é escondido.
Mas as demonstrações contábeis, apesar de terem muitas inconsistências, já demonstravam que a empresa não teria capacidade de pagar os cerca de R$10 milhões por mês de “aluguéis de bitcoin” aos seus clientes.
Eles não tinham nem R$0,5 milhão de ativos disponíveis!
Nessa análise, me chamou a atenção o volume de dividendos que eles tinham a pagar.
Se você não sabe o que isso significa, dividendos são os lucros da empresa que são distribuídos aos seus donos.
Na Braiscompany, metade da empresa pertence a Antonio Neto Ais (conhecido como Toinho do Bitcoin) e sua esposa, que é presidente do Conselho de Administração, Fabricia Ais.
Pouco se fala sobre a Fabrícia Ais da Braiscompany, mas ela já foi CFO (Diretora Financeira) e atualmente Fabricia é Presidente do Conselho de Administração da empresa. O Conselho de Administração é quem dá todas as diretrizes estratégicas para que os diretores executivos (CEO, inclusive) possam executá-las. A decisão de distribuir dividendos vem do Conselho de Administração, inclusive.
Como a presidente do Conselho foi também CFO da empresa, é de se esperar que eles tenham feito as contas adequadamente, de modo a não prejudicar os pagamentos aos clientes, confere?
É isso que tentaremos entender nas próximas linhas.
Dividendo fantasma na Braiscompany: mais uma evidência da crise financeira?
Como eu disse no texto dia 09/02/2023, o quebra-cabeça dos dividendos da Braiscompany não foi resolvido por mim – até então.
Tive que fazer um monte de pressuposições, dado que eles não seguem os Princípios Contábeis Geralmente Aceitos no Brasil – mas deveriam, e falta transparência aos números.
Porém, além de usar bastante a minha criatividade, conversei com alguns amigos contadores muito mais experientes do que eu e ninguém conseguiu montar esse quebra-cabeça para entender de onde o dinheiro veio e para onde ele foi.
Pois bem.
Fred Jones Jr teria me dito que era hora de nos separarmos para buscar mais pistas.
Como eu não costumo desistir fácil de desafios, ouvi o conselho que Fred me deu na minha infância e continuei conversando com amigos. Um deles me deu a letra no final de semana.
Estava claro demais para eu conseguir ver, porque eu estava buscando a resposta na escuridão e não na luz.
Aqui está a resposta: a Braiscompany não distribuiu aqueles dividendos aos seus dois sócios, Antonio Neto Ais e Fabricia Ais!
Mas por quê?
Essa pergunta eu deixarei para o caro leitor pensar e para as autoridades apurarem. Talvez eu tenha uma ideia.
Do ponto de vista contábil, o valor registrado na conta “Dividendos, part. e juro sobre o capital” não tem lógica alguma.
Exceto se eles só distribuíram uma parte, mas não contabilizaram direito.
Aí fica uma curiosidade: por que eles declararam dividendos e não pagaram?
Desta maneira, acredito que eles já não estavam mais conseguindo captar novos recursos na mesma velocidade que tinham que pagar.
Depois da matéria que saiu domingo, dia 12/02/2023, informando que eles não operavam de fato os Bitcoins e saía mais dinheiro do que entrava, isso ficou muito claro.
Dividendos a pagar numa conta de longo prazo demonstra que a empresa não tem expectativa de pagar a quem é devido.
Sendo assim, a Braiscompany apenas se beneficiou ganhando confiança dos seus clientes, mostrando que era forte geradora de caixa, que tinha muita liquidez e que distribuía dividendos multimilionários aos seus dois sócios, que são o CEO e a presidente do Conselho de Administração.
Conclusão
No final das contas, a Braiscompany tinha dividendos fantasmas no seu balanço, ou apenas está sendo perseguida pelo fantasma dos dividendos a pagar aos seus clientes que estão sem receber há meses?
Com base nas informações publicamente disponíveis, eu acredito que a empresa já estivesse passando por uma crise financeira, no mínimo de liquidez, há bastante tempo e até justificada pelo severo inverno das criptomoedas.
Por fim, ainda temos o “mistério” das empresas coligadas.
Será que alguém conseguirá desmistificar o caso das empresas coligadas? Esse mistério só dá para ser resolvido com informações internas da empresa. Não dá para montar quebra-cabeça contábil.
Talvez Velma, com seus óculos, consiga…
Para ler a análise completa das demonstrações contábeis da Braiscompany, com todas as “inconsistências contábeis” encontradas, leia o meu texto no Portal do Bitcoin.