Por Erick Matheus Nery*
Até poucos anos atrás, a palavra “liderança” era sinônimo de profissionais com décadas de experiência no mercado. Contudo, essa realidade está mudando e, cada vez mais, profissionais com menos de 30 anos de idade comandam os negócios nos ramos onde atuam.
Mas o que está acontecendo? As empresas tradicionais estão enlouquecendo e entregando o bastão para profissionais inexperientes? Ou os jovens comandam seus próprios negócios? As respostas são inúmeras, e entender esse movimento ajuda a compreender o aspecto “mutante” do atual mercado de trabalho.
Por isso, a 30- conversa com quatro líderes que assumiram esse desafio antes de completar três décadas de existência: Luccas Riedo, Manu Digilio, Gabriel Dearo e Giovanna Tegani.
Aos 29 anos, Riedo tornou-se CEO da edtech G4 Educação, focada em educação executiva. E o desafio desse paulista não é nada fácil. Sua missão é fazer com que qualquer empresa, de qualquer segmento, se desenvolva até alcançar um alto faturamento no mais curto espaço de tempo.
Não existe uma fórmula mágica para alcançar essa missão, e sim treinamentos e muita mão na massa, junto com profissionais de renome do empreendedorismo como Tallis Gomes (Easy Taxi, Singu), Alfredo Soares (Vtex) e Bruno Nardon (Rappi).
Riedo assumiu a liderança da empresa em 2021, quando o negócio fazia seu primeiro planejamento “pós-pandemia”. “Lembro que a primeira frase que veio na minha cabeça foi algo como: ‘Muito feliz com o reconhecimento e desafio. Mas estou ferrado. Ano que vem preciso entregar’. A verdade é que você nunca vai estar preparado 100% para os desafios que você terá pela frente como CEO. Você vai precisar aprender a resolver os problemas conforme eles vão surgindo”, revela.
Engenheiro de formação, ele confessa que sempre teve uma “repulsa” por temas jurídicas, mas se viu em um beco sem saída ao ter que entender como uma nova lei impactava o negócio. “Mesmo com dois dos melhores escritórios de advocacia nos assessorando, tive que passar três dias inteiros em um final de semana estudando absolutamente tudo que via pela frente sobre o tema para tomar a decisão”, recorda ele, que confessa:
Isso foi totalmente fora da minha zona de conforto. Ao mesmo tempo, hoje tenho muito mais conhecimento para discutir com um advogado. Ser CEO é isso. Entender que você não sabe nada, detectar onde precisa de profundidade e ir atrás de fazer. E isso quase sempre está fora da sua zona de conforto.
Para o profissional, que hoje tem 32 anos, “as críticas geralmente vêm de quem está na arquibancada, e não de quem está jogando”. “ Então, se você está no caminho correto e tem o apoio das pessoas certas que podem avaliar seu trabalho, as críticas não têm nenhuma utilidade, basta descartá-las”, complementa.
O NEGÓCIO DO YOUTUBE
Com o boom da internet nos últimos anos, iniciativas simples, como um canal no YouTube, deixaram de ser “apenas” um passatempo e tornaram-se negócios. Vejam, por exemplo, o que aconteceu com o casal Gabriel Dearo, de 28 anos, e Manu Digilio, de 27 anos.
A dupla administra cinco canais na plataforma de vídeos que, somados, possuem mais de 19 milhões de seguidores e mais de três bilhões de visualizações. Além dos vídeos, eles escreveram os livros “As Aventuras de Mike”, com tirinhas e histórias para todas as famílias.
Assim, os “apenas” criadores de conteúdo tornaram-se empresários e, hoje, tem 14 colaboradores na equipe, entre administrativo, editores de vídeo, roteiristas, entre outros. “Começamos na internet produzindo conteúdo pensando muito mais como um hobby, nem passava pela minha cabeça que viraria uma empresa com equipe. Os canais foram crescendo, mas no começo a gente fazia tudo. Muito centralizadores, sabe? Mas percebemos que, para crescer mais, precisaríamos de mais pessoas nos ajudando”, detalha Digilio.
“Falam que ser um empresário é pular de um penhasco e construir um avião enquanto cai. E foi mais ou menos isso que senti. Foi um grande desafio, pois existiam muitas questões que eu não fazia a mínima ideia de como resolver. Todo dia novos problemas surgiam. Porém, isso me deixou mais forte, mais preparado. Uma coisa que eu nunca parei de fazer foi estudar e, com certeza, isso fez toda a diferença”, reforça Dearo.
Com a vida exposta na internet, as críticas tornam-se ainda mais ferozes, o que exigiu que eles desenvolvessem um jogo de cintura. “Costumo dizer que estudo muito mais hoje em dia do que quando estava na escola e faculdade. Participo de muitas imersões e sempre busco melhorar minhas habilidades de liderança”, diz a youtuber. E o influencer completa: “E claro, tudo isso alinhado com muito suor e dedicação pra fazer as coisas acontecerem”.
LIDERANÇA ALÉM DO POST
Em outro extremo do ciberespaço, Giovanna Tegani tem a missão de liderar as redes sociais do TC, ecossistema de soluções para o mercado financeiro. Com 28 anos, ela conta que precisa lidar, logo de cara, com três situações. Afinal, em quase todas as reuniões, ela é a única mulher, a mais nova e a única responsável pelo digital.
“São três níveis que normalmente não são levados muito a sério nesse mercado. Então, são três degraus a mais para eu transpor, para as pessoas começarem a levar a sério o que estou trazendo de pontos, de dados e de estratégias”, desabafa.
E liderar não é algo “novo” para a colunista do FLJ: aos 25, ela já havia comandado outro time e tinha o desafio de gerir pessoas com mais idade.
“É muito diferente você liderar pessoas mais velhas do que você porque, muito provavelmente, elas também têm mais tempo de mercado. E o que é muito difícil as pessoas entenderem é que somente o tempo não determina a sua experiência”, reflete.
“Acredito que a primeira coisa que você tem que lidar é com a humildade, porque não adianta você fingir que não é o mais novo, você é, tem que aceitar! Assim, você tem que entender que terá que ter o dobro ou o triplo da credibilidade para ser levado a sério. E é difícil não cair em uma síndrome do impostor, mas é importante ter a confiança de que você merece ter aquele cargo”.
VOLTA AO PASSADO?
Em um momento quase terapêutico, a 30- questiona qual mensagem esses líderes gostariam de enviar para seus respectivos “eus” do passado, quando eles assumiram esse desafio.
Luccas Riedo
Se você fizer uma prova sobre os conceitos de liderança, provavelmente vai tirar uma nota bem alta. Os conceitos de liderança são simples e estão por aí o tempo todo disponíveis de graça. A grande dificuldade sobre liderar é você conseguir perceber os momentos de aplicar cada um dos conceitos.
Isso é a “experiência”! Vamos melhorando ao longo do tempo. É inevitável que você cometa erros no início. Mas, o que mais me faz evoluir é sempre fazer análises críticas das decisões que tomamos depois de elas acontecerem. O aprendizado teórico ajuda, mas você identifica o seu modo de pensar por trás de cada decisão. É o que realmente pode te fazer evoluir mais rapidamente.
Então o conselho aqui é: vai lá e faz. Saiba que você vai errar muito. Não se martirize por cada erro. Mas não erre em vão. Procure entender profundamente o motivo de cada um deles e o que você fará diferente na próxima vez que aquele cenário acontecer.
Manu Digilio
Diria que é preciso ter MUITA resiliência e muito foco aonde você quer chegar. Estar em um cargo de liderança requer muita responsabilidade e ter uma habilidade na tomada de decisões rápidas. Muitas vezes temos que deixar o orgulho de lado e aprender a se desapegar de decisões que você tomou, pensando no futuro do negócio. Não é nada fácil, e admiro muito quem chega lá.
Gabriel Dearo
Tem uma frase que é assim: “A palavra convence, mas o exemplo arrasta”.
O melhor tipo de liderança, na minha visão, é sendo o exemplo. Seja o que você quer que seus liderados sejam. Sua equipe vai ser um reflexo de você!
Se dedique, seja o melhor que puder, e terá uma equipe no mesmo nível! Sozinho não vamos muito longe, mas quando alinhamos pessoas em volta de uma mesma missão, aí as coisas acontecem.
Giovanna Tegani
Tenha pressa! Quando você tem pressa, você se esforça mais! É mais cansativo? É, mas acho que é mais cansativo na idade certa, que a idade quando você tem muito gás para alcançar as coisas.
Quando a gente não nasce em berço de ouro, naturalmente, a gente tem muita coisa a perder. Então tive medo, mas acho que eu não precisaria ter tanto medo. Acho que se eu tivesse sido ainda mais corajosa, talvez eu estivesse ainda mais a frente do que estou hoje.
*As opiniões dos colunistas do FLJ não refletem a posição do veículo.
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30- é uma coluna semanal do FLJ, assinada por Erick Matheus Nery e que conta com conteúdos voltados para jovens profissionais em início de carreira.