Coluna de Marcio Aith

Análise: O isolamento e a fragilidade de Lula 3

Análise: O isolamento e a fragilidade de Lula 3
Agência Brasil

A análise controversa do advogado petista Kakay sobre o governo “Lula 3” sugere que, em muitos aspectos, o Presidente se encontra isolado e “está fazendo muito para perder a reeleição”. De fato, em seus primeiros dois anos de mandato, Lula não criou marcas novas nem implementou ajustes importantes, o que poderá pesar com a aproximação das eleições. 

 O Congresso, é verdade, impôs limitações à Presidência, enfraquecendo sua capacidade de ação. Mas a articulação política se mostra prejudicada, sobretudo pela falta de vozes críticas e excesso de áulicos ao redor do presidente. O PT envelheceu, perdeu conexão com a sociedade e reduziu sua presença nas redes sociais. Além disso, Lula hoje não conta com ministros fortes capazes de lhe dizer verdades duras — como José Dirceu e Antônio Palocci fizeram em governos anteriores. 

É importante ressaltar que o Brasil se transformou durante o período em que Lula esteve preso: era um país quando ele foi detido, e virou outro 580 dias depois, com inclinação mais forte à direita. Soma-se a isso a escassez de recursos orçamentários, que dificulta a concretização de projetos e perda de representatividade do partido em Estados e municípios relevantes. 

Apesar desse cenário, Lula pode ser beneficiado pela ausência de um adversário de peso. A indefinição sobre a elegibilidade de Jair Bolsonaro e sua relutância em lançar outros nomes na disputa favorecem o atual presidente, assim como a hipótese desastrosa de Bolsonaro de tentar lançar um familiar. Não há mais brechas para manobras fiscais que no passado garantiram reeleições, o que diminui o leque de estratégias do PT. Também existe a hipótese de Lula não concorrer, dando lugar a um cobrador de impostos, Fernando Haddad, figura carente de um projeto econômico forte como o Plano Real foi para o PSDB. 

A reeleição, que já foi praticamente garantida no Brasil, não é mais uma certeza, como a derrota de Bolsonaro demonstrou. Lula, habilidoso politicamente, tem consciência disso, mas talvez encontre limitações em razão da idade e da falta de nomes capazes de renovar seu governo. A única novidade efetiva na gestão é Janja Lula da Silva — cuja atuação não vem sendo considerada um alento.  

Nas próximas eleições a população brasileira continuará polarizada e resta saber se Lula conseguirá retomar sua antiga capacidade de articulação. Ele hoje é apenas uma sombra daquele presidente que, mesmo sob o escândalo do mensalão, foi capaz de reeleger-se nas urnas, derrotando justamente seu atual vice, Geraldo Alckmin, no gogó e puxado pelo crescimento econômico. 

Veja as declarações do advogado Kakay no link abaixo 

https://www.cnnbrasil.com.br/politica/leia-a-integra-da-carta-enviada-por-kakay-a-governistas/