No presente momento, o Brasil – que ostenta a quinta maior área geográfica do planeta e lidera em termos de terras aráveis (ainda não plenamente aproveitadas) – se encontra entre os cinco maiores produtores de mais de 30 commodities diferentes, sendo um dos principais exportadores de importantes produtos agrícolas e alimentícios para mais de 200 países e territórios.
O país se destaca não só pela sua riqueza em minérios como ferro, nióbio, manganês, bauxita, ouro, cobre, níquel e zinco, mas também pela sua posição de liderança na produção e exportação de produtos agrícolas essenciais – como soja, café, cana-de-açúcar, laranja, milho, suco de laranja, carne bovina, frango, entre outros. Essa diversidade e abundância de recursos torna o Brasil um gigante econômico, que ostenta um potencial inexplorado e complexo de ser plenamente mapeado.
Traduzindo esse cenário para o âmbito dos investimentos, investidores institucionais e de perfis mais sofisticados têm impulsionado a alocação de capital em terras agrícolas no Brasil. Com isso, além de ficarem expostos a um dos principais países intensivos em ativos reais – o que é particularmente desejado em épocas de incerteza global – os agentes econômicos também se inserem em uma alocação resiliente, pouco correlacionada com investimentos tradicionais e que atua como um reconhecido hedge contra inflação – características que regem o alcance efetivo de uma diversificação e proteção de um portfólio.
Por outro lado, embora o Brasil seja amplamente reconhecido por sua proeminência nas mais diversas commodities, cabe ressaltar que o país destaca-se ainda mais quando se trata do mais crucial dos recursos: a água.
A água, de forma direta ou indireta, está intrinsecamente conectada a todos os aspectos do ecossistema global. Com uma atuação ubíqua – presente no corpo humano, nos mais diversos processos de produção, no algodão das roupas, na geração de energia e nos alimentos – ela se posiciona como os mais vitais dos elementos e como alicerce fundamental para a preservação da vida no planeta.
Nas últimas décadas, é indiscutível que a percepção desse recurso experimentou uma transformação significativa. O que outrora era considerado inesgotável, atualmente, diante da agravante escassez potencializada pelas mudanças climáticas, poluição e desperdício, a água emergiu como uma esfera que demanda urgentemente inovação e investimentos para assegurar sua preservação e impulsionar avanços. Assim, sendo um bem extremamente valioso, os países que apresentarem vantagens competitivas nesse sentido certamente estarão bem posicionados para não só usufruir de forma mais flexível desse elemento, mas também para capitalizar das oportunidades geradas pela posse de um recurso cada vez mais escasso.
Há diversas razões pelas quais o Brasil é internacionalmente reconhecido por seu notável potencial hídrico, destacando-se como um dos países mais privilegiados nesse aspecto. O território brasileiro é atravessado por inúmeras bacias hidrográficas, com destaque para a Bacia Amazônica – considerada a maior do mundo. Essa bacia abriga a maior reserva de água doce superficial do planeta, proporcionando ao Brasil aproximadamente 12% de toda a água disponível globalmente.
Além disso, o país possui diversos aquíferos, sendo o Aquífero Guarani o segundo maior do mundo em termos de volume de água subterrânea. Esses reservatórios subterrâneos, por sua vez, desempenham um papel fundamental no fornecimento de água para o abastecimento humano e as atividades agrícolas.
O país é cortado por extensos rios, como o Amazonas – o rio de maior volume de água no mundo – e outros numerosos lagos e represas, como o Lago de Sobradinho e a Represa de Itaipu, que contribuem como fator chave para a geração de energia hidrelétrica (a maior fonte de eletricidade no país).
A Amazônia, também conhecida como “pulmão do mundo” e “coração do Brasil”, também desempenha um papel crucial na regulação do ciclo hidrológico do país. A sua vegetação, que atua como uma esponja, absorve e libera grandes volumes de água, contribuindo para a formação de nuvens e chuvas. Já a proximidade do Brasil à linha do equador proporciona altos índices de radiação solar ao longo do ano para grande parte do país, o que resulta em temperaturas elevadas no território. Essa condição, combinada com a presença das florestas tropicais, favorece a evapotranspiração – um processo pelo qual as plantas liberam vapor d’água para a atmosfera – que, ao se condensar, formam nuvens e resultam em chuvas abundantes. Assim, o ciclo hidrológico é intensamente influenciado pela vegetação, onde ambos se auto alimentam e se potencializam.
Nesse cenário, não há dúvidas de que o Brasil atua como um epicentro de potencial hídrico. Contudo, para maximizar o aproveitamento desse recurso, é imperativo adotar uma estratégia holística, canalizando investimentos não apenas no elemento em si, mas também nas grandes indústrias que dele dependem – como a agricultura.
Assim, os investimentos direcionados ao setor agrícola brasileiro e às iniciativas que visam melhorar sua eficiência não se limitam apenas ao desenvolvimento econômico e à potencialização desse segmento específico, mas também refletem um compromisso com a gestão eficaz e a alocação sustentável dos recursos hídricos do país – procedimento que, dado o papel ocupado pelo Brasil nesse contexto, certamente possui um importante efeito em escala global.