Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11) podem sair vencedoras do ciclo de baixa de celulose

O valor da celulose fibra curta na China (BHKP) caiu para US$599,80

Pixabay
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Por Artur Horta

Os preços da celulose de fibra curta tocaram o menor patamar em cerca de um ano, aproximando-se do custo marginal de produtores ao redor do mundo, mas vantagens competitivas do Brasil podem fazer com que empresas como Suzano e Klabin saiam fortalecidas do ciclo de baixa da commodity, disseram analistas e gestores à Mover.

Na última sexta-feira, o valor da celulose fibra curta na China (BHKP) caiu para US$599,80 por tonelada, em movimento que ocorre sobretudo pelo desequilíbrio entre oferta e demanda.

A média do custo marginal de produção da commodity, por sua vez, está hoje em entre US$560,00 e US$600,00 por tonelada, segundo consultorias globais do setor. Com a cotação no mesmo patamar dos custos, algumas empresas são obrigadas a reduzir o tamanho das operações, já que elas deixam de ser rentáveis, mas esse não deve ser o caso das brasileiras, segundo o chefe de análise de empresas do setor no Itaú BBA, Daniel Sasson.

“Quando converso com investidores, ninguém parece achar que Suzano e Klabin estejam caras nessas circunstâncias”, disse Sasson à Mover, embora citando preocupações do mercado com o “momentum” dos resultados, “um pouco mais negativo devido à celulose e câmbio”.

Assim, em um horizonte maior, alguns produtores de celulose na América Latina e também na Ásia podem se beneficiar das vantagens competitivas dessas regiões, que permitem operação bem mais eficiente que a produção no Norte do planeta.

Em relatório no final de março, analistas do Santander disseram que as empresas do setor podem negociar num patamar mais baixo “até que os preços da celulose se estabilizem”. Mas esse cenário “abre um valor significativo de longo prazo” dentro do universo de cobertura do banco.

Ações do segmento de celulose da América Latina têm operado com desconto de 30% em relação à média dos últimos cinco anos, escreveram os analistas Rafael Barcellos e Arthur Biscuola, do Santander Investment.

O CEO da gestora Finacap, Luiz Fernando Araújo, que detém posição comprada em ações da Suzano, avalia que a maior produtora de celulose de eucalipto do mundo deve se consolidar como importante fornecedora durante a baixa da commodity, uma vez que sua eficiência permite investir em expansão mesmo em cenário desafiador.

“As menos eficientes perdem mercado e abrem espaço para as companhias que possuem custo de produção baixo”, explicou.

A Suzano tem um custo caixa abaixo de US$200 por tonelada no Brasil, beneficiada pelas condições do clima, abundância de água e solo adequado para o cultivo de eucalipto. Na Europa e outras geografias do Hemisfério Norte, por outro lado, não há muita disponibilidade de terra e as árvores demoram mais a crescer, acrescentou Araújo.

A pergunta que os investidores se fazem é: em que patamar a celulose vai estabilizar?

Enquanto os preços recuam, as ações das produtoras brasileiras seguem na mesma direção. As ações ordinárias da Suzano e as units da Klabin caem, respectivamente 3,93% e 14,80% no acumulado do ano, enquanto o Ibovespa cai 5,04%.

Para Araújo, da Finacap, os papéis também podem estar sofrendo pela postura agressiva das companhias com relação a investimentos em expansão, como o Projeto Cerrado, da Suzano, e o Figueira, da Klabin. “Isso no curto prazo acaba sendo ruim, pois o investidor de commodities exige mais dividendos do que crescimento”, avaliou.

NO FUNDO DO POÇO, O ALÇAPÃO?

A queda da celulose ao patamar de custo marginal das produtoras chegou mais rápido do que previa a maioria do mercado, que já aguardava uma acomodação de preços ao longo do ano após um 2022 recorde.

Mas não é possível cravar no momento quando será o “fundo do poço” no segmento, uma vez que o mercado ainda pode se ajustar em níveis mais baixos de preços antes que haja uma diminuição da capacidade, como já ocorreu no passado, em 2020 por exemplo, disse Sasson, do BBA.

Segundo o analista, além do momento negativo do ciclo, o receio de desaceleração na demanda da Europa por uma eventual recessão têm deixado papeleiros mais apreensivos, contribuindo para a queda de preço da fibra – o velho continente responde por 45% a 50% do consumo de celulose.

De acordo com Sasson, há expectativas de aumento de 3 milhões na capacidade de produção de celulose de fibra curta até 2024, enquanto o consumo deve crescer de 1,0 milhão a 1,5 milhão de toneladas, em linha com a média histórica.