Paralisação nos EUA pode impactar mercados e aumentar aversão ao risco

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Reuters News Brasil
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Por: Fabricio Julião

Os Estados Unidos enfrentam uma contagem regressiva para evitar um “shutdown”, a paralisação parcial do governo, cenário que estimula o sentimento de aversão ao risco global e que tem impactado os mercados. A situação pode ainda ocasionar o enfraquecimento da principal economia do mundo.

O QUE ESTÁ EM JOGO

Existe atualmente uma disputa no Congresso americano para aprovar o financiamento do governo federal para o ano fiscal de 2024. Caso haja um impasse no Legislativo sobre o orçamento, agências federais consideradas “não essenciais” vão interromper os serviços, pois os servidores públicos não receberão os pagamentos durante o período e entrarão em um tipo de licença forçada.

O aumento da tensão em Washington é decorrente do prazo apertado para que os projetos de lei sobre financiamento das agências sejam aprovados. O ano orçamentário federal começa em 1º de outubro, o que significa que os congressistas americanos têm mais três dias para chegar a um acordo e aprovar um plano que tenha respaldo do presidente americano Joe Biden.

“Desde o governo [do ex-presidente Barack] Obama, quando a polarização nos EUA aumentou, os congressistas têm deixado os acordos para o último dia sobre as negociações orçamentárias que podem acarretar em ‘shutdown. Mas acredito que seja como for, Biden sairá como derrotado politicamente”, disse opresidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), o economista Igor Lucena.

COMO ISSO AFETA OS MERCADOS

“Os mercados globais estão estressados e é normal que isso aconteça até amanhã, o último dia útil antes do prazo final de negociação para que o ‘shutdown’ não ocorra. Essa situação impacta principalmente no câmbio, com investidores retirando seus recursos de países mais arriscados, como o Brasil, em busca de proteção enquanto a situação não se resolve”, afirmou Lucena.

O economista acredita que a situação não chegará ao extremo de uma paralisação parcial por muitos dias, pois isso acarretaria em perdas econômicas aos EUA e arranharia a confiança dos investidores em relação ao dólar.

“Seria um golpe institucional forte, pois começariam a surgir dúvidas futuras sobre as condições de os EUA honrarem seus compromissos, e isso geraria dúvidas sobre o dólar como moeda de reserva”, acrescentou.

IMPACTOS DE UMA PARALISAÇÃO

A paralisação do governo americano pode reduzir em 0,2% o crescimento econômico do país por semana, segundo projeção do Goldman Sachs. A Associação Nacional de Viagens dos EUA anunciou que o setor perderia US$140 milhões por dia com o “shutdown”.

A paralisação parcial mais longa ocorreu entre 2018 e 2019, durante o governo do ex-presidente Donald Trump. Foram cinco semanas que resultaram em perdas na ordem de US$11 bilhões nos dois trimestres seguintes. Em 2013, quando Obama era o presidente, uma paralisação total reduziu o crescimento do Produto Interno Bruto americano em US$20 bilhões, segundo estimativa da Moody’s.

A empresa de classificação de risco comunicou que a paralisação atual não traria efeitos severos à economia americana, mas contribuiria para que investidores tenham menos confiança para com o país.

“Embora os pagamentos do serviço da dívida do governo não sejam afetados e seja improvável que uma paralisação de curta duração perturbe a economia, isso sublinharia a fraqueza da força institucional e de governança dos EUA em relação a outros governos soberanos com classificação AAA que realizamos nos últimos anos”, destacou a agência.

IMPASSE NO CONGRESSO

O imbróglio atual ocorre porque os Republicanos, partido de oposição, são maioria na Câmara dos Representantes e exigem cortes no Orçamento para aprovar os projetos de lei do governo Biden. No Senado, a situação é outra, pois a Casa é controlada pelos Democratas, que esperam um acordo concluído o quanto antes.

Republicanos da Câmara, liderados pelo presidente da Casa Kevin McCarthy, rejeitaram os níveis de gastos para o ano fiscal de 2024 que haviam sido acordados com Biden em maio. Agora, na iminência de uma paralisação parcial, uma parcela de congressistas da extrema-direita exige uma redução de US$120 milhões no orçamento, além de uma legislação mais dura para impedir o fluxo de imigrantes na fronteira sul dos EUA com o México.

Esta reportagem foi publicada inicialmente pelo TC às 14h00min. Para ter acesso a conteúdos como esse com exclusividade, assine um dos planos do TC.