Lula diz que é preciso baixar os juros do consignado, mas anúncio não teve acordo com todo governo

Lula também disse que o arcabouço fiscal só deve ser apresentado após a viagem da comitiva brasileira à China

Lula Marques/ Agência Brasil
Lula Marques/ Agência Brasil

Por Simone Kafruni e Stéfanie Rigamonti

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse hoje que é necessário baixar os juros do crédito consignado, mas que o anúncio da medida não teve acordo com todo o governo. Em entrevista ao Portal 247, Lula criticou o chefe do Ministério da Previdência, Carlos Lupi (PDT), e relembrou uma reunião com ministros, quando desautorizou sua equipe a divulgar medidas que ainda não foram discutidas com a Casa Civil.

“Era uma medida boa, que podia ser 100% favorável, mas criou um clima ruim porque foi anunciada assim, sem debate. Os bancos não estavam prontos, nem podem baixar juros na rapidez que gostaríamos”, justificou.

Em 13 de março, Lupi anunciou, pelo Twitter, que o teto dos juros do empréstimo consignado dos beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) iria ser reduzidos de 2,14% para 1,7%. Ontem, o governo recuou e bancos privados e públicos suspenderam as operações. Costa, da Casa Civil, prometeu resolver a questão até a próxima sexta-feira.

Segundo Lula, é necessário baixar os juros porque os consignados aumentaram o endividamento de aposentados. “Sei que não dá para baixar muito, porque tem uma lei que regulamenta isso, mas tem banco que cobra 8%, 9% ao mês”, afirmou.

“Quem ganha R$1,4 mil por mês, como é que vai pagar 9% de juros? Isso é um roubo do coitado do aposentado”, disse Lula.

Contudo, ele ressaltou que antes do anúncio oficial era preciso ter um acerto para que a medida envolvesse os ministérios da Fazenda, do Planejamento e fosse tratada com o sistema financeiro, com bancos públicos e privados.

“Mas não. O Lupi anunciou. Eu falei que ele tinha que acertar com o Rui [o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT)] e ele anunciou antes”, destacou.

Vale lembrar que na mesma reunião ministerial, Lula fez essa crítica e determinou que nenhum ministro divulgasse nada sem antes debater com a Casa Civil também por conta de uma medida anunciada pelo ministro de Portos e Aeroporto, Márcio França (PSB), sobre redução no preço de passagens para servidores, idosos e estudantes.

ARCABOUÇO FISCAL

Lula também disse que o arcabouço fiscal só deve ser apresentado após a viagem da comitiva brasileira à China, cujo retorno está previsto apenas para abril, como antecipou ontem o Scoop.

“Tem que anunciar arcabouço e depois discutir, dar satisfação. O Haddad [ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT)] não pode comunicar o marco fiscal e sair para a China”, justificou.

Lula disse que o arcabouço fiscal já está maduro, mas que não pode faltar dinheiro para a saúde. “Quando voltar da China, Haddad se reunirá para tratar do arcabouço fiscal. Esse tema precisa de debate”, afirmou.

O arcabouço fiscal é a regra que substituirá o Teto de Gastos e a expectativa é que ela contemple o controle de gastos, considerando o resultado primário, para reduzir a dívida pública.