Por Bruno Andrade
O lucro do Itaú (ITUB4) pode ser 1% menor que o esperado em 2024, após a aprovação de projeto no Congresso que prevê redução dos juros do rotativo do cartão de crédito, de 440% para um teto de 100%, disseram analistas da XP Investimentos em relatório enviado aos clientes nesta terça-feira (03).
As novas regras para as taxas de juros do rotativo foram incluídas na proposta de criação do programa federal de renegociações de dívidas Desenrola, aprovada ontem no Senado, depois de passar pela Câmara. O texto, que vai agora para sanção presidencial, deve afetar desde os grandes bancos até os chamados ´neobancos’, como o Nubank.
Os analistas Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, buscaram calcular eventuais impactos sobre o maior banco privado do Brasil, o Itaú Unibanco. “Estimamos que o lucro líquido proveniente do rotativo seja da ordem de R$600 milhões. Com um limite dos juros do rotativo em 100%, este lucro seria reduzido para cerca de R$230 milhões, ou seja, uma queda de R$370 milhões (aproximadamente 1% do lucro líquido esperado para 2024)”.
Eles comentaram ainda que, mesmo que o impacto aparente ser modesto, seguem acreditando que a aprovação de um teto tende a ser negativa para a percepção de risco do setor como um todo.
“Reforçamos que, caso a mudança ocorra, os bancos, que estão contrários à mudança, podem responder mudando suas condições de parcelamento sem juros”, argumentaram Guttmann, Guimarães e Nobre.
A limitação da taxa de juros do rotativo do cartão vinha sendo discutida desde o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e acabou incluída no projeto do Desenrola. Pela proposta, as operadoras de cartão de crédito poderão apresentar uma proposta de autorregulação dos juros do rotativo em até 90 dias.
Ainda assim, os especialistas explicaram que a proposta não ficou tão clara. Para alguns, a redação deveria ser entendida como uma taxa máxima de 100% ao ano. Uma outra ala tem o entendimento que o máximo de juros só poderia ser igual ao valor do principal. Ou seja: se a dívida fosse de R$100, o cliente pagaria R$200 no máximo, sendo R$100 de principal e os outros R$100 a título de juros e encargos financeiros.
“Em conversas com nosso time de política, nos parece que a visão que deverá prevalecer é de que o teto dos juros será o equivalente ao dobro do principal. Essa foi a métrica da nossa conta”, explicaram Guttmann, Guimarães e Nobre, sobre suas estimativas.