Por Gabriel Ponte
Os desdobramentos de uma turbulência bancária nos Estados Unidos e na Europa estiveram no centro das discussões do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) até o último momento da decisão de juros na mais recente reunião, em março, informou o The Wall Street Journal nesta quinta-feira, citando fontes familiarizadas com o assunto.
As autoridades do FOMC tomaram a decisão de juros apenas na segunda-feira, 20 de março, após autoridades suíças concordarem com a aquisição forçada do Credit Suisse pelo UBS. O movimento foi pouco usual, dado o contexto de que o racional por trás das decisões usualmente é tomado na semana que antecede a reunião.
Segundo o jornal, elevar os juros em 25 pontos-base na reunião do FOMC de março pode dar ao Fed maior flexibilidade para decidir sobre a taxa-alvo Fed Funds na reunião de maio. O banco central dos EUA pode abrir mão de um aperto, por exemplo, se perceber condições de crédito mais restritas na economia.
As autoridades do FOMC lidaram com duas opções em março: elevar os juros em 25 pontos-base, sinalizando incerteza sobre a extensão do ciclo, ou manter os juros estáveis e elevá-los na próxima reunião, em maio.
Powell chegou a cancelar os planos agendados de participar de uma reunião de banqueiros centrais na Suíça, no fim de semana do dia 11 de março, para coordenar com outros reguladores norte-americanos um plano para garantir o resgate de depositantes não segurados de bancos falidos nos EUA – o Silicon Valley Bank e o Signature Bank.
De acordo com a publicação, na sequência daquele fim de semana, Powell já havia afirmado aos membros votantes do FOMC que esperava prosseguir com um aumento da taxa-alvo Fed Funds em 25 pontos-base na reunião do Fed de 21 e 22 de março, mas precisava ver se o estresse bancário diminuiria.
No entanto, após o estresse na Europa no fim de semana do dia 18 de março, com a compra do CS pelo UBS, Powell acompanhou durante a madrugada de domingo para segunda-feira, 20, a reação dos mercados europeus à fusão forçada dos dois maiores bancos da Suíça.
De acordo com o Wall Street Journal, a reação inicial, extremamente negativa dos papéis, levou Powell a questionar se o Fed poderia prosseguir com a alta de 25 pontos-base na reunião do FOMC.
O sentimento melhorou posteriormente, com a abertura dos mercados acionários nos EUA, e a reação positiva. Os papéis de bancos na Europa também encerraram em alta, e viveram um rali na terça, em um sinal de calmaria nos mercados. As autoridades do FOMC, então, combinaram em elevar os juros e imprimir uma linguagem mais cautelosa em relação ao caminho adiante da política monetária.