Créditos de carbono atraem de bancos a elétricas e devem ganhar força no Brasil

De bancos a elétricas, o potencial vem atraindo a atenção de investidores

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Por: Luciano Costa

O potencial do Brasil para negociações de créditos de carbono, que já vem atraindo a atenção de investidores, deve ter ainda maior impulso diante da agenda ambiental do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disseram fontes ao Scoop. Recentemente, bancos, fundos de investimentos e grandes empresas, incluindo grupos do setor elétrico e até a Vale, têm feito movimentos para estar bem posicionados nesse mercado.

A matriz do banco espanhol Santander, por exemplo, fechou em março passado um acordo para a compra de 80% da consultoria brasileira em soluções ambientais e projetos de carbono WayCarbon, de olho no crescimento desse mercado nos próximos anos.

“O Brasil saiu de 3% de participação no mercado voluntário de carbono em 2020 para 12% em 2021. Imaginamos que o Brasil vá ocupar até 50% deste mercado até 2030. Observamos os créditos originados e vendas do Brasil crescendo, empresas desenvolvendo projetos, várias iniciativas”, disse ao Scoop a gerente sênior da WayCarbon, Laura Albuquerque.

Um exemplo foi a associação entre a mineradora Vale, os bancos Itaú, Santander e Rabobank, o grupo de papel e celulose Suzano e o frigorífico Marfrig, que criaram uma empresa, a Biomas, para restaurar e proteger matas nativas da Amazônia, gerando créditos de CO2. Esses créditos serão então vendidos para financiar as atividades.

“O Brasil está em uma posição estratégica. Devemos ver um movimento da Europa e dos países mais poluentes para adquirir créditos, para não serem penalizados. E o Brasil deve se tornar um grande exportador desses créditos”, afirmou o sócio especializado em energia do Lefosse Advogados, Pedro Dante.

“Tem diversos bancos interessados. As elétricas com geração renovável e as empresas de papel e celulose, por exemplo, já têm operações em seu ´core business´ que podem gerar créditos, e vão naturalmente sair na frente. Mas mesmo empresas de óleo e gás podem acompanhar essa demanda”, acrescentou ele.

Entre as elétricas, a AES Brasil fechou suas primeiras vendas no terceiro trimestre, de 465,8 mil créditos de CO2 oriundos de parques eólicos, gerando receita de R$10 milhões. A companhia ainda avalia negociar mais 2,7 milhões de créditos de usinas eólicas e solares. Também no terceiro trimestre, a Auren Energia disse ter negociado 200 mil créditos de CO2.

O potencial do nicho fomenta até negócios inovadores – a comercializadora de energia Urca Trading, por exemplo, levantou R$6 milhões em setembro com investidores individuais por meio da “tokenização” de contratos de venda de energia realizados por meio do Mercado Bitcoin, para bancar transações no mercado de CO2.

“O uso do recurso foi para financiar operações no mercado de crédito de CO2. Fizemos algumas operações, incluindo uma envolvendo um aterro na Amazônia”, disse o presidente da Urca Trading, Pedro Assumpção. O negócio ainda permitiu remuneração equivalente a cerca de 130% do CDI para os mais de mil investidores que entraram no negócio, paga em janeiro.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também busca impulsionar o desenvolvimento desse mercado, e para isso lançou editais para a aquisição de créditos de CO2. Até o momento, o BNDES realizou duas chamadas para negociações de carbono, uma com orçamento de R$10 milhões e outra de R$100 milhões, em agosto passado.

Para o presidente da consultoria PSR, Luiz Barroso, até as características do território brasileiro, como a liderança em florestas ainda preservadas, ajudam a colocar o país como possível potência no mundo da transição energética.

“Em uma economia em que o carbono vai ser uma moeda valiosa, o direito de emitir vai custar caro. E o Brasil é um país muito bem posicionado do lado da oferta de redução de carbono”, afirmou.