Por Bruno Andrade
“O Grupo Casas Bahia (BHIA3) vai voltar para o básico e focar em sua fortaleza para diminuir o risco de execução”, disse o CEO da companhia, Renato Franklin, em entrevista coletiva com jornalistas nesta quarta-feira (20).
A empresa, que é dona das Casas Bahia, Ponto, Extra.com.br e Bartira, mudou o nome de Via para Grupo Casas Bahia em meio a uma repaginação e reestruturação de marca após uma série de quatro prejuízos seguidos nos últimos trimestres, o que causou uma forte queima de caixa.
A situação ficou ainda pior com a alta da taxa básica de juros da economia, a Selic, que fez o endividamento da companhia disparar nos últimos dois anos, visto que a grande parte dos títulos emitidos pela empresa é atrelado ao CDI, uma taxa de juros do mercado que praticamente reproduz a Selic.
Para Franklin, a situação deve melhorar aos poucos. A retomada para o nome Casas Bahia significa que a empresa voltará para suas origens e vai focar na venda de bens duráveis, como guarda-roupas, geladeiras, entre outros.
“Nós temos uma participação de mercado de 25% a 40% nesse segmento. Então vamos focar nesse setor para depois voltarmos a crescer em outras áreas”, disse Franklin. A empresa também vai retomar o seu antigo slogan “Dedicação Total a Você”.
A proposta deixa de lado as outras marcas, como Ponto e Extra.com.br. Segundo o CEO, essa medida faz sentido pelo fato de a Casas Bahia representar cerca de 85% das vendas do grupo.
Dentro dessa repaginação, a empresa vai descontinuar algumas de suas iniciativas, que segundo Franklin, não são lucrativas. “Nós paramos a ampliação de alguns projetos que custam caro, como o marketplace e a captação de clientes para o banco. Esses dois itens não fazem parte do nosso core business”, disse Franklin.
Com essa parada em setores que não fazem parte do negócio central da empresa, a varejista pretende economizar R$ 200 milhões por ano. A companhia também fez recentemente uma capitação de R$ 622,9 milhões.
O número ficou abaixo da expectativa da varejista, mas segundo CEO, o dinheiro é suficiente para começar a arrumar a casa. “Além dos R$ 622,9 milhões, temos a expectativa de captar mais R$ 500 milhões até o final do ano. Então dá para dizer que o dinheiro é suficiente”, disse. Ainda assim, o plano apresentado parece frágil e pode não resolver o problema da empresa.
No final do último trimestre, a empresa reportou um total de passivo circulante, conhecido como dívida de curto prazo, de R$ 5,738 bilhões. O número é a somatória dos Repasse para instituições financeiras (crediário), empréstimos em moeda nacional, debêntures e notas comerciais.
Franklin descarta qualquer risco de insolvência, pois a maior parcela dos R$ 5,738 é do crediário, que segundo ele, tem baixa inadimplência e risco baixo de execução.
“Esse é um dos maiores ativos da companhia, a nossa perda líquida é de 5%. A companhia sabe dar crédito, ou seja, o risco é muito baixo, o negócio é muito diferente dos outros indicadores de inadimplência do mercado”, disse.
Retirando o valor do crediário, a empresa tem uma dívida de curto prazo de R$ 1,2 bilhão. A somatória com a dívida de longo prazo chega a R$ 3,66 (sem contar o crediário. Se embutir o crediário, o valor chega a R$ 8,691 bilhões). A empresa tem outros R$ 1,55 bilhão em dívidas de risco sacado, o mesmo utilizado pela Americanas.
Ao somar todo o valor, a dívida pode chegar a R$ 10,24 bilhões, mas o risco dessa quantia se concretizar é baixo, visto que para chegar nesse tamanho, todos os clientes do crediário teriam que atrasar as suas parcelas. Por isso, a companhia prefere trabalhar com uma dívida de R$ 3,66 bilhões mais os R$ 1,55 bilhão do risco sacado, que dá um total de R$ 5,21 bilhões.
Esse grande valor em dívidas parece insuperável quando se olha para os R$ 2,8 bilhões que a empresa tem em caixa, e que segundo Franklin, pode continuar sendo queimado até o início de 2025. O Faria Lima Journal (FLJ) questionou o CEO se a empresa realmente se sente confortável com essa situação.
Renato Franklin disse que sim, mas afirmou que “a quantidade de caixa a ser queimada deve diminuir ao longo dos próximos trimestres”. Ele também apresentou outras alternativas para a empresa aumentar o seu caixa e superar essa situação complicada.
“A nossa queima de estoque pode gerar R$ 1 bilhão em caixa, pois dentro dela haverá itens que não vamos mais vender, como whisky. Antes nós vendíamos esse produto e tínhamos que comprar outro para repor no estoque. Dessa vez, esse e outros produtos serão apenas vendidos, o que deve virar caixa de forma imediata”, afirmou.
O CEO do Grupo Casas Bahia também comentou que a empresa pretende vender imóveis para ter mais caixa e conseguir cumprir com suas obrigações. Na visão do Faria Lima Journal, o foco da reestruturação é evitar uma Recuperação Judicial (RJ), reconquistar a confiança do mercado e remunerar os acionistas no longo prazo.
“Temos um imóvel próprio, mais seis lojas nossas que serão vendidas e mais um terreno que estamos vendendo. Há outros ativos que podem ser colocados à venda, mas não vamos revelar ainda, pois eles são estratégicos”, disse o CEO.
Renato Franklin disse ainda que está caminhando para uma boa negociação em sua dívida de curto prazo com parte dos credores e que pode prorrogar uma parcela do pagamento. “O credor disse que a gente não precisa se preocupar, que a gente vai renovar as linhas. Então, a gente olha para esse negócio, a companhia está tranquila”, disse.
Por fim, o CEO comemorou o ciclo de corte de juros, que também tende a diminuir o endividamento da companhia. “A cada 1 ponto percentual de queda de juros, são R$160 milhões por ano de melhoria na redução do endividamento da empresa”, concluiu Renato Franklin.