Por Gustavo Boldrini
A varejista Americanas é um “ativo resiliente” e tem condições de se recuperar com o plano de recuperação judicial apresentado na semana passada, disse o diretor-presidente da companhia, Leonardo Coelho Pereira, ao participar de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado nesta terça-feira.
O executivo afirmou que a Americanas é um ativo que “aguentou muita malcriação” nos últimos 45 dias, mas “continua gerando emprego e faturamento”. Segundo ele, o plano apresentado pelo grupo à Justiça do Rio de Janeiro busca manter o funcionamento operacional da companhia, além do seu impacto social.
“Precisamos conduzir a Americanas para aquele formato que ela sempre teve, como empresa capaz de gerar o primeiro emprego e o primeiro consumo para milhares de brasileiros, disse Coelho.
Em plano aprovado por seu conselho de administração e enviado à Justiça na semana passada, a Americanas prevê um aporte de R$10 bilhões na empresa pelos principais acionistas, a conversão equivalente de dívida em capital de até R$10 bilhões e a venda de ativos como a rede de hortifrutis Natural da Terra, a fatia no grupo Uni.Co e uma aeronave. Segundo Coelho, apesar de bons, os ativos “não fazem mais sentido” para a Americanas neste momento.
O presidente da Americanas afirmou ainda que o plano apresentado pela empresa é melhor que o de outras varejistas que já passaram por recuperação, uma vez que conta “desde a partida” com uma injeção de R$ 1 bilhão pelo trio de acionistas de referência Jorge Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, além da possibilidade de outros dois aportes de R$ 500 milhões cada.
Origem da crise
Durante a audiência no Senado, o ex-diretor-presidente da varejista, Sergio Rial, disse que tomou conhecimento das inconsistências na contabilidade da dívida bancária da companhia apenas em 4 de janeiro, dois dias depois de assumir o cargo, ao ser informado por dois diretores.
Rial disse que o ex-CEO, Miguel Gutierrez, não se engajou no processo de transição do cargo no final de 2022, o que considerou “pouco comum”, e não teria falado nada sobre o tema das inconsistências em uma apresentação feita a ele poucos dias antes da virada do ano.
Os problemas no balanço revelados no dia 4 teriam sido recebidos como uma “revelação grave”, segundo Rial. “A partir daquele momento, tive absoluta consciência de que a companhia tinha estrutura patrimonial de insolvência”, afirmou.
Ele disse ter solicitado uma força-tarefa para identificar o tamanho do rombo assim que tomou conhecimento da questão – uma semana depois, em 11 de janeiro, a companhia divulgaria fato relevante informando sobre “inconsistêncas” na ordem de R$20 bilhões e sobre a renúncia de Rial e do diretor financeiro André Couvre.
Rial ainda afirmou que, ao ter conhecimento do assunto, a auditora dos balanços da companhia, PwC, teria ficado “completamente surpresa, para não dizer chocada”.
A questão foi levada à presidência do conselho e a Sicupira, que além de acionista também é conselheiro, no dia 6 de janeiro, ainda de acordo com Rial.
Perto das 10h30, as ações ordinárias da Americanas subiam 0,99% no pregão da B3, a R$ 1,02.