BTG é menos pessimista com Brent

Preços do petróleo surpreendem mercado com resiliência após aumento de cotas da Opep+; entenda

Preços do petróleo surpreendem mercado com resiliência após aumento de cotas da Opep+; entenda

Por: Luciano Costa

São Paulo, 26/09/2025 – Os preços do petróleo têm se mantido resilientes desde um inesperado aumento de oferta aprovado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+) no começo deste mês de setembro, surpreendendo boa parte do mercado, em meio a fatores como ataques à infraestrutura de energia da Rússia e dificuldades de países para aumentar o bombeamento, que deram sustentação às cotações, segundo analistas.

Nesta sexta-feira, o barril do petróleo Brent, referência internacional, era negociado pouco acima dos US$69, subindo cerca de 4% na semana, maior ganho semanal desde meados de junho. O valor supera os cerca de US$67 tocados antes das primeiras notícias da decisão da Opep+, tomada em 7 de setembro e antecipada pela Reuters em 3 de setembro.

O movimento pegou na contramão boa parte do mercado – na semana da decisão da Opep+, gestores de fundos haviam cortado apostas otimistas no petróleo ao menor nível histórico em quase 20 vinte anos de registros.

Os analistas de óleo e gás do BTG Pactual, por outro lado, estão menos pessimistas que o consenso – o time liderado pelo experiente Luiz Carvalho tem uma visão de que o piso para os preços é mais alto do que o estimado hoje pela maioria dos investidores.

“O sentimento negativo continua a dominar os mercados de petróleo, com o consenso fortemente focado nos riscos de excesso de oferta. Embora reconheçamos os ventos contrários de curto prazo, vemos o Brent encontrando um suporte mais firme em torno de US$ 67/barril, ancorado em tensões geopolíticas e riscos de interrupção de fornecimento”, escreveram os analistas do BTG.

“Enquanto o mercado em geral assume um piso de US$50-55 por barril, acreditamos que o mais provável seja US$55-60/barril”, acrescentaram, citando a geopolítica como o suporte que tem mantido nos preços na faixa atual.

“Os preços enfraqueceram diante da maior oferta da Opep+ e de países fora do cartel, além da menor demanda nos EUA, mas encontraram suporte temporário após ataques de drones ucranianos ao porto russo de Primorsk”, explicou o BTG.

Ontem, o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que o presidente americano Donald Trump teria apoiado explicitamente os ataques do país à infraestrutura de energia russa como revide a eventuais ataques similares de Moscou. A estratégia tem reduzido a capacidade de refino da Rússia, que já vê falta de alguns combustíveis e prorrogou suspensões de exportações.

“Os mercados continuam focados na situação entre Rússia e Ucrânia”, disse o sócio da Again Capital, John Kilduff, à Reuters, citando os ataques com drones contra infraestruturas de refino e exportação. Sem ter como refinar ou vender parte do petróleo, a Rússia está perto de precisar diminuir produção de petróleo, de acordo com relatos na mídia.

TEORIA E PRÁTICA 

Apesar das preocupações do mercado com a reversão dos cortes de oferta da Opep, o cartel de exportadores só entregou de fato três quartos da produção adicional esperada desde abril, quando começou a aprovar ajustes nas metas dos países-membros, segundo análise da Reuters que cita analistas, fontes e dados.

A Opep+, que inclui também a Rússia e outros aliados, é responsável por cerca de 50% da produção global, mas tem produzido quase 500 mil barris por dia abaixo das próprias cotas produtivas, segundo a Reuters.

“A falta desse volume, equivalente a 0,5% da demanda global, desafiou as expectativas do mercado de um excedente de oferta e apoiou os preços do petróleo”, escreveu a agência, explicando que alguns membros da Opep estão precisando compensar volumes acima das cotas de meses anteriores, enquanto outros lidam com dificuldades para colocar em produção toda a capacidade ociosa.

Arábia Saudita, Rússia, Emirados Árabes, Cazaquistão, Iraque e Argélia estão bombeando menos petróleo do que poderiam por suas metas, segundo cálculos da Reuters, que cita um membro da Opep admitindo que alguns países não conseguem usar toda capacidade que imaginavam ter disponível.

O analista de petróleo Anas Alhajji disse que vinha alertando desde abril que há uma diferença entre “teto de produção” e “capacidade real de produção”, e que por isso a retirada de restrições da Opep não seria baixista como os mercados pensavam.

Em publicações no “X”, Alhajii citou ainda queda nos estoques globais de petróleo, incluindo na China, além de estoques de gasolina nos EUA em níveis “baixos pelos padrões históricos”. Ele também citou como fator altista a revisão das projeções de pico de demanda da petroleira britânica BP.

Em seu esperado estudo anual Energy Outlook divulgado nesta semana, a BP projetou que a demanda por petróleo deve crescer até por volta de 2030, quando começaria a decair, ante um pico de demanda em 2025 estimado no estudo divulgado no ano passado.