Powell nega que Fed tenta elevar a taxa de desemprego nos EUA

Powell admitiu, entretanto, que o duplo mandato do Fed pode entrar em conflito em algum momento

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Por: Gabriel Ponte

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou nesta terça-feira que o banco central americano não está tentando elevar a taxa de desemprego nos Estados Unidos de forma deliberada ao prosseguir com o ciclo de alta de juros para reduzir a inflação elevada no país.

Em testemunho ao Comitê Bancário do Senado, Powell reconheceu, entretanto, que o duplo mandato do Fed – de preços estáveis e de pleno emprego – pode entrar em conflito em algum momento. Ele disse que o banco central se encontra “muito longe” do mandato de estabilidade de preços.

Segundo dados divulgados em janeiro pelo Departamento de Trabalho, a taxa de desemprego americana está em 3,40%, no menor patamar em mais de cinco décadas. Já o índice de preços ao consumidor alcançou 6,4% no acumulado de 12 meses em janeiro, acima do consenso Mover, que previa alta de 6,2%.

Segundo Powell, o mercado de trabalho americano está “extremamente apertado” e algum abrandamento terá de ocorrer para que a inflação retorne à meta perseguida pelo Fed, de 2,0% ao ano. Ele afirmou ainda que os dados atuais do mercado de trabalho não sugerem a tese de que uma desaceleração econômica esteja próxima.

O presidente do Fed  afirmou a congressistas que as projeções para o nível terminal da taxa-alvo Fed Funds também deverão ser elevadas nas próximas previsões do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), na esteira dos recentes dados econômicos divulgados nos EUA.

No mais recente “Dot-Plot”, de dezembro de 2022, a mediana dos dirigentes do FOMC projetou a taxa de juros terminal no intervalo entre 5,0% e 5,25%. As próximas projeções dos membros do Fed serão divulgadas na reunião do FOMC da semana que vem.

Powell afirmou que os indicadores econômicos de janeiro reverteram, parcialmente, o processo de desinflação observado ao fim de 2022 nos EUA e defendeu que “nada nos dados” sugere que o Fed tenha elevado os juros demais. “Temos mais trabalho a fazer”, complementou.

Powell afirmou enfaticamente que o Congresso precisa elevar o limite da dívida americana, sob o risco de consequências imprevisíveis na economia, que poderiam ser “extraordinárias”.

Foco passa a ser o Payroll

Agentes financeiros disseram que o tom do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, em sabatina ao Comitê Bancário do Senado dos Estados Unidos nesta terça-feira foi mais duro que o esperado, o que reflete no aumento da percepção dos investidores americanos sobre a alta de 50 pontos-base na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) de março.

“Havia muitas dúvidas sobre o tom do discurso do Powell, pois desde os dados mais recentes de inflação, que não foram benéficos em fevereiro, ele ainda não tinha se pronunciado. Então hoje foi quase que uma antecipação da reunião do Fed”, disse o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, à Mover.

Após o discurso de Powell, a negociação dos Fed Funds apontava uma probabilidade de 55,7% de alta de 50 pontos-base da taxa básica de juros na próxima reunião. Essa probabilidade estava em 32% antes das falas do presidente do Fed, segundo negociações na Chicago Mercantile Exchange (CME). Agora, a probabilidade de alta de 50 ponto-base passou a ser superior à elevação de 25 ponto-base.

De acordo com o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, os dados de atividade econômica estão mais fortes que as expectativas anteriores do Fed, da mesma forma que a dinâmica da inflação. Eduardo ressalta que a sazonalidade do verão do Hemisfério Norte tende a gerar um viés de rigidez ou de alta dos preços.

O economista estima que ainda vai ocorrer pelo menos mais três ou quatro altas de 25 pontos-base, elevando as taxas de juros para o intervalo de 5,5% – 5,75% ao ano, entretanto, ainda “não acredito” que o Fed vai levar a taxa de juros para 6%.

Com a sinalização de Powell de que o nível do juro terminal será mais elevado que o esperado anteriormente, os índices acionários passaram a cair. Em contrapartida, dólar, juros futuros e títulos do tesouro americano voltaram a subir moderadamente.

Mas o que pode indicar movimentos mais bruscos no mercado é a divulgação do Payroll nesta sexta-feira (10). Agentes financeiros passam a aguardar a divulgação do dado pelo Departamento de Trabalho dos EUA, geralmente apresentado logo pela manhã.

“Se o relatório de emprego vier muito forte, os juros futuros devem aumentar significativamente, pois indica que a economia americana não está sendo ainda tão impactada pelo aperto monetário do Fed”, afirmou ao Mover o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo.

O total de empregos fora do setor agrícola nos EUA aumentou 517 mil em janeiro, enquanto a taxa de desemprego no país variou pouco, ficando em 3,4%, segundo comunicado do Bureau of Labor Statistics de 2 de março.

“Caso o próximo Payroll venha robusto, Powell mantém o tom duro desta terça e a taxa terminal pode ficar acima de 5,5%. Mas se o relatório vier fraco, ele pode ter que mudar o rumo de novo, como fez no fim do ano passado, depois de sinalizar que o Fed teria uma política monetária mais leve”, acrescentou Paulo Gala.

As próximas reuniões do Fed ocorrem nos dias 21 e 22 de março, mesma data em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil se reúne para definir a taxa básica de juros (Selic).