Eletrobras é "clara vencedora"

Mercado financeiro vê preços de energia mais altos e voláteis favorecendo algumas ações do setor

Fonte: Norlys Energy Trading
Fonte: Norlys Energy Trading

São Paulo, 17/09/2025 – Analistas de bancos de investimento estão vendo um mercado de energia elétrica cada vez mais volátil no Brasil, e com tendência de preços maiores que no passado recente, após importantes mudanças conjunturais e regulatórias no setor, o que tem impulsionado o desempenho de algumas ações de elétricas na bolsa neste ano.

A equipe do BTG Pactual, liderada por Antonio Junqueira, um veterano com 20 anos de cobertura da indústria de energia, disse que esse cenário, decorrente do acelerado crescimento de fontes renováveis, como eólicas e solares, levou a um novo paradigma, com o banco passando pela primeira vez a preferir empresas expostas ao mercado de geração, ao invés de companhias focadas em redes, como distribuidoras e transmissoras.

“Desde que começamos a cobrir geradores, nunca estivemos altistas (bullish) nas ações do segmento… por múltiplas razões, que vamos analisar neste relatório, energia elétrica está se tornando mais volátil, e menos previsível. A maior volatilidade deve se traduzir em preços mais altos, e isso representa uma significativa vantagem competitiva para determinados players”, escreveram os analistas.

“Os vencedores de longo prazo nesse cenário volátil serão aqueles que souberem como lidar com isso e aqueles com ativos que ajudarão a estabilizar o sistema elétrico do país”, acrescentou o time do BTG, citando empresas com capacidade hidrelétrica descontratada, geração térmica e com fortes áreas de “trading” de eletricidade, como Eletrobras e Eneva, além de Auren, em menor medida.

“FUNDAMENTOS”

Também nesta semana, analistas do Itaú BBA, liderados por Marcelo Sá, trouxeram avaliação semelhante, de que houve uma “mudança nos fundamentos” no setor elétrico, ainda não totalmente incorporada nos preços, mas que começa a se refletir gradualmente no mercado.

“Entre as empresas de nossa cobertura, a Eletrobras tem o potencial mais assimétrico de valorização dessa nova dinâmica do balanço energético”, escreveu o time do BBA, que vê tendência de elevação nos preços médios do mercado à vista de energia, influenciando também contratos de longo prazo.

“Os investidores estão começando a sair do estado de negação e reconhecer que o balanço energético do país mudou. Além disso, é crucial enfatizar que, entre as empresas que cobrimos, a Eletrobras é a mais exposta a isso. Cada R$10 de aumento em nossa projeção de médio prazo (de preços de energia em 2026-2032) resultaria em aumento de 3,6% para nosso preço-alvo (de Eletrobras). E cada R$10 nos preços de longo prazo (após 2033) aumentaria em 3% o preço-alvo”, explicou o BBA.

Antes, no começo do mês, UBS-BB havia apontado em relatório que o mercado financeiro precisará mudar a forma de investir no setor elétrico, em decorrência do aumento da volatilidade dos preços no mercado de energia, também associado pelos analistas do banco ao aumento da presença de fontes intermitentes como eólica e solar na matriz.

“As empresas vencedoras serão aquelas capazes de monetizar a escassez nos horários certos, enquanto os perdedores ficarão presos em janelas de energia em abundância e com pouco valor,” escreveu o analista Giuliano Ajeje, que vê a Eletrobras “como uma clara vencedora”.

As ações ON da Eletrobras acumulam valorização de mais de 50% no ano, enquanto a Eneva, também apontada por alguns analistas como provável favorecida pela atual conjuntura, avança 53,70% em 2025.

Os preços à vista no mercado elétrico têm negociado entre cerca de R$200 e R$300 por megawatt-hora na maior parte do tempo este ano, após terem se mantido abaixo dos R$80 ao longo de 2022, 2023 e parte de 2024.

DIVIDENDOS
Um exercício simples realizado pelo BTG mostra como a Eletrobras poderia surfar a onda de preços mais altos. Em um cenário com valores de energia no mercado elétrico em R$160 por megawatt-hora, a empresa teria capacidade de distribuir R$13,7 bilhões em dividendos em 2026, com yield de 13%. Se os preços subissem para R$200/MWh, os valores saltariam para R$18 bilhões em proventos e yield de 17%.

“A Eletrobras já disse aos investidores ´queremos, e vamos pagar dividendos´. Isso, combinado com os preços de energia potencialmente mais fortes, poderia levar a Eletrobras a ser uma fortíssima pagadora de dividendos nos próximos 5,5 anos”, escreveu o BTG.

Já a Eneva tem espaço para renovar contratos de suas usinas termelétricas que estão próximos de vencer, bem como de viabilizar novos projetos de expansão em leilões que o governo promoverá a partir de 2026 para reforçar a capacidade do sistema elétrico para momentos de pico de demanda.

“O valor justo das ações da Eneva poderia saltar 18% se modelarmos um resultado otimista para a empresa no leilão de capacidade em março de 2026, incluindo viabilização de nova capacidade”, apontou o BTG.