Brasília, 19/3/2025 – O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) manteve os juros inalterados nesta quarta-feira, no intervalo entre 4,25% e 4,50%, em decisão unânime e em linha com amplo consenso do mercado, embora apontando dessa vez um crescimento nas incertezas econômicas.
A mediana de projeções no “Dot-Plot” apontou para dois cortes de juros neste ano, sem mudanças na comparação com dezembro, enquanto autoridades reduziram estimativas para o crescimento local neste ano, ao passo em que aumentaram as projeções para o núcleo do PCE no mesmo período. O FOMC também anunciou desaceleração do ritmo de redução de seu balanço patrimonial a partir de abril.
Os índices acionários mantiveram o ritmo de alta após a decisão, com os investidores aguardando coletiva de imprensa do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, para obter novos sinais a respeito da trajetória da política monetária e da reação do banco central aos efeitos da política comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em sua decisão, o FOMC pontuou que incertezas em torno das perspectivas econômicas “aumentaram”. Em janeiro, o comunicado citava apenas “incertezas” sobre o cenário.
As Treasuries yields de dois e de dez anos apagaram os ganhos e operavam estáveis a 4,038% e 4,289% respectivamente, enquanto o índice dólar DXY arrefeceu os ganhos e avançava 0,37% a 103,63 pontos.
O comitê seguiu pontuando estar “atento” aos riscos de ambos os lados de seu duplo mandato.
De acordo com o FOMC, recentes indicadores sugeriram que a atividade econômica seguiu se expandindo em ritmo “sólido”. Em linha com janeiro, o colegiado afirmou que a taxa de desemprego estabilizou em nível baixo, enquanto as condições do mercado de trabalho “permanecem sólidas”. “A inflação permanece elevada de alguma forma”, complementou, em linha com janeiro.
Ao avaliar a extensão e timing de ajustes adicionais para a taxa-alvo Fed Funds, o FOMC também levará em consideração dados econômicos, evolução das perspectivas e seu balanço de riscos. O FOMC, porém, deixou de mencionar que os riscos para alcançar seu duplo mandato estão “aproximadamente equilibrados”, como em janeiro.
O FOMC disse estar “fortemente comprometido” em apoiar o pleno emprego e em retornar a inflação à meta de 2%. O colegiado também disse que estaria “preparado” para ajustar o nível da política monetária se surgirem riscos que possam atrapalhar o atingimento das metas.
APERTO QUANTITATIVO
O comitê também anunciou nesta tarde que irá desacelerar seu processo de redução do balanço patrimonial, em meio a dificuldades do Tesouro para lidar com as finanças governamentais, sob limite da dívida federal.
De acordo com o banco central, a partir de 1 de abril, o limite máximo de resgate mensal de Treasuries recuará a US$5 bilhões, ante US$25 bilhões. Já o limite máximo de resgate mensal de títulos atrelados a hipotecas, de US$35 bilhões, seguirá inalterado.
‘DOT-PLOT’
Mediana de projeções contida no “Dot-Plot”, gráfico de pontos trimestral com as projeções das autoridades do Fed, apontou para taxa-alvo Fed Funds encerrando o ano de 2025 em 3,9%, mesmo patamar estimado em dezembro. Para 2026, a mediana de projeção seguiu em 3,4%. Para 2027, permaneceu em 3,1%.
As autoridades do Fed também anteveem núcleo do PCE – métrica favorita – encerrando 2025 em 2,8%, ante 2,5%. Em 2026, a mediana de projeção permaneceu em 2,2%. Já para 2027, a mediana de projeção seguiu em 2,0%.
As autoridades também reduziram projeção para o crescimento da economia em 2025, a 1,7%, ante 2,1% estimados. Em 2026, a mediana de projeção para o crescimento dos EUA foi a 1,8%, ante 2,0%. Em 2027, foi a 1,8%, ante 1,9%.
A taxa de desemprego deverá encerrar 2025 em 4,4%, ante 4,3%, de acordo com mediana das previsões. Em 2026, permaneceu em 4,3%. Para 2027, a mediana de projeções manteve-se em 4,3%.
FALA À IMPRENSA
Na coletiva de imprensa, em instantes, Powell deverá ser questionado sobre a correção recente vista nos mercados acionários, em meio às idas e vindas do governo Trump, e a pouca disposição até o momento que o Executivo tem exibido para auxiliar uma recuperação dos mercados. No fim de semana, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que correções como as vistas nos mercados são “normais”.
Powell, porém, deve se mostrar reticente em garantir aos investidores que o Fed agirá ao menor sinal de tropeços da economia sem uma leitura-chave: clara evidência de que a inflação caminha, de forma sustentável, em direção à meta perseguida de 2,0%, além de expectativas de preços ancoradas.