Exterior opera com cautela diante de taxa de juros nos EUA e sinais de inflação persistente

Mercado reage a falas de Lula; presidente disse que não quer brigar com o BC

Unsplash
Unsplash

Por Patrícia Lara

A cautela prevalece no exterior com a apreensão sobre o patamar da taxa de juros dos Estados Unidos diante de sinais de inflação persistente e dados robustos da economia americana. O movimento pode adicionar pressão aos ativos domésticos nesta última sessão antes do feriado prolongado de Carnaval. Um ponto de alívio vem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disse ontem não ter interesse em brigar com o Banco Central mesmo após fazer novas ressalvas quanto à independência da autarquia. Reação ao balanço da Vale e vencimento de opções sobre ações são outros vetores para o dia.

As bolsas europeias e os futuros dos índices acionários americanos recuam após dados fortes da economia dos EUA reativarem a preocupação sobre a persistência da inflação. Ao mesmo tempo em que ganhou força a aposta ainda minoritária de o Federal Reserve retomar um ajuste de 0,50 ponto percentual da taxa de juros em março, os futuros dos Fed Funds reduziram a probabilidade de alívio para apenas um corte das taxas ou nenhum neste ano. Em fevereiro, os futuros atribuíam uma probabilidade de duas reduções até o fim do ano, segundo o Financial Times.

Embalado pela revisão das perspectivas sobre a taxa de juros, o Índice Dólar, que mede a variação da moeda ante uma cesta de divisas, avançava para patamar acima de 104 pontos. O rendimento embutido nos títulos do Tesouro americano subia, com a taxa no vencimento para um ano em alta de 1,4 pontos-base, a 5,016%.

Além do exterior pesado, o mercado local reage aos dados da Vale. O lucro líquido de US$3,74 bilhões da mineradora no quarto trimestre de 2022 superou o consenso de projeções de analistas compiladas pela Mover, de U$2,29 bilhões, embora o resultado consolidado tenha recuado 30% na comparação anual e mais de 16% frente ao trimestre anterior. O EBITDA ajustado das operações continuadas foi de US$4,6 bilhões, abaixo das projeções de US$4,91 bilhões, mas US$1 bilhão acima no comparativo trimestral.

A reação conta com a ajuda de outra rodada de alta do minério de ferro, que foi impulsionado por declaração dos principais líderes da China de “vitória decisiva” na luta contra o Covid-19. O contrato futuro do metal subiu 2%, a 889,50 iuanes, o equivalente a US$129,29 a tonelada, prolongando o ganho semanal na Bolsa chinesa de Dalian.

Para os negócios com o petróleo pesa mais a preocupação sobre o aumento dos juros americanos na demanda e o contrato do Brent para abril recuava abaixo de US$84 o barril, caminhando para fechar a semana com perda ao redor de 2%.

Em busca de pistas sobre a cabeça do Fed, o mercado monitora a fala do presidente da unidade do BC em Richmond, Thomas Barkin, às 10h30. No fim do pregão de ontem em Nova York, as vendas de ações se intensificaram após os comentários do presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard. Ele disse que apoiou um aumento de 50 pontos-base na taxa de juros na reunião anterior do banco central e que não descartaria um aumento dessa magnitude na reunião de março.

No Brasil, a agenda de indicadores é esvaziada. O presidente Lula tem encontro com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, às 09h30, no Palácio do Planalto. Ontem, o encontro do Conselho Monetário Nacional não tratou do tema meta de inflação, confirmando o sinal dado por Haddad nesta semana.

Os negócios na B3 só serão retomados na Quarta-Feira de Cinzas, a partir das 13h00.

MERCADOS GLOBAIS

-O futuro do petróleo Brent para entrega em abril cedia 2%, a US$83,45 o barril.

-O Bitcoin cedeu 3,64% nas últimas 24 horas, a US$23.721,10; o Ethereum recuou 1,52% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

-O índice EWZ recuava 1,40% no pré-mercado americano. Os recibos de ações da Vale subiam 0,59% em um horário de baixa liquidez.

-Os contratos de juros futuros na B3 devem acompanhar as taxas de juros externas com os negócios calibrados ainda pelas declarações de Lula e o encontro do CMN sem surpresas ontem.

DESTAQUES

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Banco Central não tem razão para manter os juros elevados porque o país “não tem inflação de demanda”. Em entrevista concedida à CNN Brasil na quinta-feira, Lula manteve as críticas à política monetária conduzida pelo BC e disse que, caso fique claro que a independência da autarquia não provocou uma melhora da economia, será preciso revê-la. (Mover)

Lula disse que entende que subir a taxa de juros é importante quando existe uma inflação de demanda, o que, segundo ele, não é o caso do Brasil. Ele ressaltou que a Selic acaba prejudicando o crescimento econômico, no momento em que o país vive uma crise de crédito. “Não tem crédito neste país. Somos um país capitalista sem crédito. Qual é o empresário que vai investir pagando 13,75%?”, questionou. (Mover)

A Vale reportou lucro líquido de US$3,74 bilhões no quarto trimestre de 2022, acima do consenso Mover, de U$2,29 bilhões, refletindo maiores volumes de vendas de minério de ferro e preços realizados no níquel e no cobre. (Mover)

A XP registrou lucro líquido de R$783 milhões entre outubro e dezembro, queda de 21% na base anual, segundo balanço divulgado nesta quinta-feira. Segundo a empresa, o desempenho refletiu o “novo cenário” de aperto monetário, que prejudicou a captação de recursos e novos clientes pela dona de uma das principais plataformas de investimentos do Brasil. As ações da companhia listadas na Nasdaq derretiam 11,83% no pré-mercado de Nova York, perto das 07h35.

Os sócios do 3G Capital, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles, Beto Sicupira, Alex Behring e Roberto Thompson Motta, estariam dispostos a fazer um aporte de cerca US$300 milhões cada um na Americanas, o que totalizaria cerca de R$7,8 bilhões na cotação atual do dólar, disse ao Scoop uma fonte com conhecimento do assunto. Outra fonte, mais próxima da 3G Capital, afirmou que a varejista espera conseguir mais R$5 bilhões com a venda de ativos. (Scoop by Mover)

Portugal se tornou o segundo país da União Europeia esta semana a descartar os “vistos gold” para não-europeus ricos, juntando-se à Irlanda na abolição de um programa que ajudou a atrair investimentos estrangeiros, mas gerou polêmica. António Costa, primeiro-ministro de Portugal, disse na quinta-feira que o seu governo deixará de emitir novos vistos gold para “lutar contra a especulação de preços no setor imobiliário”. (Financial Times)

Após o índice FTSE, da Bolsa de Londres, fechar acima da marca inédita de 8.000 pontos, Jason Hollands, diretor administrativo da plataforma de investimento online BestInvest, disse que “o chato é o novo sexy”. “Com uma abundância de exposição a energia, commodities, produtos básicos de consumo e empresas de saúde, o FTSE 100 parece bem posicionado para o ambiente atual”, disse. (CNBC)

As vendas do varejo no Reino Unido aumentaram 0,5% em janeiro, no comparativo mensal, acima do consenso que apontava declínio de 0,3% e em recuperação do tombo de 1,2% de dezembro. (Agências)

O preço do gás natural europeu caiu abaixo de 50 euros por megawatt/hora na sexta-feira pela primeira vez em quase 18 meses, já que o clima ameno e o amplo armazenamento ajudaram a moderar os preços antes descontrolados. O contrato de referência europeu TTF caiu quase 5% na sexta-feira, para um mínimo de 49 euros por mwh. (Financial Times)

AGENDA

-Discurso do Fed (Estados Unidos) – O presidente do Federal Reserve de Richmond, Thomas Barkin, falará em evento. Horário: 10h30.

-Contagem de Sondas (EUA) – O Baker Hughes divulgará o número semanal de plataformas de petróleo ativas operando na América do Norte. Divulgação: 15h00. Anterior: 761 sondas.

-Vencimento de Opções (Brasil) – Amanhã será dia de vencimento de opções sobre ações na B3, o que costuma aumentar a volatilidade.