Por Fabricio Julião
A aversão global ao risco em agosto levou o real a perder terreno perante o dólar, mas não o suficiente para apagar a desvalorização de 7,85% que a moeda americana acumula em 2023. Para especialistas consultados pela Mover, agora os rumos da taxa de câmbio dependem de duas variáveis principais: o desempenho da economia chinesa e o patamar final da taxa de juros nos Estados Unidos.
Do início de agosto até esta sexta-feira (25), o dólar acumula alta de 3% contra o real. No ano, porém, o real ocupa o segundo melhor desempenho ante o dólar em uma cesta de 22 divisas acompanhada pela Mover, atrás apenas do peso mexicano.
De agora em diante, segundo o gestor de moedas da Opportunity, Valter Unterberger, a trajetória do câmbio no Brasil dependerá de desdobramentos na China, que segue na expectativa pela injeção de novos estímulos, e das próximas reuniões de política monetária do Federal Reserve, em setembro e novembro – quanto maiores as taxas de juros nos Estados Unidos, ainda que residuais, maior será a busca por ativos americanos como o dólar em detrimento de outros considerados mais arriscados.
“O dólar vem se valorizando mais recentemente porque a economia americana é a única que está mostrando resiliência no mundo. Os países europeus e a China vêm registrando dados [de atividade] abaixo do esperado”, afirmou Unterberger.
O gestor da Opportunity mantém atualmente posição comprada em real e peso mexicano, e vendida em euro e libra esterlina. A partir de novembro, o especialista espera que a cena local volte ao radar com mais ímpeto para o mercado de câmbio, já que a Reforma Tributária entrará em voga no Congresso, assim como prováveis mudanças na diretoria do Banco Central.
O diretor de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destacou que o potencial de crescimento de países emergentes vem trazendo fôlego às divisas da região, mas esse movimento foi inibido pelo sentimento de maior aversão ao risco global, após decepcionantes dados na Europa.
“Trata-se de um movimento que estamos observando há algum tempo neste ano. Reflexo disso é o desempenho do DXY, que tem avançado com as desvalorizações do euro, da libra e do franco suíço, enquanto o peso mexicano e o real se destacam”, pontuou.
Rugik e Unterberger também salientaram que o peso mexicano tem algumas vantagens em comparação com o real, como o cenário atual sem tantas turbulências quanto o do Brasil, com juros que devem seguir em patamares elevados por um bom tempo – diferentemente da Selic, que já iniciou a trajetória de queda.
Caso a divisa brasileira conte com uma “tempestade perfeita” – em que a China injeta estímulos na economia, favorecendo as commodities, e o Fed paralisa o aperto monetário nos EUA –, o dólar pode fechar o ano cotado entre R$4,80 e R$4,50, segundo o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala. No entanto, se o diferencial de juros com o Brasil diminuir pelo avanço dos juros americanos, o dólar deve encerrar o ano entre R$4,80 e R$5,00, na visão do economista.
De acordo com os analistas do C6 Bank, o fortalecimento da principal moeda do mundo deve barrar a impulsão do real, que ainda deve ser prejudicado com a alta dívida do setor público do Brasil. Para os analistas da instituição, o dólar caminhará para R$5,30 em 2023, e para R$6,00 no fim de 2024.
Vale destacar ainda que, além do diferencial de juros entre Brasil e EUA, o desempenho da economia chinesa e o avanço da agenda econômica local, algumas variáveis secundárias podem impactar a taxa de câmbio até o fim do ano, segundo especialistas. O economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, chamou a atenção para duas: os desdobramentos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia e os efeitos do El Niño nos EUA, que podem trazer sopros favoráveis à divisa brasileira pela alta das commodities.
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