FARIA LIMA JOURNAL
NO FIM DE SEMANA
>> O boletim Faria Lima Journal no Fim de Semana, do portal Faria Lima Journal e da agência de notícias Mover, traz uma seleção de conteúdos e leituras para investidores dispostos a gastar algum tempo no sábado e domingo para leituras mais aprofundadas de boas histórias e materiais informativos.
Sob sigilo, chefões do petróleo nos EUA reclamam de “caos” de Trump e relatam pressão por barril a US$40; “perfuração vai desaparecer”
Executivos da indústria de petróleo “shale” dos Estado Unidos têm reclamado que, apesar de promessas de estímulos ao setor, as políticas de Trump estão na prática passando uma rasteira no setor, ao esfriar os investimentos, por preocupações com decisões “caóticas” e com a pressão do presidente americano por preços baixos, destacou reportagem do Financial Times na quinta-feira.
Em uma pesquisa do Federal Reserve de Dallas, em que podem opinar anonimamente, chefões do setor de petróleo adotaram um tom duro sobre a administração que chegou ao poder com o bordão “Drill, Baby, Drill”.
“O governo opera com pouco entendimento da economia do “shale”… eles efetivamente se alinharam com a Opep, usando táticas pelo lado da oferta para pressionar os preços abaixo do patamar economicamente viável, prejudicando os produtores americanos em meio a esse processo”, apontaram comentários de um gestor na pesquisa.
“A administração (Trump) está pressionando por um barril a US$40. As atividades de perfuração vão desaparecer”, disse outro executivo.
Uma empresa que atua em serviços de apoio à indústria de óleo e gás disse que está sofrendo com “aumento de custos devido às tarifas”, enquanto outro disse que o segmento está “sangrando”. “O barulho e o caos são ensurdecedores! Quem quer tomar uma decisão de negócios nesse ambiente instável?”., questionou um executivo de exploração e produção
“Uberização em massa?” Futuro da China depende de “200 milhões de trabalhadores precários”, revela The Economist
Do polo industrial de Shenzhen às fábricas de eletrônicos de Kunshan, a mão de obra chinesa já soma cerca de 200 milhões de “trabalhadores flexíveis”, que formam a espinha dorsal do mercado de trabalho de curto prazo no país, representando um quarto da força de trabalho nacional e dois quintos nas áreas urbanas, mostrou a revista britânica The Economist em interessante relato.
Esses trabalhadores — frequentemente homens jovens e solteiros — rejeitam contratos formais em favor da liberdade e flexibilidade de empregos de curto prazo, obtidos por plataformas digitais, em fábricas, entregas, transporte por aplicativo ou trabalhos autônomos, conhecidos no Brasil pela alcunha de “uberização”.
Diferentemente do modelo econômico ocidental de trabalho flexível, geralmente voltado para serviços, na China o setor inclui 40 milhões de trabalhadores fabris, com alguns centros industriais dependendo deles para até 80% de sua força de trabalho. A capacidade dessas pessoas de se estabelecerem, consumirem e formarem famílias influenciará significativamente a trajetória econômica da China em meio à atual desaceleração econômica do país, com o crescimento das vendas no varejo atingindo o menor nível deste ano e projeções de PIB podendo cair para 3% no terceiro trimestre.
Além da relativa precarização e insegurança associados a esses trabalhos flexíveis, na China esses profissionais enfrentam cenário econômico desafiador, marcado por queda na demanda do consumidor, preços imobiliários em declínio e aumento do desemprego urbano, agravado pelo declínio populacional e esforços do governo para incentivar a natalidade com subsídios. Ainda assim, diferentemente da geração anterior, que suportava empregos fabris exaustivos com benefícios mínimos, os trabalhadores atuais priorizam autonomia em vez de estabilidade, utilizando a vasta economia de plataformas da China para alternar entre empregos com fluidez.
No entanto, essa flexibilidade tem um custo: os trabalhadores flexíveis, de curto prazo, muitas vezes não têm acesso a pensões, permissões de residência urbana (hukou) ou benefícios como saúde e educação, limitando sua integração nas economias urbanas.
Na conclusão da Economist, a trajetória desses profissionais da China moldará o futuro econômico e político do país. Se conseguirem se estabelecer em áreas urbanas, comprar casas e aumentar o consumo, poderão ajudar a aliviar a crise econômica do país. No entanto, sem reformas no sistema e nas proteções trabalhistas, um número crescente de trabalhadores descontentes e conectados — equipados com smartphones e ativos nas redes sociais — pode desafiar a visão de estabilidade urbana do Partido Comunista.
Peter Thiel prega alertas sobre ‘anticristo’ e apocalipse tecnológico, mostra Wall Street Journal
O magnata do Vale do Silício e investidor em gigantes da tecnologia Peter Thiel está causando furor com uma série de palestras incendiárias em San Francisco, onde mistura profecias bíblicas com alertas sobre o apocalipse tecnológico. Promovidas pela ACTS 17, uma organização que une fé cristã e inovação, as falas de Thiel pintam um cenário sombrio: avanços em Inteligência Artificial, armas biológicas e robôs assassinos podem abrir as portas para um governo global tirânico, liderado por uma figura carismática que ele identifica como o Anticristo, reportou o Wall Street Journal nesta semana.
Para Thiel, esse “vilão” bíblico não é apenas uma metáfora, mas uma ameaça real, que pode surgir prometendo salvar o mundo enquanto acumula poder absoluto. Em suas palestras, que começaram neste mês e vão até outubro, Thiel não está apenas jogando lenha na fogueira do medo. Ele insiste que quer evitar o caos, propondo um “terceiro caminho” que equilibre o progresso científico com limites éticos. Citando o Livro do Apocalipse, o romance distópico “Lord of the World” e até conversas com o historiador René Girard, ele alerta que a filantropia extrema aliada ao poder estatal pode ser a receita para a catástrofe.
Suas referências vão de pinturas renascentistas a mangás japoneses, dando um toque excêntrico ao discurso apocalíptico. O movimento de Thiel reflete uma onda de espiritualidade que está pegando fogo no Vale do Silício, com figuras como Elon Musk e Garry Tan, da Y Combinator, também falando abertamente sobre fé e tecnologia. A ACTS 17, fundada por Michelle Stephens — cujo marido é sócio de Thiel na Founders Fund —, virou um ponto de encontro para cristãos e curiosos que querem debater o impacto da tecnologia na alma humana. Michelle defende que o grupo não está apenas “mimando os ricos”, mas desafiando as elites tech que se veem como deuses. “Os ricos podem achar que controlam tudo, e isso é perigoso”, diz ela, rebatendo críticas de que o foco deveria estar nos mais pobres.
Mas nem todos estão comprando o discurso apocalíptico de Thiel. Jay Kim, pastor da WestGate Church, no coração do Vale, joga um balde de água fria: “A Bíblia não pede para ficarmos obcecados em caçar o Anticristo. É perda de tempo”. Ainda assim, as palestras de Thiel estão lotadas, atraindo desde CEOs de startups até pastores e advogados, todos intrigados com sua visão de um futuro onde a IA pode ser tanto um deus quanto um demônio. Em tempos de febre por inteligência artificial, Thiel está acendendo um debate explosivo: será que o próximo grande avanço tecnológico vai salvar a humanidade — ou nos levar direto ao Armageddon?
“ChatGPT, quais ações devo comprar?”; Reuters mostra IA fomentando ascensão dos analistas-robô
O mercado de assessoria de investimentos ganhou um novo concorrente de peso nos últimos anos– com a chegada e gradual aperfeiçoamento de modelos de inteligência artificial, 10% dos investidores de varejo já usam “robôs” de IA como o ChatGPT para analisar ações e decidir sobre movimentos de compra e venda, revelou Reuters em reportagem nesta semana.
O mercado de investimentos auxiliados por IA, incluindo fintechs, bancos e gestores de recursos que usam chatbots para obter análises e conselhos, deve crescer para US$470,9 bilhões em receitas em 2029, dos já significativos US$61,75 bilhões movimentados no ano passado, um aumento de 600%, segundo a empresa de análise de dados Research e Markets.
Um investidor que trabalhou por décadas para o UBS, por exemplo, disse que passou a recorrer à IA porque não tem mais o “luxo” de contar com um terminal da Bloomberg, e porque outros serviços de dados para o mercado são “muito, muito caros”.
“Mesmo as ferramentas mais simples do ChatGPT podem fazer muito, e replicar várias tarefas que eu costumava fazer”, disse o profissional.
De acordo com pesquisa da corretora eToro citada pela Reuters, metade dos investidores de varejo diz que usaria ferramentas como ChatGPT e Cemini para escolher ações ou investimentos, enquanto 13% dizem que já os utilizam. O levantamento ouviu 11 mil pequenos investidores ao redor do mundo.
No Reino Unido, uma pesquisa da Finder mostrou números ainda mais impressionantes, com 40% dos respondentes dizendo que já usam bots de IA para obter conselhos financeiros.
Especialistas alertam, no entanto, que os modelos de IA frequentemente erram números e datas, e muitas vezes se baseiam demais em narrativas pré-estabelecidas ou fatos passados. “Modelos de IA podem ser brilhantes. O risco vem quando as pessoas tratam modelos genéricos como ChatGPT e Gemini como bolas de cristal”, disse Dan Moczulski, da eToro, que fez uma das pesquisas citadas na matéria.
Líderes empresariais se revoltam contra proposta de taxação de ricos na França, mostra Financial Times
A proposta de um novo imposto sobre fortunas superiores a €100 milhões, defendida pela esquerda francesa e apelidada de “imposto Zucman” em referência ao economista Gabriel Zucman, está gerando intensos debates na França, mostrou o Financial Times, citando posicionamento de líderes empresariais, como Bernard Arnault. O imposto, que incidiria anualmente a uma alíquota mínima de 2% sobre todos os ativos, incluindo empresas, ações e ganhos não realizados, é visto pelos socialistas como uma solução para reduzir o déficit público, projetado para alcançar 5,4% do PIB até o final de 2025.
A medida é apresentada como uma alternativa a cortes de gastos, mas enfrenta forte resistência de líderes empresariais, que a classificam como “insana” e “comunista”, argumentando que ela ameaça a economia liberal e a inovação. A proposta coloca em xeque a agenda pró-mercado do presidente Emmanuel Macron, que desde 2017 tem promovido reformas para transformar a França em uma “nação de startups”, incluindo a redução de impostos corporativos e a substituição de um imposto sobre patrimônio por outro mais restrito, focado em imóveis. Líderes como Arnault, da LVMH, e Éric Larchevêque, da Ledger, criticam o imposto Zucman, alegando que ele penalizaria desproporcionalmente fundadores de startups com valuations elevados pelo mercado, mas sem lucros ou dividendos, forçando vendas de ativos ou endividamento para pagar a tributação. Arnault, um dos homens mais ricos do mundo, acusou Zucman de ser um “ativista de extrema-esquerda” com uma proposta que visa “destruir a economia liberal”.
Defensores do imposto, por outro lado, estimam que ele poderia arrecadar até €15 bilhões por ano, aliviando a pressão por cortes de gastos. A popularidade da ideia é alta, com uma pesquisa recente indicando que 86% dos franceses apoiam a taxação dos super-ricos, em um país que abriga bilionários como Arnault e as famílias por trás de Hermès e L’Oréal. Protestos recentes, com meio milhão de pessoas nas ruas, reforçam a demanda por maior tributação dos mais ricos. No entanto, críticos apontam que o imposto pode ser inconstitucional, por afetar um grupo pequeno de cerca de 1.800 pessoas, e temem que ele desencoraje investimentos e a criação de empresas na França.
Diante da pressão política, com os votos socialistas sendo cruciais para a sobrevivência do novo premiê Sébastien Lecornu, alguns líderes empresariais já consideram inevitável alguma forma de imposto sobre riqueza, mas defendem uma versão mais moderada. Alternativas como a prorrogação de medidas temporárias, como taxações adicionais sobre altas rendas ou grandes empresas, estão em discussão. O debate expõe a tensão entre justiça fiscal e competitividade econômica, com implicações significativas para o futuro da política econômica francesa e sua atratividade para empreendedores e investidores.