Cautela antes do CPI prevalece; IPCA abaixo do esperado aumenta expectativa de redução da Selic

Governo federal segue na busca por receitas para cumprir os compromissos sinalizados na nova regra fiscal

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Por: Patrícia Lara

A cautela prevalece entre os investidores no exterior nesta quarta-feira antes da divulgação da inflação ao consumidor dos Estados Unidos de março, um dado que pode influenciar as decisões sobre taxa de juros pelo Federal Reserve, o banco central americano. A importância do alívio das pressões inflacionárias ficou evidente ontem no Brasil, quando as taxas de juros futuros e o dólar cederam, enquanto a Bolsa disparou, após o resultado abaixo do esperado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que alimentou a expectativa de redução da taxa básica de juros Selic antes do esperado.

O Índice de Preços ao Consumidor americano, que sai às 9h30, deve desacelerar pelo nono mês seguido em termos anuais, para 5,2%, após alta de 6% em fevereiro. Em contrapartida, o consenso de mercado mostra expectativa de aceleração do núcleo desse indicador, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, para 5,6%, ante 5,5% no mês anterior, diante dos custos com habitação, um grupo que inclui despesas como aluguel e seguro residencial até acomodação fora de casa, como em residências estudantis e hotéis. Na comparação mensal, o consenso aponta desaceleração do CPI para 0,2%, após alta de 0,4% em fevereiro.

No aguardo dos dados, os futuros de índices acionários de NY oscilam perto da estabilidade e as bolsas europeias sobem. O rendimento dos títulos da dívida americana avança, com os papéis de vencimento no curto prazo, mais sensíveis à política monetária, apontando alta mais forte. A taxa da Note de 1 ano avançava 15 pontos-base, a 4,842%, perto das 07h00. Ontem, o presidente da unidade do Federal Reserve em Filadélfia, Patrick Harker, disse que a sua percepção é de que o fim do ciclo de aumento das taxas de juros americanas pode estar próximo.

No mercado de derivativos, a aposta é de 74% de que haverá mais uma alta de 0,25 ponto percentual da taxa básica americana em maio, para a faixa entre 5% e 5,25%, ante uma probabilidade de 72,9% ontem e 43,3% há uma semana, segundo a ferramenta FedWatch, da Chicago Mercantile Exchange. Ao mesmo tempo, os derivativos precificam vários cortes a partir de julho até o fim do ano.

No câmbio, o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante uma cesta de divisas, opera em leve queda. Além do CPI, o mercado recebe hoje a ata do último encontro do Comitê Federal de Mercado Aberto, o FOMC, e o foco será na leitura das autoridades sobre o efeito da crise bancária na economia.

Nas commodities, o dia é de alta. Os contratos futuros do minério de ferro subiram 0,3%, para 788 iuanes, ou US$114,42 a tonelada, na Bolsa chinesa de Dalian, com o suporte de um dado robusto de crédito no país asiático. Os novos empréstimos atingiram um recorde no primeiro trimestre para 10,6 trilhões de iuanes, o equivalente a US$1,54 trilhão, o que correspondeu a uma alta de 27% ante igual período de 2022, após o BC chinês reduzir o compulsório bancário para estimular o crédito. O contrato do barril de petróleo Brent também opera em leve alta.

Esta manhã é marcada por marcos importantes para algumas commodities agrícolas. O contrato futuro do açúcar atingiu máxima desde 2012 ao prolongar o rali para patamar acima de US$24,5 por libra-peso em abril, diante de preocupações com a oferta. O cacau futuro atingiu US$3 mil por tonelada, um nível não visto desde novembro de 2020. O movimento representa desdobramentos favoráveis para as exportações brasileiras, mas pode pesar no cenário prospectivo de inflação.

Em meio a ajustes das expectativas para alívio da Selic, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, cumpre agenda em Washington, que inclui encontro com investidores organizado pela XP e reuniões com ministros de Finanças e presidentes de BCs dos BRICS e do Grupo das 20 maiores economias, o G-20. Todos os eventos são fechados à imprensa.

Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua em deslocamento para a China.

Aqui, o governo federal segue na busca por receitas para cumprir os compromissos sinalizados no novo arcabouço fiscal. A Receita Federal confirmou ontem que vai acabar com a regra que isenta de imposto as remessas internacionais com valor abaixo de US$50, cerca de R$250, para pessoas físicas, segundo os jornais. De acordo com o governo, o benefício tem sido usado por empresas de forma fraudulenta para envio de produtos ao Brasil comprados pela internet. É uma notícia que pode favorecer o setor varejista doméstico que compete com gigantes asiáticas.

MERCADOS GLOBAIS

O futuro do petróleo Brent para entrega em junho avançava 0,33%, a US$85,89 o barril.

O contrato de ouro para entrega em junho subia 0,36%, a US$2.026 a onça-troy.

O Bitcoin cedia 0,62% nas últimas 24 horas, a US$30.150; o Ethereum recuava 1,03% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, ETF que replica as ações brasileiras no exterior, subia 0,87%, após avançar 5,30% ontem.

Os contratos de juros futuros na B3 podem estender o alívio, mas ficam a reboque da reação ao CPI dos EUA.

DESTAQUES

A Receita Federal divulgou ontem, em nota, que nunca houve isenção de US$50 para comércio eletrônico e que o benefício fiscal era só para envio de remessas de pessoa física para pessoa física. Segundo a Receita, o que está se propondo são ferramentas para viabilizar a efetiva fiscalização e exigência do tributo sobre empresas estrangeiras por meio de gestão de risco: obrigatoriedade de declarações completas e antecipadas da importação com multa em caso de subfaturamento ou dados incompletos ou incorretos. (Mover)

A Receita disse ainda que não haverá mais distinção de tratamento nas remessas por pessoas jurídica e físicas. Hoje, as remessas por pessoas físicas de bens com valores relevantes são absolutamente inexpressivas. Essa distinção só está servindo para fraudes generalizadas nas remessas, segundo nota da Receita. (Mover)

O presidente do Federal Reserve de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou ontem que o banco central americano precisa ser cauteloso na elevação de juros para conter a inflação no país, diante do recente estresse bancário vivenciado nos Estados Unidos. Segundo ele, a política monetária deve prezar pela “prudência e persistência” em momentos como este. (Agências)

O presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, afirmou ontem que a perspectiva de elevação dos juros apenas mais uma vez, em 25 pontos-base, é um ponto de partida útil, mas os rumos da política monetária do BC americano dependem de dados econômicos a serem divulgados. (Reuters)

O Twitter deixou de ser uma companhia independente, após se fundir com uma empresa chamada X Corp., gerando especulações entre agentes sobre os objetivos de Elon Musk com a plataforma. A informação provém de um documento apresentado a um tribunal da Califórnia na semana passada. Até o momento, é incerto o que a mudança significa para o Twitter. Musk sugeriu, no passado, que a compra da empresa seria um acelerador para a criação do “X”, conhecido como um “aplicativo de tudo”. (Bloomberg)

Incorporadoras selecionadas para participar do programa habitacional Pode Entrar, da prefeitura de São Paulo, como Direcional Engenharia e Tenda, têm informado a analistas que os empreendimentos viabilizados pela iniciativa devem ter margem líquida da ordem de 15%, enquanto a MRV estima margem líquida próxima de 12%, segundo uma fonte. (Scoop by Mover)

O Carrefour Brasil chegou a acordo para reduzir o preço de compra do grupo BIG em até R$1 bilhão, em contrapartida à quitação de determinadas obrigações. Como parte do acordo, o Carrefour recebeu R$350 milhões pelo ajuste ontem e deve receber mais R$550 milhões até maio de 2024. Na data final de pagamento, será calculada ainda uma parcela final e variável de até R$100 milhões. (Mover)

A Light pediu à Justiça a suspensão de algumas obrigações financeiras e a instauração de um procedimento de mediação para centralizar negociações com credores, dizendo temer um “efeito cascata”, com diversos pedidos de cobranças. A companhia, no entanto, garantiu que seguirá cumprindo compromissos no setor elétrico, para não comprometer a continuidade dos serviços de distribuição de energia no Rio de Janeiro. (Mover)