Na contramão do mercado

Bradesco prega ´serenidade´ e diz que alta de 50 pbs pelo Copom parece 'melhor escolha' no momento

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Brasília, 10/12/2024 – O Bradesco avaliou hoje que uma eventual alta de 50 pontos-base pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central na decisão de amanhã “parece a melhor escolha para lidar com o momento peculiar e com a incerteza”, em posição amplamente contrária ao consenso do mercado para a reunião do Copom desta semana, de aceleração do ritmo de alta da Selic a 75 ou 100 pontos-base.

“A serenidade, a persistência e a convergência gradual, ao ritmo de 50 b.p, ainda parecem a melhor escolha para lidar com o momento peculiar e com a incerteza que vivemos”, escreveram analistas do banco, liderados por Fernando Honorato. De acordo com o Bradesco, um eventual choque de juro, no momento atual, “apenas ampliará a volatilidade do PIB”.

Também na visão do banco, eventual aceleração do ritmo de alta do juro, no atual momento, poderá agravar o equilíbrio de riscos na economia, sem que haja ganhos substancial para a inflação, vis-à-vis à estratégia alternativa. Também de acordo com a instituição, uma aceleração do ritmo de alta não resolverá os problemas que trouxeram o país até aqui.

“As expectativas devem seguir desancoradas com as incertezas fiscais, que levarão alguns meses para serem dirimidas, a depender da intensidade dos ajustes do pente-fino e das eventuais modulações no Congresso da agenda de gastos ou do IRPF. Adicionalmente, não haverá ajustes nas expectativas enquanto não houver melhora na inflação corrente.”

Também segundo o Bradesco, o repasse esperado da depreciação ocorrida até o momento (no câmbio) “nem de perto demanda um aumento do juro real como o precificado na curva curta de juros”, que já tem precificado Selic em torno de 16%. Na visão do Bradesco, “não há nada” que a autoridade monetária possa fazer para impedir que a inflação dos próximos meses seja pressionada pelo repasse do câmbio, elevação de proteínas e pela deterioração das expectativas.

Honorato pontua no relatório que, sem apoio da política fiscal, as altas de juros recentes não têm contribuído para apreciação da taxa de câmbio. Desde setembro, o Copom retomou ciclo de aperto monetário, tendo elevado a taxa nominal em 75 pontos-base desde então, sem deter a desvalorização do real.

O call do Bradesco chama atenção, entre operadores, pela visão contrária perante agentes do mercado, que anteveem alta entre 75 a 100 pontos-base na decisão desta quarta, com boa parte do mercado migrando nas últimas horas para apostas em um movimento mais agressivo.

O Goldman Sachs, um dos que passou a projetar alta de 100 pbs, diz que um eventual aperto de menor magnitude, de 75 pbs, seria visto como “dovish”, ou mais leniente com a inflação. O banco estrangeiro entende que uma “forte resposta monetária é necessária” pelo Banco Central.

Em carta a cotistas referente ao mês de novembro, a Genoa Capital alertou que uma eventual alta de 100 pontos-base “sequer” deveria ser lida como um movimento “hawkish”.

Já o BTG revisitou call para a decisão de juros, passando a projetar alta de 100 pbs nesta quarta, ante projeção anterior de alta de 75 pbs. Segundo o banco, o colegiado lida com expectativas de inflação em claro processo de desancoragem, e a aceleração de alta (da Selic) é “reflexo” da visão de maior orçamento (de aperto monetário) para convergir a inflação à meta.

De outro lado, no governo, o vice-presidente Geraldo Alckmin defendeu, em entrevista publicada hoje pela Exame, que não adiantaria aumentar juros agora, o que iria só atrapalhar a economia. “É preciso aprimorar um pouco essa questão do controle inflacionário”, afirmou.