Bancos dificultam renovação de risco sacado para varejistas após Americanas, dizem fontes

Segundo fontes ouvidas pelo Scoop, decisões vêm após caso da Americanas

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Por: Bruna Narcizo e Artur Horta

Bancos têm dificultado a renovação das operações de risco sacado para varejistas brasileiras, depois que o escândalo da Americanas envolvendo a prática causou uma onda de receios sobre o setor, afirmaram fontes à Mover.

De acordo com esses interlocutores, empresas como Via e Marisa já receberam algumas negativas dos bancos. “Quando o banco corta essa linha, é como se as empresas tivessem que pagar os fornecedores à vista e perdem totalmente o giro”, disse uma das fontes, que pediram para que seus nomes fossem mantidos em sigilo.

O risco sacado, também chamado de “forfait”, funciona como uma antecipação de valores que os fornecedores de grandes empresas têm a receber. Geralmente os negócios são fechados com prazos de 30, 90 ou até 180 dias e os fornecedores podem optar por antecipar esse recebimento com os bancos, que passam a ser os credores das varejistas.

No balanço do quarto trimestre da Via, divulgado na semana passada, já é possível auferir uma diminuição no tipo de transação. A rubrica “fornecedores convênio” passou de R$1,33 bilhão para R$657,0 milhões. Já da rival Magazine Luiza, passou de R$ 4,46 bilhões para R$ 3,80 bilhões.

“Isso já vinha acontecendo com a Via porque é uma empresa mais frágil do ponto de vista operacional. No último balanço, por exemplo, é possível ver que as vendas não estão gerando caixa. O caixa apresentado vem de um acordo com o Bradesco e monetização fiscal”, disse a fonte.

Essa pessoa afirmou ainda que, após o caso das Americanas, todas as operações de renegociação de crédito estão mais duras. E existe o risco, inclusive, de que a Via tenha que apresentar um plano de reestruturação operacional para conseguir rolar suas dívidas.

A Via “tem uma dívida alta de curto prazo, geralmente eu diria que não teria problema em renegociar, mas agora não dá para afirmar isso”, disse a fonte. De acordo com a companhia, a dívida vincenda no segundo trimestre deste ano soma R$856,0 milhões.

Além dos bancos, fornecedores que também emprestam às varejistas “estão mais receosos em ceder crédito, de modo que tendem a forçar uma venda à vista maior”, disse à Mover o executivo especializado em varejo André Krizak.

Para analistas consultados pela Mover, a combinação de um mercado de crédito fechado e uma tendência de forçar vendas à vista por parte dos fornecedores pode impactar diretamente o caixa das companhias, uma vez que, sem acesso às linhas de financiamento, as empresas terão que desembolsar seus próprios recursos para adquirir mercadorias.

A divulgação dos últimos balanços trimestrais no setor mostrou a persistência de um cenário macroeconômico desafiador, em meio aos juros altos, maiores custos de financiamento e acirrada competição no e-commerce que, ainda segundo os analistas, devem trazer incertezas às varejistas ao longo de 2023.