Aperto de crédito permite ao BC antecipar queda de juros, diz BTG

O mundo enfrenta um ambiente de inflação mais elevada, o que abre espaço para que o BC flexibilize suas atuais metas de inflação

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Por: Luciano Costa

O momento de aperto no mercado de crédito do Brasil está mais forte do que se esperaria, mesmo em um ambiente de juros altos como o atual, o que irá favorecer o processo de redução da taxa básica de juros Selic pelo Banco Central, que pode começar em junho ou agosto, disse hoje o presidente do conselho do BTG Pactual, Andre Esteves.

“Neste momento, em que estão me pressionando para queda na taxa de juros, eu, ao deixar esse aperto creditício mais forte, naturalmente consigo antecipar minha queda de juros de maneira saudável”, afirmou Esteves, ao se colocar no papel de banqueiro central para responder perguntas durante evento promovido pelo BTG em São Paulo.

Para Esteves, o posicionamento do BC comandado por Roberto Campos Neto é “tecnicamente válido e tecnicamente correto”, mas deverá gerar “um pouco mais de ansiedade” no mercado antes do início da queda das taxas. A Selic está hoje em 13,75% ao ano.

Questionado sobre as polêmicas em torno da política monetária adotada pelo BC, alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de pessoas próximas do governo, como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que reclamam dos juros altos, Esteves disse lamentar que o tema tenha ganhado as páginas de política dos jornais.

“É bem-vindo o debate. Agora, quando pessoas tentam descer ao nível técnico para expressar opiniões políticas, não acho que seja a maneira mais construtiva de debater o tema”.

Para o chairman do BTG, é “inegável” que o mundo enfrenta um ambiente de inflação mais elevada, o que abre espaço para que o BC flexibilize suas atuais metas de inflação, que miram o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 3% em 2024.

“4% é mais correto que 3%, pelo menos para o curto prazo. Não acho que tenhamos que abandonar nossa meta de longo prazo, mas talvez construir uma ambição dentro de nossas metas. A meta continua sendo 3%, mas dado o ambiente internacional, vamos buscá-la em um período um pouco mais longo… vamos fazer 5%, 4%, 3%”, exemplificou.

Esteves defendeu, no entanto, que o governo siga vigilante quanto à inflação, uma vez que esse é um fenômeno que cria “pobreza e desigualdade”.

Sobre os planos do governo para uma reforma tributária, Esteves disse que essa é a medida estruturante mais difícil de ser aprovada, mas também afirmou que nunca viu condições tão favoráveis para isso, dado o apoio amplo à proposta hoje em discussão.