O megainvestidor Warren Buffett, chairman e CEO da Berkshire Hathaway, anunciou na tarde deste sábado que proporá ao conselho de administração da companhia a nomeação do vice-presidente, Greg Abel, como seu sucessor no comando da companhia até o fim de 2025. A decisão marca o fim de uma era para o conglomerado, que Buffett lidera desde 1965, transformando-o de uma modesta empresa têxtil em uma das maiores holdings do mundo, com um valor de mercado superior a US$1 trilhão.
O anúncio foi feito há pouco, durante o aguardado encontro anual de acionistas da Berkshire Hathaway, em Omaha, Nebraska, conhecido como o “Woodstock do Capitalismo”. A notícia foi recebida com uma ovação de pé do público, que aplaudiu calorosamente Buffett. Greg Abel, atual vice-presidente de operações não-seguradoras e CEO da Berkshire Hathaway Energy, sentado ao lado, também se levantou para cumprimentar o lendário investidor, visivelmente emocionado.
Buffett, de 94 anos, afirmou que permanecerá “por aí” como chairman e seguirá envolvido com a empresa, mas que Abel assumirá o comando executivo e terá maior influência em decisões estratégicas, incluindo aquisições. Ele destacou a confiança no sucessor, elogiando sua habilidade em alocação de capital e sua dedicação à cultura descentralizada da Berkshire.
TRAJETÓRIA E ASCENSÃO
Warren Buffett, conhecido como o “Oráculo de Omaha”, assumiu o controle da Berkshire Hathaway em 1965, quando adquiriu ações da então combalida empresa têxtil por US$7,50 cada. Sob sua liderança, a companhia se transformou em um conglomerado diversificado, com participações em setores como seguros (Geico), energia (Berkshire Hathaway Energy), transporte (BNSF Railway), varejo (See’s Candies) e investimentos em gigantes como Apple, Coca-Cola e American Express. Desde então, a Berkshire entregou um retorno anual composto de 19,8% aos acionistas, superando significativamente o índice S&P 500, com 10,2% no mesmo período.
Aos 94 anos, Buffett é uma das figuras mais respeitadas do mercado financeiro, com uma fortuna estimada em mais de US$130 bilhões, dos quais ele prometeu doar 99% para causas filantrópicas, principalmente por meio da Giving Pledge, iniciativa que criou com Bill Gates. Sua abordagem de investimento, baseada em valor e visão de longo prazo, tornou-se referência global.
O SUCESSOR
Greg Abel, de 62 anos, é um executivo discreto, mas com um histórico impressionante na Berkshire. Nascido em Edmonton, Canadá, Abel se formou em contabilidade pela Universidade de Alberta em 1984 e começou sua carreira na PricewaterhouseCoopers, antes de ingressar na CalEnergy, uma empresa de energia, em 1992. Ele chegou à Berkshire em 1999, quando a companhia adquiriu a MidAmerican Energy, onde Abel já ocupava a presidência. Em 2008, assumiu o cargo de CEO da MidAmerican, que mais tarde foi renomeada Berkshire Hathaway Energy (BHE). Sob sua liderança, a BHE cresceu para US$ 92 bilhões em ativos, com operações em energia eólica, solar, hidrelétrica, gás natural, carvão e nuclear.
Em 2018, Buffett promoveu Abel a vice-presidente de operações não-seguradoras, colocando-o à frente de mais de 90 empresas da Berkshire, incluindo ferrovias, manufatura e varejo, que geram cerca de US$ 150 bilhões em vendas anuais e empregam 250 mil pessoas. No mesmo ano, Abel foi indicado ao conselho de administração, consolidando sua posição como um dos principais candidatos à sucessão, ao lado de Ajit Jain, vice-presidente de operações de seguros. A escolha de Abel, confirmada oficialmente em 2021, foi influenciada por sua idade – mais de uma década mais jovem que Jain – e sua habilidade comprovada em negociações e alocação de capital.
Conhecido por sua inteligência aguçada e abordagem prática, Abel é descrito por colegas como “brilhante, gentil e acessível”. Apesar de suas responsabilidades globais, ele mantém uma vida pessoal reservada em Des Moines, Iowa, onde treina os times de hóquei, beisebol e futebol de seus filhos. Sua reputação como negociador astuto foi construída em aquisições bem-sucedidas, como a compra da AltaLink, uma empresa de transmissão de energia no Canadá, por US$2,7 bilhões em 2014.
SEM VENDER AÇÕES
Ao propor a troca de comando, Buffett enfatizou que não planeja vender suas ações da Berkshire, que representam 38,4% das ações com direito a voto e 15,1% do valor econômico da companhia. “A decisão de manter todas as ações é uma decisão econômica”, afirmou, expressando confiança na gestão futura de Abel. “A Berkshire será ainda melhor administrada após minha saída.”
A proposta de sucessão será submetida ao conselho da Berkshire, que inclui nomes como Ajit Jain, Howard Buffett (filho de Warren, cotado para ser o próximo chairman não-executivo) e Susan Buffett. A expectativa é que Abel assuma o cargo de CEO ainda em 2025, enquanto Buffett permanecerá como chairman, garantindo uma transição suave para o conglomerado que ele construiu ao longo de seis décadas.